Ginga e Fala Gíria; Gíria Não, Dialeto

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Capítulo 63: Ginga e Fala Gíria; Gíria Não, Dialeto

O sol batia forte nas ruas de São Paulo, mas a gente não tinha tempo pra reclamar do calor. Gabriel, já conhecido como o "novo Mano Brown", caminhava pelas vielas, com a cabeça erguida e um sorriso maroto no rosto. Ele sabia que o jogo tinha mudado, e o garoto que um dia só sonhava em ser alguém agora era a voz da periferia, o símbolo de uma geração que se recusa a se calar.

A cada esquina, as crianças olhavam pra ele como se fosse um herói. Elas imitam seus trejeitos, falas e até a maneira de andar. As palavras de Gabriel, carregadas de dialeto e gíria, reverberavam nos ouvidos delas. “Mó parada, tá ligado?” A ginga que ele tinha não era só uma dança, era um jeito de viver. Ele falava com a alma, e quem ouvia sentia que aquilo era verdadeiro.

Mas nem tudo eram flores. Havia quem olhasse com desdém, os olhinhos brancos cheios de preconceito, achando que ele não passava de mais um 'problemão'. E eles nem percebiam que a verdadeira ginga estava nas histórias que ele contava, na luta que ele representava. "Esse moleque tá chamando os outros pra sonhar", diziam uns pros outros, com a boca cheia de orgulho e raiva ao mesmo tempo.

Era na quebrada que ele se sentia em casa, onde as pessoas, mesmo com suas feridas, riam, choravam e se levantavam. Ele respirava fundo e falava: “Olha, mano, quem vem de baixo sabe como é. E se a gente não se unir, não vai pra frente. Não dá pra esquecer de onde veio, mas também não dá pra deixar que isso nos prenda.”

As palavras de Gabriel se espalhavam como fogo em palha seca. Os garotos e garotas nas esquinas começavam a repensar seu futuro, e até os mais velhos se viam refletidos na sua coragem. Ele se tornou um espelho, um farol em meio à escuridão que era a realidade deles. E mesmo que os ricos tentassem sufocá-los com seu jogo sujo, a verdade era que a resistência já estava enraizada no coração da favela.

Na mente de Gabriel, o sonho de ser um grande artista não era só dele; era de todos que vieram antes e de todos que ainda estavam por vir. Ele sabia que as gírias, os dialetos, tudo aquilo era a essência da sua cultura, a forma de expressar sua identidade. E ao invés de se envergonhar, ele batia no peito e dizia: “Eu sou isso, eu sou a voz da quebrada. E quem não quiser ouvir, que se dane!”

E assim, a cada passo que dava, Gabriel não apenas conquistava seu espaço; ele abria portas e janelas, mostrando que a favela era rica em cultura, em talento e, principalmente, em resistência. A ginga e a fala não eram apenas maneiras de se comunicar; eram armas de luta e afirmação. E ali, no meio do caos, ele era a esperança que se levantava.

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