Poeta

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Gabriel:

A favela é um palco de muitas vozes, e entre elas, a minha se destaca como a de um poeta. Palavras são armas, versos são escudos, e cada rima que brota do meu coração é uma flecha disparada contra a opressão. “Eu sou poeta,” eu dizia, enquanto observava a vida pulsar ao meu redor, cada esquina uma nova história esperando para ser contada.

As noites eram minhas musas. Era sob o céu estrelado que eu me sentia mais livre, mais inspirado. As estrelas brilhavam como sonhos que ainda não haviam sido alcançados. Com um caderno amassado na mão e uma caneta que nunca parava de se mover, eu buscava capturar as emoções que transbordavam dentro de mim. A poesia era minha forma de resistência, um grito de liberdade em meio ao caos.

“Na quebrada, cada um tem sua voz,
E a minha é feita de luta, de dor e de escolhas.
Eu escrevo sobre os sonhos que a vida me tirou,
E sobre as promessas que o futuro me deixou.”

A cada verso, eu me sentia mais próximo de minha essência. Eu falava sobre as feridas que não cicatrizavam, sobre os amores perdidos e as esperanças que teimavam em sobreviver. A vida na favela é uma montanha-russa, cheia de altos e baixos, e eu era o cronista dessa jornada.

“Sou poeta das ruas, da resistência e da dor,
Nos becos e vielas, eu falo com amor.
As histórias que escuto, as vidas que observo,
Elas me moldam, me fazem um homem terno.”

Certa noite, enquanto eu escrevia sob a luz de um poste, a Ana, uma amiga da comunidade, se aproximou. “Gabriel, o que você tá escrevendo?” Ela perguntou, curiosa. Eu sorri e compartilhei um dos meus poemas com ela.

“Eu escrevo sobre os guerreiros, sobre a nossa luta,
Sobre a esperança que brilha mesmo na bruma.
Sobre as mães que choram, os filhos que vão,
E sobre como a vida é mais que uma prisão.”

Ana ficou em silêncio, absorvendo cada palavra. “Você tem um talento incrível, mano. Suas palavras têm poder. Devíamos ler isso pra galera.” Ela tinha razão. A poesia é mais do que palavras em um papel; é uma forma de conectar corações, de unir a comunidade em torno de nossas verdades.

Assim, decidimos organizar uma roda de poesia na praça. Chamei os amigos, e a ideia tomou forma rapidamente. “Vamos nos reunir, compartilhar nossas histórias, nossas lutas e nossos sonhos. Cada um de nós é um poeta, mesmo que não saiba,” eu disse. A praça logo se encheu de vozes e sorrisos, e a energia era contagiante.

Naquele círculo, cada um tinha seu momento de brilhar. Alguns falavam sobre o amor que sentiam por suas famílias, outros sobre as lutas diárias. E eu, como sempre, deixava a poesia fluir. “O amor é a luz que nos guia na escuridão,
E a luta é a chama que queima em meu coração.
Não somos apenas sobreviventes, somos criadores,
Escrevendo a nossa história, juntos, como sonhadores.”

As palavras dançavam no ar, e a plateia se envolvia em cada verso. A poesia criava um laço entre nós, fortalecendo nossa união. A cada rima, a cada aplauso, a certeza de que éramos mais que uma comunidade; éramos uma família, um exército de poetas lutando por um futuro melhor.

Quando a noite chegou ao fim, senti uma sensação de paz. Eu era um poeta, mas também era um guerrilheiro, um lutador pela verdade e pela justiça. E, enquanto as estrelas brilhavam acima de nós, percebi que, na quebrada, a poesia e a luta caminhavam lado a lado. Era a única maneira de viver plenamente: vestindo a pele do poeta e do guerreiro.

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