O Tic-tac Não Espera, Veja o Ponteiro

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Capítulo 54: O Tic-Tac Não Espera, Veja o Ponteiro

Gabriel:

Naquela tarde, o sol se punha no horizonte, tingindo o céu de laranja e roxo, mas na favela, a atmosfera estava carregada de tensão. “O tic-tac não espera, veja o ponteiro,” eu murmurei, observando o movimento ao meu redor. O tempo parecia estar contra nós, e a pressão da vida nas ruas pesava em meus ombros. O dia havia começado com a esperança de novas ideias e um futuro melhor, mas a realidade da favela é traiçoeira, e a serenidade pode se transformar em caos em um piscar de olhos.

Eu estava com Luiz e alguns amigos na esquina, falando sobre nossas aspirações e o que podíamos fazer para mudar o nosso cenário. “Se a gente fizer um evento, um sarau, pra mostrar nosso talento e dar voz pra quem não tem…” eu dizia, tentando criar uma imagem de esperança. Mas a alegria da conversa foi interrompida por um som familiar que ecoava pela favela: sirenes. O pânico rapidamente tomou conta do nosso grupo.

“Mano, polícia!” Luiz gritou, e o coração disparou em meu peito. O medo de ser pego pela polícia não era novidade, mas era algo que eu nunca deixava de temer. A adrenalina subiu e, sem pensar, começamos a correr. A favela tinha muitas vielas, e cada uma delas poderia ser a nossa salvação ou a nossa prisão.

Eu olhei para trás e vi os carros da polícia se aproximando, suas luzes azuis e vermelhas piscando como um aviso do que estava por vir. “O tic-tac não espera, cara!” Eu berrei, enquanto corríamos pelas ruas, sentindo a respiração pesada e o desespero aumentando. O pensamento de ser pego estava lá, mas eu não podia permitir que o medo me dominasse.

As ruas eram uma mistura de memórias e adrenalina. Cada esquina que virávamos parecia uma lembrança de amigos que foram perdidos em confrontos ou que estavam encarcerados por crimes que não cometeram. “A gente não pode deixar isso nos deter, Luiz!” eu gritei, tentando acalmar a mim mesmo, enquanto a corrida se tornava uma luta pela sobrevivência.

Eu não sabia onde ir, mas a intuição me guiou até um beco estreito. O cheiro de lixo e a umidade eram sufocantes, mas era um lugar onde a polícia raramente entrava. “Rápido, entra aqui!” eu disse, puxando Luiz para dentro. O grupo se espremeu entre as paredes, tentando se manter escondido enquanto o som das sirenes se aproximava. O silêncio era ensurdecedor, quebrado apenas pelo som das nossas respirações apressadas.

“Se a gente for pego agora, tudo que estamos tentando fazer vai por água abaixo,” Luiz disse, a preocupação estampada em seu rosto. Eu sabia disso. As consequências de um encontro com a polícia poderiam ser fatais, não só para mim, mas para todos nós. Eu olhei para cada um deles, os rostos de amigos que eram mais que irmãos. “Não vamos deixar isso acontecer, não hoje,” eu prometi.

As sirenes passaram, e a tensão começou a aliviar, mas o alívio foi breve. Ouvimos passos na entrada do beco, e o coração disparou novamente. “Eles tão vindo!” alguém sussurrou. A adrenalina tomou conta, e eu procurei por uma saída. Olhei para uma grade que levava ao fundo de um antigo armazém. “Vamos, é agora ou nunca!” eu disse, forçando a grade e me espremendo por ela.

Conseguimos sair do beco, mas a liberdade estava longe. A polícia estava na nossa cola. Enquanto corríamos, pensamentos se misturavam em minha mente: “O que aconteceria se fôssemos pegos? O que diria minha mãe? E se tudo que construímos até agora se desmoronasse?”

Corremos por mais alguns minutos, até que, em um instante de desespero, vi uma luz de lanterna atrás de nós. “Pula!” eu gritei, me jogando em um pequeno terreno baldio. Os outros me seguiram, e caímos no chão, tentando nos esconder na escuridão. Mas a polícia não desistiria fácil, e a cada segundo que passava, o tic-tac do tempo se tornava mais insuportável.

As vozes dos policiais ecoavam ao longe. “Por aqui! Eu vi eles entrarem!” Uma sensação de desamparo tomou conta de mim. Eu não era um criminoso, só um jovem tentando fazer algo de bom. A realidade de viver na favela era que cada passo podia ser o último, e o preço a pagar era alto demais.

“Mano, o que a gente faz agora?” Luiz sussurrou, a incerteza em sua voz. O medo se misturava com a raiva. “Se eles pegarem a gente, tudo que sonhamos vai por água abaixo,” eu respondi, a frustração transparecendo. “Não podemos deixar isso acontecer. Temos que lutar, mesmo que isso signifique correr mais.”

E naquele momento, percebi que, independentemente do que acontecesse, nós éramos mais do que as circunstâncias que nos cercavam. “Falo pro mano que não morra e também não mate, mas se eles vierem pra cima da gente, a gente vai lutar pela nossa liberdade,” eu declarei, a determinação queimando dentro de mim.

O tic-tac do tempo não esperava, mas nós ainda tínhamos uma chance. Enquanto as luzes se aproximavam, nós éramos a resistência, e nada, nem mesmo a polícia, poderia nos tirar isso.

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