A FESTA NA VILA (PARTE 2)

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Eles não deveriam se matar, mas podiam se ferir até quase morrer. O objetivo era desacordar o adversário e tirar a sua máscara. Para a primeira batalha podiam usar armas previamente escolhidas e os organizadores juntaram-nos em dupla de acordo com as armas que eles tinham selecionado, para ser mais justo. Depois dessa fase as duplas seriam sorteadas e precisariam se resolver com os punhos. Os guardas do castelo apareceram como um aviso de que era bom ninguém trapacear, ou receberia um corretivo. Fiquei boquiaberta quando dois homens colocaram no chão uma tábua coberta com um pano. Quando levantaram o tecido nós pudemos contemplar as armas iniciais. A multidão se dividiu entre o espanto e o regozijo. Havia duas espadas, duas clavas, duas facas, dois chicotes e uma corda. Apenas nove armas. Alguém não tinha escolhido uma arma. O burburinho virou excitação quando o mestre de cerimônia confirmou que um dos jovens não tinha quisto escolher uma arma, pois acreditava nos próprios punhos. A multidão urrou. Olhei para os jovens cheia de preocupação. Não podíamos ver as suas expressões, pois estavam parados na mesma posição e mascarados. Foi avisado que para ser mais justo, aquele que estava sem arma lutaria contra o que estava com a corda. A multidão concordou.

Assisti a tudo intrigada, porém, receosa. A dificuldade de uma pessoa com espada não matar a outra era grande, e pior, os danos permanentes não foram citados.

— Como são primitivos. — Pricila comentou com certo desgosto enquanto via a primeira dupla se preparar para começar a luta.

— O que isso significa, mestra? — Perguntei.

Ela me lançou um olhar enquanto claramente calculava o que dizer.

— Que algumas pessoas são primordialmente instintivas. — Disse. Ela captou a atenção de todos na mesa.

Não fiz caso de sua resposta, entretanto, entendi que ela desaprovava, ao menos em algum nível, aquela diversão.

Eu ainda não sabia o que pensar porque fui recém apresentada a ela. Por instinto o meu favorito era o que ia lutar sem armas. Papai apostou no jovem da espada que era mais alto e robusto. Parecia bem nutrido e atlético. E Jis apostou no homem da corda.

Iniciou-se o primeiro combate com um silêncio ensurdecedor. O tinir dos metais era como um grito em meio ao nada. O candidato de papai era estupidamente melhor e a multidão começou a tender para o lado dele. Olhei para o homem ao meu lado e vi Borjan Alioth com os olhos brilhando de certeza. Já tinha ganho. O habilidoso espadachim começou a dominar a luta com seus movimentos fluidos e fortes, fazendo seu adversário tropeçar nos próprios pés e cair de joelhos. Enquanto o pobre tentava se levantar, o outro lhe cortou as calças de um modo que lhe caíram nos tornozelos e fizeram ele tombar de maneira vexaminosa. Muitas pessoas taparam os olhos para não ver o traseiro do humilhado sendo exposto. Com o cabo da espada, o vencedor acertou um golpe na parte de trás da cabeça do outro, fazendo ele desmaiar. Arrancou a máscara dele, ergueu para o céu e o virou de rosto para cima enquanto a multidão urrava. O único ferimento no perdedor ficaria no ego. Dessa forma se consagrou o primeiro vencedor da noite. O espadachim misterioso. Papai deu um soco na mesa enquanto contava vantagem sobre seu instinto apurado para os vencedores.

O combate seguinte era entre dois robustos e suas respectivas clavas. Havia poucas apostas neles, porém a violência do combate fez a multidão exclamar sem parar. Ambos desferiram golpes tão fortes que podiam triturar os ossos um do outro, pois os golpes errados estavam literalmente furando o chão.

— Sei quem eles são. — Jis disse, abismado.

Olhamos para ele, querendo saber a informação.

— São amigos e estão apaixonados por uma mesma moça. Eles estão sendo treinados para nossa armada. Digo, a armada Merak. — Explicou.

— Não creio. — Papai ficou perplexo. — Se um deles se machucar, ficará inválido.

Ana Merak - Dever e HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora