Negro Drama

0 0 0
                                    

Capítulo 60: Negro Drama

O sol se punha no horizonte, tingindo o céu de um laranja profundo, mas na favela, a luz do dia não trazia conforto. Os gritos e risos das crianças foram substituídos pelo som dos motores de carros que passavam apressados, como se fugindo de algo. A realidade era crua, e ali, a vida pulsava de maneira visceral. O drama negro da periferia se desenrolava em cada esquina, em cada olhar perdido.

Gabriel e seus amigos estavam reunidos na laje, discutindo sobre as últimas notícias. A conversa era cheia de referências à violência que permeava suas vidas. “Mano, você viu o que rolou na comunidade vizinha?” perguntou Luanzinho, enquanto a fumaça da erva se dissipava no ar quente da noite. “Os caras chegaram metendo bala sem dó.”

“E o que a polícia fez? NADA!” respondeu Guto, indignado. “Só aparecem pra contar história depois que o maluco já tá no chão.” A frustração era palpável. Eles não eram apenas testemunhas; eram parte de um ciclo vicioso que parecia não ter fim. O negro drama se manifestava nas vidas deles, nas esperanças que se desvaneciam e nos sonhos que, muitas vezes, pareciam inalcançáveis.

Enquanto a conversa seguia, Gabriel observava a movimentação da favela. As luzes amareladas das casas contrastavam com a escuridão crescente, e ele sentia o peso do lugar onde havia crescido. Cada vez que ouvia um tiro distante, seu coração disparava, uma batida constante que lembrava que a vida era uma constante luta pela sobrevivência. “Aqui, a gente não tem escolha,” pensou, lembrando das vezes que viu amigos sendo levados pelo caminho da violência. “Ou você se adapta, ou se torna mais uma estatística.”

Ele olhou para seus amigos, todos com histórias de vida marcadas por dor e luta. “Mas a gente não pode deixar isso definir a gente,” ele disse, tentando trazer uma luz ao papo. “Tem que ter algo mais além desse drama, além das balas e da miséria.”

“E o que você propõe, Gabriel?” perguntou Mayra, a única mina do grupo, com um olhar de curiosidade. “Escrever um livro e achar que isso vai mudar tudo?” A ironia em sua voz não era sem razão; todos ali conheciam as dificuldades de sair do ciclo vicioso.

“Sim, escrever, mas também lutar! Mostrar que somos mais do que esse estereótipo,” respondeu Gabriel, sentindo a adrenalina correr em suas veias. “Se a gente não mostrar nossas vozes, eles vão continuar contando a nossa história por nós. E a história deles nunca é a nossa verdade.”

Ouvindo suas palavras, o grupo caiu em um silêncio reflexivo. Gabriel estava certo. As histórias da favela eram contadas de um jeito que apagava suas lutas e dores. Ele pensou em tudo que tinha vivido, nas frustrações e nos traumas, e decidiu que não seria mais um passivo em sua própria vida.

Naquela noite, sob o manto estrelado, o negro drama da favela pulsava como um coração ferido, mas também como um espírito indomável. Eles estavam prontos para enfrentar as adversidades, mesmo que o caminho fosse árduo. A vida poderia ser cheia de sombras, mas era nas sombras que as estrelas mais brilhavam, e Gabriel decidiu que ele e seus amigos não seriam mais invisíveis.

O drama da vida na periferia era real, mas também era a semente de uma revolução silenciosa que começava a germinar no coração de quem sonhava em quebrar as correntes. “A gente é mais do que esse drama, e vamos mostrar isso,” pensou Gabriel, enquanto olhava para a cidade iluminada ao longe, sentindo que, apesar de tudo, ainda havia esperança.

Negro DRAMAOnde histórias criam vida. Descubra agora