No Clima Quente, a Minha Gente Sua Frio

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Capítulo 58: No Clima Quente, a Minha Gente Sua Frio

O sol ardia no céu, um forno que parecia querer derreter tudo ao seu redor. Enquanto o calor sufocante se instalava nas ruas da favela, eu via a minha gente lutando contra essa realidade. No meio do caos, o suor escorria pelo rosto, misturando-se com a poeira que levantava de cada passo. Para muitos, o clima quente trazia consigo uma sensação de opressão, mas para nós, a luta era ainda mais fria.

As paredes desgastadas das casas eram testemunhas silenciosas da nossa batalha diária. Cada esquina trazia histórias de resistência e dor, enquanto os olhares dos meus irmãos e irmãs se cruzavam, compartilhando uma compreensão silenciosa. “No clima quente, a minha gente sua frio,” eu pensava, percebendo que a temperatura não era apenas uma questão meteorológica; era uma metáfora da vida que levávamos.

O calor nos fazia suar, mas o frio que sentíamos na alma era mais intenso. Era o frio da indiferença da sociedade, que ignorava a nossa existência e a nossa luta. A pobreza e a desigualdade se tornaram o nosso cotidiano, e o clima quente não era suficiente para derreter as barreiras que nos separavam dos que viviam em bolhas de conforto.

Vi um grupo de jovens jogando bola no meio da rua, rindo e fazendo graça, mas eu sabia que por trás das risadas havia histórias tristes. Cada um deles carregava um fardo invisível, uma luta silenciosa que não era vista pelos olhos de quem passava. Eles eram como nós, tentando encontrar alegria em meio ao caos, mas o frio que sentiam em seus corações era constante.

Eu me lembrei de Luiz, que estava se recuperando, mas mesmo assim, não podia escapar das garras da realidade. Ele estava ali, sentado, vendo a vida passar diante de seus olhos, e o calor do sol não conseguia aquecer a tristeza que o envolvia. “É uma batalha que nunca acaba,” pensei, enquanto observava a cena.

O comércio local estava em pleno funcionamento, as vozes altas das vendedoras anunciando suas mercadorias. O cheiro de comida se misturava ao ar quente, mas eu sabia que nem todos podiam se dar ao luxo de comer bem todos os dias. O que parecia um dia comum para alguns era um dia de sobrevivência para muitos. “Enquanto uns suam de calor, outros sofrem com a falta de alimento,” eu refleti, sentindo o peso da desigualdade.

Caminhei em direção ao centro da favela, onde as casas se amontoavam, uma sobre a outra, como se quisessem se proteger do mundo lá fora. A vida era dura ali, e o calor que queimava nossa pele era apenas um reflexo da luta interna que travávamos. “Se a vida lá fora é um mar de rosas, a gente tá plantando espinhos,” eu disse para mim mesmo, lembrando que a beleza da vida na favela estava nas pequenas vitórias e nas amizades que formávamos.

O calor escaldante parecia um lembrete constante de que a vida não era fácil, e que a luta estava longe de terminar. Mas mesmo no calor sufocante, havia espaço para a resistência. E, no fundo, sabíamos que éramos mais fortes juntos, que poderíamos enfrentar qualquer tempestade.

“No clima quente, a minha gente sua frio, mas a luta nunca vai parar,” pensei, determinado a seguir em frente, a buscar um futuro melhor, mesmo que o caminho fosse difícil. E enquanto o sol queimava nossos rostos, éramos guerreiros, lutando por um lugar ao sol, mesmo que a vida quisesse nos empurrar para a sombra.

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