A Geração que Revolucionou

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Capítulo: A Geração que Revolucionou

Eu olho pra trás e vejo o quanto o rap mudou tudo. Quem diria, né? Uma parada que começou nos becos, nas ruelas, virando o som que transformou gerações. Eu fiz parte disso, a geração que revolucionou. Mas não fui só eu. Cada rima, cada beat, cada história que foi contada fez parte dessa revolução. E não é uma revolução de armas e sangue. É uma revolução de palavras, de consciência.

Eu lembro da primeira vez que eu percebi o peso disso tudo. A gente tava numa roda de freestyle, eu e os caras da quebrada, soltando umas rimas. E, de repente, começou a juntar uma galera em volta. Era a molecada, os velhos, até os caras que sempre diziam que rap não era música de verdade. Todo mundo ali, ouvindo, prestando atenção. A gente não tava só fazendo som, a gente tava contando a nossa história. E essa história ressoava nas pessoas, fazia elas se sentirem parte de algo maior.

A geração que veio antes da minha, mano, eles abriram o caminho. Os caras como Racionais, Sabotage, que botaram a cara e mostraram que o rap era mais que música. Era resistência. Eles plantaram as sementes, e a gente veio pra regar e fazer crescer. E cresceu. Hoje o rap tá em todo lugar, nas rádios, nos fones de ouvido dos moleques, até na boca dos ricos, dos playboys que nunca pisaram numa quebrada.

Mas o que eles não entendem é que o rap não é só som. O rap é a nossa vida, mano. É a dor da mãe que perde o filho pro tráfico, é o sonho do moleque que quer ser jogador, mas acaba no crime porque é o único jeito de botar comida na mesa. É a história da mina que foi abusada e encontra no rap a força pra seguir em frente. Cada verso, cada rima, é uma parte da nossa alma que a gente coloca ali. E por isso que o rap é tão poderoso.

Eu vejo os moleques que tão vindo agora, essa nova geração, e me orgulho. Eles tão chegando com mais força, com mais voz, com mais coragem. Eles olham pra gente, pra nossa geração, e sabem que eles podem ir mais longe. O rap não tem limite. Ele começou nas favelas, mas agora tá no mundo inteiro. E cada um de nós tem uma missão nessa caminhada.

Eu? Eu sou só mais um nessa revolução. Mais um que pegou o microfone pra contar sua história. Mais um que viu a favela ser ignorada por tanto tempo e decidiu que não dava mais. Que a nossa voz tinha que ser ouvida, custe o que custar.

E olha onde a gente chegou. Eu vejo moleques que cresceram ouvindo meu som, que agora tão fazendo os deles. Vejo os manos que achavam que nunca iam sair da quebrada agora vivendo de música, construindo família, mudando suas vidas e as vidas de quem tá ao redor. Isso é revolução. Quando você pega aquilo que era visto como lixo, como nada, e transforma em ouro.

Mas não foi fácil. A gente apanhou muito no começo. O sistema tentou calar nossa voz de todas as formas. Tentaram nos comprar, nos moldar, transformar nosso som em produto. Mas a gente resistiu. A gente sabia o que tava fazendo. Sabia que o rap é mais do que eles jamais vão entender. Eles queriam o Gabriel famoso, mas não o Gabriel da Pedreira. Queriam o som, mas não queriam a verdade por trás dele.

Essa é a geração que revolucionou. A geração que não aceitou as migalhas que o sistema ofereceu, que não se vendeu por um punhado de dinheiro. A gente queria mais. A gente queria a mudança real. Queríamos ver as crianças da favela crescendo com orgulho de onde vieram, sem vergonha da sua pele, da sua cor, da sua história.

E eu fico pensando no que vem depois. O que vai ser daqui a dez, vinte anos? Será que o rap ainda vai ser essa força revolucionária que é hoje? Eu acho que sim. Porque a dor, a luta, a resistência, isso não vai embora. Enquanto houver favela, enquanto houver desigualdade, o rap vai existir. E a próxima geração vai ser ainda mais forte que a nossa.

A revolução não acabou. Ela tá só começando. A gente abriu as portas, e agora cabe aos que tão vindo atrás de nós continuarem esse legado. E eu sei que eles vão. Porque, como eu disse, o rap é mais que som. O rap é vida.

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