Capítulo: O Gueto Nunca Sai de Você
Morô, irmão? A real é essa: a gente pode até trocar o cenário, mudar a rota, entrar em novos caminhos, mas o gueto tá dentro da gente, na essência. É como uma marca, um legado que ninguém pode apagar. Cada riso, cada lágrima, cada batalha que a gente enfrentou na quebrada tá guardada aqui dentro, na memória e no coração.
Quando eu olho pra trás, lembro das lutas, das conquistas e também das perdas. Tanta gente que ficou pelo caminho, tanta gente que não teve a mesma sorte que eu. A vida na favela é dura, e não tem como escapar disso. Cada esquina tem uma história, cada bar tem um eco de risadas e tragédias. O gueto é um lugar de resistência, de força, de união, mas também é um lugar que te ensina a ser desconfiado, a levantar a cabeça e a andar firme, mesmo quando a poeira bate nos olhos.
Enquanto eu sigo aqui fora, em festas e eventos, cercado por pessoas que não sabem o que é acordar com o barulho das sirenes, eu carrego essa realidade comigo. Não é só sobre o que conquistei, mas sobre quem eu sou. O gueto me moldou, me deu visão e me fez mais forte. E, mesmo que eu esteja com os pés em outro lugar, a cabeça e o coração continuam pulsando na favela.
E eu vejo que essa realidade não é só minha. É de milhares de manos e minas que tão na luta, que tão correndo atrás dos sonhos, enfrentando desafios. O gueto é um fardo, mas também é uma honra. É saber que, mesmo longe, a gente não pode esquecer de onde veio e quem somos. Não dá pra olhar pra trás e não sentir a dor e o orgulho que vem junto. E por isso, sempre que alguém me pergunta de onde eu sou, eu digo: sou da quebrada, sou do gueto, e isso não muda.
O gueto nunca sai de você. Morô, irmão? É uma verdade que vai além do que as palavras podem dizer. É um sentimento que se carrega pra sempre, um laço que une todos nós que passamos por essas ruas. A vida pode mudar, as oportunidades podem surgir, mas essa conexão, essa raiz, é eterna. E quando a gente se encontra, é como se o tempo não tivesse passado. É a cumplicidade, o entendimento, a troca de experiências e histórias. É o que nos faz lembrar que, por mais que a gente cresça, por mais que o mundo mude, a essência do gueto sempre vai estar na gente.
E isso é poder, irmão. É saber que, mesmo em um mundo que tenta nos silenciar, a nossa voz é forte e verdadeira. A gente é o reflexo da luta e da resiliência, e isso nunca vai mudar. É por isso que a gente continua, sempre firmes, sempre lembrando que o gueto é parte de quem somos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Negro DRAMA
Ficção Histórica"O Peso do Silêncio" é um romance visceral que mergulha nas profundezas da vida na periferia, inspirado no icônico "Negro Drama" dos Racionais MC's. A história acompanha Gabriel, um jovem negro que luta contra o sistema opressor que já o condenou de...