Me ver pobre, preso ou morto já é cultural

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Maria sentou-se na laje da casa, olhando para as estrelas que brilhavam sobre a favela, mas sua mente estava longe dali. O céu era bonito, mas a realidade que a cercava era sombria. Para muitos, o futuro era uma repetição dos erros do passado, e a sociedade parecia ter se conformado com isso. Me ver pobre, preso ou morto já é cultural, pensou, enquanto uma onda de frustração a envolvia.

A cultura da violência estava entranhada nas paredes da comunidade. Desde pequenos, meninos e meninas eram ensinados, direta ou indiretamente, a aceitar que suas vidas tinham limites impostos por uma sociedade que não se importava. Ouvia-se histórias de jovens que não passavam da adolescência antes de serem tragados por um sistema que não deixava espaço para sonhos. As ruas contavam as histórias dos que se foram, e aquelas que sobraram eram deixadas para lutar contra um destino cruel.

Richard, sua alma perdida, foi apenas mais um na estatística. Um jovem com tanto potencial, mas que se viu preso em um ciclo que não o deixava escapar. Para muitos, a vida na favela era uma sentença de morte. O medo da polícia, o medo do tráfico, o medo de não conseguir sair daquela realidade se tornava parte da rotina. A morte não era um evento isolado, mas uma expectativa, um ciclo que se repetia incessantemente.

Maria pensava nos amigos que perdera, nos que ainda lutavam e naqueles que já haviam se conformado. "O que eu faço para mudar isso?", ela se perguntava. O sistema estava estruturado para manter a desigualdade, e as vozes que tentavam gritar por mudança eram abafadas pelo barulho do conformismo. O que deveria ser uma luta por direitos básicos se tornava uma batalha pessoal de sobrevivência.

Na escola, ela ouvira a história de um garoto que sonhava em ser médico. Ele era brilhante, tinha notas altas, mas a família não tinha dinheiro para sustentá-lo. Os professores viam potencial nele, mas, assim como tantos, ele foi tragado pela pressão e pela cultura que dizia que o sucesso não era para pessoas como ele. E assim, ele se tornou mais uma vítima da realidade, mais um jovem que desistiu de sonhar.

Me ver pobre, preso ou morto já é cultural. Essa frase ecoava na cabeça de Maria. Ela se lembrou de um rap que ouvira uma vez, que falava sobre como as correntes invisíveis da pobreza e da violência prendiam os sonhos de tantos. E essa era a verdade. A cultura da aceitação da tragédia se tornava uma armadilha que limitava a esperança e fazia com que muitos se sentissem impotentes diante do destino.

Mas Maria não queria se conformar. Ela não queria aceitar que seu futuro estava predestinado pela cor da sua pele ou pela localização de sua casa. Havia uma chama dentro dela, um desejo de lutar e mudar a narrativa. Ela queria escrever sua própria história, e não permitir que a sociedade definisse seu valor. A cultura da tragédia poderia ser forte, mas a cultura da resistência também existia, e ela estava disposta a alimentá-la.

Naquela noite, ao olhar para as estrelas, Maria decidiu que precisava agir. Precisava encontrar uma forma de quebrar as correntes que aprisionavam sua comunidade. Ela não sabia como, mas tinha certeza de uma coisa: a mudança começaria com a voz dela e com a coragem de desafiar as normas que a sociedade impunha.

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