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Capítulo 76: Mãe Solteira de um Promissor Vagabundo
A vida na favela é uma luta constante, e eu cresci cercado por desafios que pareciam intransponíveis. Minha mãe, uma mulher forte e determinada, lutou para me criar sozinha. A ausência do meu pai sempre foi uma sombra em nossa vida, mas ela nunca deixou que isso nos derrubasse. Lembro-me de como ela fazia o possível e o impossível para garantir que eu tivesse o que precisava.
Ela tinha sonhos para mim, sonhos que não incluíam o crime e a violência que dominavam as ruas. Mas a vida não foi gentil, e quando ela se foi, um pedaço de mim também se perdeu. O que eu tinha era a memória dela e a promessa de que eu não me tornaria mais um na lista de vidas perdidas para a criminalidade.
Perdi minha mãe em um momento de fraqueza do mundo. A gente não estava preparada para lidar com a dor da perda, e desde então, eu me vi jogado em um abismo. A vida se tornou um campo de batalha, e eu, um soldado sem líder, lutando contra um inimigo invisível. A saudade era uma dor constante, e as lembranças dela vinham em ondas, trazendo uma mistura de amor e desespero.
Depois que ela se foi, a pressão aumentou. O desejo de ser alguém na vida cresceu, mas as opções eram limitadas. A favela estava repleta de tentativas de escapar da realidade: drogas, crimes e violência. Enquanto os amigos se envolviam nesse mundo, eu me encontrava perdido entre o sonho e a realidade. O que eu queria mesmo era ser um Neymar Jr., mas a tentação de uma vida fácil me seguia, sussurrando para eu desistir dos sonhos e abraçar o que estava ao meu redor.
Naquela noite específica, lembro de estar em casa, pensando no que fazer. A ausência da minha mãe pesava sobre mim. Eu sentia a necessidade de provar a ela que era mais do que um promissor vagabundo. Com sua imagem em mente, eu queria fazer tudo certo, mas a realidade sempre estava lá, tentando puxar meu pé para baixo.
Enquanto o resto da turma se preparava para um “trabalho” no centro, eu hesitei. Uma parte de mim queria ir, queria a adrenalina, queria o dinheiro fácil. Mas a lembrança do sorriso da minha mãe, a esperança que ela depositou em mim, me segurava. O peso da culpa e da responsabilidade não me deixava ir. Afinal, não era apenas a minha vida que estava em jogo; eu também carregava o legado dela.
Quando finalmente decidi ficar, a sensação de alívio e dor se misturaram. Sabia que o caminho que escolhi não era fácil, mas era o único que poderia honrar a memória da minha mãe. Eu queria ser alguém que ela se orgulhasse, um filho que não se deixasse levar pelas dificuldades.
A vida seguiu, e mesmo sem ela, eu percebia que a luta não terminava. Ao invés de me deixar consumir pela tristeza, eu me dediquei ao futebol e à música, buscando maneiras de me expressar e, quem sabe, transformar a realidade ao meu redor. A favela era dura, mas eu também tinha a força da minha mãe dentro de mim, e ela sempre seria minha inspiração.
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Negro DRAMA
Historical Fiction"O Peso do Silêncio" é um romance visceral que mergulha nas profundezas da vida na periferia, inspirado no icônico "Negro Drama" dos Racionais MC's. A história acompanha Gabriel, um jovem negro que luta contra o sistema opressor que já o condenou de...