Capítulo 68: Cola o Pôster do 2Pac Aí, Que Tal?
Gabriel estava em seu quarto, rodeado por pôsteres de ídolos que o inspiravam. Na parede, ao lado da cama, uma imagem enorme do 2Pac dominava o espaço, seu olhar penetrante e a expressão intensa parecendo desafiar o mundo. O rapper era mais do que um artista para Gabriel; ele era um símbolo de resistência e luta, alguém que havia superado adversidades e, ainda assim, fez sua voz ser ouvida. A música de 2Pac ressoava em seu coração como um hino, trazendo memórias de noites em que ele sonhava em se tornar um grande artista, em ser ouvido e respeitado.
Ele estava naqueles dias em que o passado parecia uma sombra, mas a força do presente o impulsionava para frente. Havia um novo projeto em mente, algo que poderia elevar sua voz e sua mensagem para além das fronteiras que a sociedade tentava impor. Decidiu que era hora de dar um passo maior e criar um espaço onde pudesse expressar tudo o que sentia, não apenas sobre sua vida, mas sobre a vida ao seu redor.
"Cola o pôster do 2Pac aí, que tal?" ele disse para si mesmo, enquanto pegava um rolo de fita adesiva e grudava a imagem ainda mais perto da janela, como se quisesse que todos pudessem ver sua admiração. Ele se lembrou das letras de 2Pac, que falavam sobre a luta, a dor e a esperança, e como isso se refletia em sua própria vida. Ele queria fazer algo que pudesse inspirar outros, como ele havia sido inspirado.
Depois de colar o pôster, Gabriel se sentou em sua mesa e começou a escrever. A caneta dançava no papel, as palavras fluindo como um rio caudaloso. Ele escrevia sobre a vida na favela, sobre os desafios enfrentados por sua comunidade e as injustiças que frequentemente passavam despercebidas. Ele queria capturar a essência de tudo que via, tudo que sentia. Queria que as pessoas soubessem que, por trás de cada rosto na favela, havia uma história, um sonho, uma luta.
"Os caras falam que o rap é só barulho, que a gente só fala de droga e violência. Mas eles não entendem. Não veem a beleza que existe no sofrimento, a força que vem da dor. Cada rima é uma ferida aberta, cada verso, um grito de resistência", escreveu, o fervor tomando conta de suas palavras. Ele se lembrou das conversas que teve com Ana Beatriz, e como ela parecia ter mudado desde que começou a se interessar por sua vida e seus desafios. "Ela quer se aproximar, mas será que realmente entende o que significa viver em um lugar como este?"
Assim que terminou o texto, ele decidiu que era hora de dar um passo adiante. Ele queria que sua história e as histórias de outros fossem ouvidas, não apenas através da música, mas também através da arte visual. Gabriel começou a planejar uma exposição, um evento que reunisse artistas da favela, onde todos pudessem mostrar suas criações - desde pinturas a músicas, até poesias e danças.
"Isso vai ser o que eu sempre sonhei. Uma plataforma para a nossa voz! Algo que faça o mundo ver que somos mais do que o que eles pensam. Vamos mostrar que a favela tem vida, tem arte, tem história", murmurou para si mesmo, sentindo a empolgação crescer dentro dele.
O dia da exposição chegou e a atmosfera estava eletrizante. O lugar estava repleto de jovens da comunidade, todos empolgados para compartilhar suas criações. Havia grafites coloridos cobrindo as paredes, fotografias que capturavam a vida nas ruas, e, claro, performances ao vivo com rimas que falavam sobre a verdade crua da favela.
Gabriel ficou em um canto, observando tudo com um sorriso no rosto. Ele viu Ana Beatriz se aproximar, sua expressão refletindo uma mistura de admiração e respeito. "Isso é incrível, Gabriel! Eu nunca tinha visto nada parecido. É como se todas as vozes estivessem unidas em um só grito."
"É isso que eu quero, Ana. Quero que as pessoas ouçam o que temos a dizer, que sintam o que sentimos. E, quem sabe, isso possa abrir os olhos de quem está lá fora, de quem acha que a favela é só crime e miséria", respondeu Gabriel, sua voz carregada de emoção.
E assim, com o pôster do 2Pac observando tudo, Gabriel percebeu que estava se aproximando de seu sonho. A luta não tinha sido em vão; ele havia encontrado seu caminho e, mais importante, um propósito. A conexão com os outros o tornava mais forte, e a arte que criavam juntos era um testemunho de sua resistência.
Naquele momento, Gabriel soube que sua voz poderia ecoar, não apenas nas ruas da favela, mas em cada canto onde existisse alguém disposto a ouvir. E enquanto a música pulsava ao fundo e as pessoas dançavam, ele sorriu, sabendo que a história da favela estava apenas começando a ser contada.
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Negro DRAMA
Historical Fiction"O Peso do Silêncio" é um romance visceral que mergulha nas profundezas da vida na periferia, inspirado no icônico "Negro Drama" dos Racionais MC's. A história acompanha Gabriel, um jovem negro que luta contra o sistema opressor que já o condenou de...