LÂMINA KILIJ

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— Se Ana continuar ganhando tantos livros, vamos precisar de uma nova biblioteca. — Vovô caçoou quando a carruagem saiu pelo portão.

Meu pai estava pensativo, portanto, nem se dignou a rir.

— Barakj, não te parece que tem algo notoriamente diferente em Constantin? — Ele questionou enquanto segurava o queixo. Notava-se em sua expressão de reflexão profunda que estava muito intrigado.

Vovô olhou para o céu e expirou enérgico antes de pousar o olhar sobre a figura do meu pai e responder.

— Eu estava pela região quando o bebê nasceu. O nome era Constanza. Bem, hoje temos Constantin e essa é a realidade. As pessoas e os caminhos são nebulosos... A melhor parte desse encontro foi saber que esse par de irmãos são boa gente. — Deu de ombros. Era a primeira visita do tipo que deixava meu avô tão tranquilo e informal.

Papai entendeu e eu também.

— Ainda bem, pois por um instante pensei que as raivas que Ana já me fez nessa vida estavam me deixando louco. — Ele riu, descontraído.

— Ah! Que ultraje! — Reclamei com as mãos plantadas na cintura.

— Ultraje é sair gritando pelo castelo que está com fome e a visita não chega nunca. Da próxima vez berre na janela de uma das torres. — Ele me lembrou a vergonha da manhã. Foi o tempo de ir guardar o presente os convidados já estavam dentro do castelo.

Vovô gargalhou diante da lembrança.

— E foi no salão, onde a acústica faz todo som tomar maior amplitude. — Lançou-me um olhar brejeiro. — Que ótimo momento. Hoje tivemos um dia realmente memorável.

— Eu não vou reclamar mais pelo simples fato de precisar ir para meu encontro diário com a minha mestra. — Falei antes de sair quase correndo.

Não nego que pensei que seria mais cansativo encontrar os Leonus, mas eles foram de longe as companhias mais agradáveis que tivemos no castelo. Havia uma aura de mistério ao redor daquela dupla, que revelava a existência de muitos segredos. Suas simples imagens faziam ter uma forte impressão, pois o contraste bruto entre olhos e pelos pretos, e a pele branca, era um fenômeno por si só.

— Por quê você está com essa expressão, Valenius? — Questiono. O tempo todo, durante o dia, ele pareceu emburrado.

— Quem diria que estou visível? O tempo todo vocês agiram como se eu nem estivesse por perto. Imaginei que tivesse aprimorado ao máximo a minha arte de passar despercebido. — Reclamou, cheio de rabugice.

— Você não é tão bom assim. — Repliquei com um certo tom de humor.

— Continuarei tentando até não atrapalhar mais a sua visão durante a chegada de visitantes. — Afirmou cheio de drama.

— Na próxima visita eu chamo você para estar conosco.

Ele riu.

— Não... Vocês conversam demais. — Dispensou com um gesto de mão. Quem poderia entender o seu jeito bipolar?

— Você é muito sentimental, Valenius. — Falei antes de abrir a porta da biblioteca.

— Eu?! — Ele olhou com ironia, mas não disse mais nada.

Mostrei para Pricila o presente que eu tinha ganhado. Ela, por sua vez, comemorou dizendo que era um ótimo incentivo para o aprendizado. Depois de toda aquela visita cansativa, senti que nenhuma de nós estava tão disposta a estar ali, naquela árdua tarefa de aprendizado. O tempo foi moroso enquanto eu tentava entender a carroça lotada de acentos que seria obrigada a usar nas palavras.

Ana Merak - Dever e HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora