Pulchra tinha o nome perfeito para ela. Era uma mulher encorpada, gorda, com grandes e redondos olhos dourados como o mais puro mel. Seus cabelos, também dourados, estavam presos em um coque arrumado, cercado por uma trança simples, e o rosto redondo andava sempre enfeitado por um largo sorriso de inexplicável carisma.
Escondida atrás da perna de meu pai, eu a observei enquanto ela entrava no nosso quarto e conversava com ele. Junto dela estava uma menina rechonchuda como a mãe, com a mesma beleza, porém suas bochechas eram ornadas por covinhas lindas. A garotinha, vestida com simplicidade, acenou para mim e sorriu largo, sem alguns dentes. Seu cabelo loiro estava preso em duas trancinhas enroladas como coques nas laterais da cabeça. No centro de cada coque havia uma presilha de lírio tigre vermelho.
— Senhor Alioth. — A mulher fez uma reverência e sua filha a imitou.
— Apenas Borjan, por favor. — Papai estabeleceu. — Esta é Ana Merak, minha filha.
Meu pai saiu da minha frente e me deu um empurrão leve para que eu andasse um passo. Eu não tinha motivos para estar tão assustada, porém não tinha muita segurança para falar com as pessoas.
— Oi.
— Esta é Solis Luppus, a minha filha. — A mulher acenou chamando atenção para a pequena e carismática Solis. Brilhante como um raio de sol.
— Não quero ser indiscreta, porém já sendo, o senhor não vai usar o seu sobrenome na menina? — Pulchra questionou sem vergonha alguma.
Olhei para o rosto do meu pai.
— Sim, mas vem antes do sobrenome da mãe dela. É Ana Alioth Merak. — Ele explicou. — De qualquer maneira isso não vem ao caso. Chamei você para ensinar alguns penteados bonitos que eu possa fazer na Ana.
Pulchra concordou com a cabeça. Assim iniciaram-se as lições de penteado, onde ela usava a própria filha como modelo e meu pai imitava em mim.
No dia seguinte, antes de o galo cantar, fui acordada por meu pai. Ele estava sem barba e com os cabelos cortados na altura das orelhas, com franja na testa, como há muito tempo eu não via. Estranhei de imediato quando o encarei. Parecia muito jovem se comparado com os dias anteriores.
— Bom dia, filha. — Ele disse enquanto eu saía da cama.
— A benção, meu pai. — Pedi como tinha sido ensinada. Toda manhã eu pedia a benção para meu pai e meu avô.
— Deus lhe abençoe, Ana. — Ele replicou com a resposta de sempre.
Coloquei no pescoço meu inseparável medalhão que ficava debaixo do travesseiro quando eu dormia. Meu pai pegou um vestido branco de rendas verdes que meu avô tinha comprado para mim. Às vezes ele trazia presentes bonitos e interessantes, que ele comprava na vila.
Eu dormia no quarto de meu pai, em uma cama que tinha sido trazida do dormitório das crianças. Era mais baixa do que a cama dele.
Ele me pegou no colo e, depois de muito tempo, abriu a porta do que seria o quarto de minha mãe caso ela morasse ali. Para a minha surpresa, e saciedade de minha curiosidade, estava arrumado como se alguém realmente o habitasse. O ar não era abafado ou poeirento e não tinha teias de aranha. A penteadeira estava organizada com pertences que eram de minha mãe. Meu pai me colocou sentada no banquinho acolchoado, na frente do espelho, mas eu mal me via porque ainda não tinha altura.
Fiquei admirando os frascos de metal ornado, a caixa de jóias e demais objetos iluminados pela luz do lampião, pois o sol ainda estava nascendo.

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Ana Merak - Dever e Honra
FantasyAna Merak descende de uma família que se encontrou com a magia em condições adversas. A mãe de Ana era humana, mas foi recrutada para lutar pelo equilíbrio do mundo. Em meio ao caos da vida, a prestigiada Lira Merak deu à luz suas filhas, e teve uma...