Atrasado, Eu Tô Um Pouco Sim, Tô, Eu Acho, Só que Tem Que

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Capítulo 85: Atrasado, Eu Tô Um Pouco Sim, Tô, Eu Acho

Acordei naquela manhã com uma sensação estranha. O relógio marcava 8:30, e a escola começava às 9. O coração disparou e a mente, como um furacão, começou a se questionar: “O que eu vou fazer agora?” Levantei da cama em um pulo, mas a rotina parecia um labirinto, e cada passo que eu dava me deixava mais confuso.

Enquanto corria para me arrumar, não consegui evitar os pensamentos que atormentavam minha cabeça. A fama tinha seus lados bons, mas as cobranças e expectativas estavam começando a me consumir. Havia um peso em ser "Gabriel, o novo Mano Brown" que eu não estava preparado para carregar. O reconhecimento tinha me trazido um novo mundo, mas a pressão de ser um exemplo, uma voz para os que ainda estavam na luta, era pesada.

Cabei vestindo a camiseta amassada do dia anterior e joguei a primeira calça que encontrei. Na pressa, não percebi que as duas peças não combinavam. Mas, sinceramente, não me importei. O que importava era chegar à escola, colocar a cabeça no lugar e continuar a trabalhar na minha música. Ao olhar no espelho, vi que ainda era eu, um garoto da quebrada, tentando fazer sentido de tudo.

Saí de casa correndo, quase tropeçando nos próprios pés, enquanto a cidade acordava ao meu redor. O barulho do tráfego, o cheiro de pão quente na padaria da esquina, e a pressa das pessoas passando por mim me faziam lembrar de onde eu vinha. A vida na favela nunca foi fácil, e eu sabia que, mesmo agora, com as luzes da fama iluminando meu caminho, essa realidade nunca me abandonaria.

No caminho para a escola, recebi uma mensagem no celular. Era de um dos meus amigos da quebrada, perguntando se eu ainda estava na luta, se a fama tinha me mudado. Sorri, porque, no fundo, eu sabia que a resposta estava nas minhas letras. A fama podia tentar me mudar, mas a minha essência era inegociável. Respondi rapidamente, "Atrasado, eu tô um pouco sim, tô, eu acho. Mas a luta nunca acaba!"

Finalmente cheguei à escola e encontrei alguns dos meus colegas esperando do lado de fora. Eles riam e conversavam, mas percebi que, ao olhar para mim, havia uma expectativa. Fui recebido como um herói em um filme, mas a sensação não era tão gloriosa quanto eu imaginava. Eles queriam saber como era estar no centro das atenções, como era gravar com grandes nomes e se apresentar em palcos. Eu sabia que cada resposta que eu dava seria um reflexo não só da minha experiência, mas também da vida que muitos deles levavam.

Tentei manter a humildade, falando sobre as dificuldades que vieram com a fama e como era importante lembrar de onde eu vinha. No entanto, a conversa rapidamente se desviou para a superficialidade. “E o carro? E as festas? E as garotas?” Senti que o peso da expectativa estava se acumulando novamente, e a pressão para ser o "Gabriel dos sonhos" começou a me apertar.

Depois de algumas horas na escola, fui para casa pensando em como a vida parecia um ciclo. Entre a escola, a música e a luta pela sobrevivência, cada dia era um novo capítulo, uma nova história para contar. A fama não podia ser tudo. Ela tinha que servir a um propósito, e eu estava determinado a encontrar esse propósito. No fundo, sabia que era só um garoto da quebrada, tentando se encontrar em meio ao caos e às expectativas.

E assim, enquanto caminhava pelas ruas que me conheciam de verdade, fiz uma promessa a mim mesmo: não deixaria que a fama apagasse minha essência. As letras que escrevia e as histórias que contava precisavam permanecer autênticas, mesmo que isso significasse andar um pouco atrasado às vezes. Porque a verdade era que, por trás de cada sucesso, havia uma história real, uma luta que não podia ser esquecida.

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