Internet, Videocassete, Os carro Loco

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Capítulo 84: Internet, Videocassete, Os Carro Loco

A internet havia mudado tudo. Quando eu era pequeno, o mundo parecia um lugar pequeno, limitado ao que eu via nas ruas da quebrada. Mas agora, com um celular na mão e a rede ao meu redor, as possibilidades pareciam infinitas. Era como se um novo universo tivesse se aberto para mim, um espaço onde minha voz podia ecoar além das quatro paredes que costumavam me aprisionar.

Foi nessa onda que minha vida começou a mudar. Lançar minhas letras nas redes sociais, gravar rimas com uma qualidade cada vez melhor e compartilhar com os amigos foi o primeiro passo. No começo, poucos me notaram. Mas, assim como uma semente que começa a brotar, a planta foi ganhando vida. As pessoas começaram a curtir, compartilhar e falar sobre mim. Eu não era mais apenas um garoto da favela; eu estava me tornando Gabriel, o novo Mano Brown.

Lembro de quando gravei meu primeiro vídeo. Era um freestyle improvisado, feito em um canto da minha casa, com um videcassete como câmera. A imagem era tremida, mas a mensagem era firme. Eu falava sobre a vida na favela, as lutas e as esperanças. As letras que eu escrevia estavam carregadas de dor, mas também de força. Eu sentia que o que eu estava dizendo não era só sobre mim, mas sobre todos nós, sobre a realidade que muitos viviam.

O vídeo viralizou. A partir dali, convites começaram a aparecer. O telefone não parava de tocar, as mensagens pipocavam. Fui chamado para entrevistas, para shows e para eventos em que nunca imaginei estar. Meus versos começaram a ganhar vida própria, ecoando em todo lugar, e a audiência se multiplicava.

Foi em uma dessas entrevistas que ouvi alguém me chamar de "o novo Mano Brown". A comparação era pesada, mas não pude deixar de sentir uma onda de orgulho. O ícone do rap brasileiro, que tinha lutado para abrir as portas da música para muitos de nós, agora estava, de alguma forma, ligado ao meu nome. A responsabilidade crescia, e com ela a vontade de ser uma voz autêntica, que falava sobre as realidades que muitos ainda enfrentavam.

Os Carro Loco

No meio dessa transformação, a imagem de "Gabriel, o novo Mano Brown" se solidificava, e o estilo que eu trazia começou a chamar atenção. Meus amigos e eu, na quebrada, começamos a ver um mundo novo. Os carros que antes eram apenas sonhos para nós, agora pareciam mais acessíveis.

Tive a oportunidade de andar com um grupo de caras que tinham suas vidas mudadas pelo rap, e eles me apresentaram ao mundo dos “carro loco”. Eram modelos que pareciam sair dos filmes, com rodinhas cromadas, som potente e detalhes que deixavam qualquer um babando. Os caras eram verdadeiros artistas sobre rodas, e eu estava me sentindo parte daquela cena.

"Olha só, o carro é como a música, tem que ter identidade," um dos caras comentou, enquanto ajustava a música que tocava em alto volume. "O som é nossa assinatura, e o carro é nossa extensão."

Naquela época, o glamour do rap se manifestava em tudo, desde os microfones até os carros que dirigíamos. Eu não queria apenas fazer música; queria que minha presença fosse sentida em todos os lugares. Queria ser um símbolo de esperança, de luta e de superação. Assim, a imagem de "Gabriel, o novo Mano Brown" se firmava na mente das pessoas.

A fama começou a trazer desafios. Cada passo adiante me aproximava de um mundo novo, mas também de armadilhas que eu tinha que evitar. A tentação de mergulhar no superficial era constante, e eu sabia que precisava ficar fiel ao que realmente importava. As letras que escrevia não eram apenas versos; eram um reflexo de quem eu era, e não ia deixar que a fama ofuscasse isso.

Como o Mano, eu queria fazer mais do que apenas entreter. Queria fazer pensar, provocar discussões e, acima de tudo, dar voz a quem não tinha. A fama era um meio, não um fim.

E assim, enquanto dirigia por ruas que um dia pareciam inalcançáveis, com a batida do rap ecoando pela cidade e os sonhos se realizando, sabia que estava apenas começando. O caminho à frente era incerto, mas a certeza de que eu tinha uma história para contar, uma vida para viver e um legado para construir me dava força. O mundo podia conhecer "Gabriel, o novo Mano Brown", mas dentro de mim, eu sabia que ainda havia muito a ser revelado.

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