Veja, Olha Outra Vez o Rosto na Multidão

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Capítulo 71: Veja, Olha Outra Vez o Rosto na Multidão

Era uma manhã qualquer, e a cidade acordava lentamente. O sol lutava para atravessar a densa camada de poluição que pairava sobre os prédios, enquanto eu caminhava pelas ruas conhecidas, meu coração pesado pela saudade que me consumia. A solidão se tornava mais intensa com cada passo, e a memória da minha mãe ecoava em minha mente.

“Veja, olhe outra vez o rosto na multidão”, eu pensava, tentando encontrar consolo em rostos familiares, mas tudo o que via eram estranhos. As pessoas passavam apressadas, cada uma presa em sua própria realidade, e eu me perguntava se alguém ali também sentia a dor que eu carregava.

A minha mãe sempre dizia que cada rosto na multidão tinha uma história, um peso, uma carga. “Olhe para além das aparências. Todo mundo carrega suas próprias batalhas”, ela me ensinou. Mas agora, sem ela, aquelas palavras pareciam ecos distantes em um mundo que não parava para ouvir.

Enquanto caminhava, os sons da cidade se misturavam: gritos de vendedores, motoristas buzinando, crianças rindo e correndo. Mas no fundo, tudo isso se tornava um pano de fundo para a busca por algo que eu não conseguia definir. A saudade dela era como um buraco no meu peito, algo que nunca seria preenchido.

Passei em frente àquela barraca de frutas onde ela costumava trabalhar, o lugar que sempre fora nosso lar. Lembrei das suas mãos calejadas, do sorriso que iluminava seu rosto enquanto vendia suas mercadorias e falava com os clientes. Ela era a rainha daquelas ruas, mas agora tudo isso parecia uma memória distante, quase um sonho que eu não queria esquecer.

As lembranças se acumulavam, e eu me vi parando, olhando para o vazio, como se esperasse que ela aparecesse a qualquer momento, com seu jeito carinhoso e firme. “Gabriel, meu filho, não deixe que a vida te derrube”, ela diria. Mas agora, em vez disso, o silêncio da cidade era opressivo.

Olhei para a multidão e, por um momento, vi o reflexo do seu rosto nas pessoas ao meu redor. A expressão dela, que sempre me trouxe segurança, se misturou com os rostos de estranhos. Era como se, de alguma forma, eu estivesse procurando por ela em cada esquina, em cada olhar que cruzava o meu.

“Veja, olha outra vez o rosto na multidão”, sussurrei para mim mesmo. No fundo, eu sabia que não havia ninguém como ela ali, mas a busca era uma forma de me manter conectado àquele amor que nunca morreria.

Com o tempo, percebi que a vida seguia seu curso, e eu precisava encontrar meu lugar nesse mundo caótico. As vozes ao meu redor se tornaram parte da minha nova realidade, uma nova história que eu estava começando a escrever, mesmo que as páginas estivessem manchadas pela dor da perda.

A cidade, com toda a sua dureza, era um microcosmos de vidas entrelaçadas, e naquele momento, percebi que minha história era apenas uma entre muitas. Mas o que me diferenciava era a força que herdei dela. Cada batalha, cada lágrima e cada sorriso que me lembrava dela eram os alicerces do homem que eu estava me tornando.

Na selva de pedra que era a cidade, mesmo com as dificuldades, havia beleza nas pequenas vitórias. E, enquanto caminhava pelas ruas, sabia que, assim como ela, eu também tinha uma história a contar. E essa história, moldada por amor, dor e luta, ainda estava longe de acabar.

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