Vigia os Ricos, Mas Ama os Que Vêm do Gueto

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Gabriel:

A lua brilhava intensamente sobre as ruas da quebrada, iluminando as paredes pichadas que contavam histórias de luta, amor e resistência. Eu estava parado na esquina da favela, observando o movimento ao meu redor. As risadas, as conversas e as disputas entre os jovens ecoavam pela madrugada, mas havia algo mais pesado no ar. A tensão entre os que tinham e os que não tinham parecia palpável.

“Vigia os ricos, mas ama os que vêm do gueto.” Essa frase ecoava em minha mente. Ela carregava um peso significativo, uma lição que aprendi com os mais velhos, aqueles que já haviam vivido o suficiente para saber que a vida é uma linha tênue entre a esperança e a frustração. Na favela, não podemos nos permitir esquecer de onde viemos, mas também não podemos deixar que a cobiça dos ricos nos desvie do nosso verdadeiro propósito.

Olhei para o lado e vi a Ana, uma amiga de infância, que sempre esteve ao meu lado nas lutas e conquistas. Ela estava sentada em um degrau, observando as estrelas, com um olhar sonhador. “Gabriel, você acha que um dia a gente vai conseguir mudar isso tudo?” ela perguntou, quebrando o silêncio.

“Eu espero que sim, Ana. Mas a gente precisa ficar atento. Os ricos estão sempre de olho na nossa quebrada, nos nossos talentos, na nossa cultura. Eles se aproveitam da gente e, depois, jogam tudo fora como se não significasse nada.” Respondi, sentindo a raiva crescer dentro de mim. “É como se a gente fosse invisível para eles, mas sempre prontos para fazer parte do show quando convém.”

Ana concordou, com um olhar sério. “É verdade. Eles vêm aqui, consomem nossa arte, nossa música, mas esquecem que somos nós que estamos vivendo isso. Eles só querem o glamour, sem ver a realidade que nos rodeia.” Ela se levantou e olhou para o horizonte. “Mas, ao mesmo tempo, não podemos deixar de amar quem é do gueto. Esses são nossos, são nossa família, nossos irmãos e irmãs.”

Ficamos em silêncio por um momento, sentindo a conexão que sempre tivemos. A favela, apesar de suas dificuldades, era um lar. A cultura, a música, as histórias de vida que ali floresciam eram provas da nossa resistência. E mesmo quando tudo parecia perdido, nós éramos a esperança de um amanhã melhor.

“Quando eu olho para você, vejo um futuro brilhante, Ana. Você é talentosa, tem um dom incrível. Não podemos deixar que os ricos nos coloquem para baixo.” Acreditei nas minhas palavras. A música dela sempre ecoava em meu coração, e eu sabia que ela poderia levar nossa realidade para além das fronteiras da favela.

A conversa tomou outro rumo, e falamos sobre nossos sonhos, nossos planos e as pequenas vitórias que conseguimos ao longo do caminho. Sabíamos que a vida não era fácil, mas, no meio de tudo isso, havia amor e solidariedade. “Vigia os ricos, mas ama os que vêm do gueto.” Essa ideia começou a se firmar ainda mais na minha mente.

Na quebrada, a luta é constante, e o sistema muitas vezes parece querer nos derrubar. Mas o amor e a união entre os que vêm do gueto sempre nos darão a força necessária para lutar. Não podemos nos esquecer de onde viemos e o que representamos.

Com a noite avançando, decidi que precisava fazer algo. Era hora de dar voz aos nossos. “Ana, vamos organizar um evento. Precisamos mostrar ao mundo a força da nossa comunidade. A música, a arte, a cultura da favela não podem ser ignoradas.” O brilho nos olhos dela dizia que ela estava com a ideia.

A noite passou entre planos e sonhos. Sabíamos que o caminho seria difícil, mas juntos éramos mais fortes. É na adversidade que se revela a verdadeira força da favela. É aqui que encontramos o amor, a luta e a resiliência. E assim seguimos, vigias dos ricos, mas sempre prontos para amar aqueles que são do gueto.

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