Que Sou Homem e Não um Covarde

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Gabriel:

A vida na quebrada sempre exigiu coragem. Cada dia era uma luta, uma nova prova de que sou homem e não um covarde. Cresci ouvindo que um homem de verdade é aquele que enfrenta suas batalhas, que não se esconde atrás de desculpas ou medos. E a verdade é que, na favela, a coragem não é apenas uma escolha; é uma necessidade.

Depois da briga no bar, a tensão não diminuiu. Ao contrário, aumentou. O clima estava pesado, e eu sabia que, a qualquer momento, poderíamos ser surpreendidos por represálias. Aquela sensação de estar sempre em alerta era constante. Saí de casa naquela manhã, decidido a mostrar que não iria recuar. Eu tinha um nome a proteger e uma história a honrar.

Enquanto caminhava pelas ruas da quebrada, vi os rostos conhecidos que sempre lutavam ao meu lado. Eles também carregavam o peso das provações, mas o orgulho e a determinação estavam estampados em seus rostos. “Fala, mano! Como tá a correria?” um deles me cumprimentou, e naquele momento, percebi que não estava sozinho. A força da comunidade sempre foi um pilar, uma rede de apoio em meio ao caos.

“Correndo pra não deixar os problemas me pegarem,” respondi, tentando transmitir confiança, mesmo que por dentro a insegurança quisesse me dominar. Sabia que ser homem na quebrada significava mais do que apenas levantar a cabeça. Era preciso agir, fazer valer a própria presença.

Enquanto seguíamos juntos, começamos a falar sobre o que aconteceu no bar. “A gente não pode deixar isso passar em branco. Se eles acham que vão nos intimidar, estão muito enganados,” disse o Marcos, com um brilho nos olhos que refletia a fúria que sentíamos. A união dos manos era a nossa maior arma, e aquela sensação de irmandade me dava força.

A conversa tomou um rumo sério, e decidimos que era hora de dar um basta. Acreditávamos que, se não tomássemos uma atitude, estaríamos apenas nos deixando levar pelo medo e pela opressão. “Se somos homens, temos que agir como tal. Chega de viver em função do que os outros fazem,” eu disse, sentindo a adrenalina correr nas veias.

Naquele dia, o sol estava alto e o calor abrasador. Fomos até o ponto onde as coisas estavam pegando fogo entre as facções. Era um espaço onde muitos hesitavam em pisar, mas eu sabia que não podíamos mais recuar. Nossos passos eram firmes, e cada um de nós carregava a certeza de que éramos mais fortes juntos.

Chegamos ao local e a atmosfera era tensa. Os olhares que se cruzavam eram de desconfiança, mas também de respeito. “A gente tá aqui pra mostrar que não temos medo,” eu disse, com a voz firme, tentando transmitir a força que sentia. “Que somos homens e não covardes.” A frase ecoou, e percebi que não era só um discurso; era um grito de liberdade.

Os rivais nos encararam, e o silêncio que se seguiu foi eletrizante. A bravura estava em cada um de nós, e a coragem foi a única coisa que nos manteve de pé. Sabíamos que a provocação poderia levar a um confronto, mas naquele momento, o que importava era a dignidade que carregávamos.

Um dos caras do grupo adversário começou a rir, desdenhando. “Vocês acham que podem mudar alguma coisa? Vocês são só mais uns favelados tentando ser valentes.” A provocação estava clara, mas não nos abalou. Se havia uma coisa que eu aprendi, era que a força não vem apenas do corpo; vem da mente e do coração.

“Você tá certo. Somos favelados, mas somos homens! E isso é mais do que você vai entender,” eu disse, com firmeza na voz. “Estamos aqui pra mostrar que não temos medo de enfrentar o que vier. Que somos homens e não covardes.” Cada palavra parecia carregar um peso, e a resposta dos meus manos foi imediata, uma onda de apoio que se manifestou em gritos e palmas.

A tensão estava quase palpável, e o ar se tornava pesado. O tempo parecia parar, e antes que pudéssemos respirar fundo, tudo explodiu. O confronto que eu temia chegou. Socos e chutes voavam, e no meio da confusão, percebi que ser homem não era apenas sobre coragem física. Era sobre lutar pelo que acreditamos, mesmo que isso signifique enfrentar a dor e o sofrimento.

O mundo girava ao nosso redor, mas em meio ao caos, eu sabia que não estava lutando sozinho. Havia um propósito ali, uma luta que transcendeu o simples ato de se defender. Era uma declaração de que não seríamos esmagados pela violência e que a favela tinha voz, mesmo que isso significasse arriscar tudo.

Quando a poeira assentou, e o barulho da briga se dissipou, percebemos que tínhamos enfrentado um dos maiores desafios. Saímos daquele confronto não apenas com a certeza de que éramos homens, mas com a convicção de que, unidos, poderíamos resistir a qualquer tempestade que a vida nos trouxesse. Não éramos covardes, e nossa luta estava apenas começando.

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