NERVOSISMO

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— Valenius, convide os seus pais para um jantar daqui a dois dias. Vamos pensar juntos sobre esse enlace. — Papai falou para Valenius depois de um longo silêncio.

Senti um misto de alívio e ansiedade instantânea. Eu oficialmente os veria como meus possíveis sogros, pais de meu futuro marido e membros da minha família. Abracei o meu pai. Durante toda aquela conversa, eu imaginava o quão difícil era para ele apenas deixar que outra pessoa também fosse responsável por mim, assim como eu seria por ele. Talvez ele preferisse outro futuro para mim, que fosse até mais fácil, mas ele declinou de sua vontade.

— Só não peço para virem hoje porque estou exausto da viagem. — Meu pai suspirou, relaxando o corpo na cadeira.

Valenius voltou para a sua forma humana e lançou um olhar estranho sobre o meu pai.

— Senhor Alioth, há alguma ferida em seu corpo? — Questionou com certo tom de afirmação.

Olhei assustada, em pânico, procurando por algo que claramente não estava visível, pois não vi nada além das roupas. Mas a expressão de papai não enganava, a surpresa dele deixava claro que Valenius acertou em sua suposição.

— Um corte superficial na barriga e outro um pouco mais profundo na perna. Fomos atacados por malucos suicidas antes de entrar em nossas terras. — Papai revelou com um tom comedido que tentava mostrar que estava tudo sob controle.

— Pai! — Exclamei assustada, tapando a boca com as mãos. — Meu Deus! Por quê o senhor nada disse? Poderíamos ter adiado tudo isso!?

Eu me sentia tomada pela culpa de prolongar o meu tolo dramalhão quando meu pai perecia diante dos meus olhos. Levantei-me, incentivando ele a se levantar também.

— Não é tão grave, Ana. Não precisa se preocupar tanto. — Ele içou o corpo com alguma dificuldade. O sangue esfriou e a dor estava tomando conta dele.

— Pai, não tente me enganar. — Reclamei enquanto pensava rapidamente no que fazer. — Venha, Valenius, carregue-o até o aposento dele por favor.

— Não. — Papai franziu o cenho. A resposta foi reflexo do seu orgulho. — Não há necessidade, pois me locomovo mais do que perfeitamente.

— Carregue-o, ou abandonar-te-ei no altar. — Exigi sem o mínimo de piedade.

Valenius titubeou, mas ele era subordinado diretamente a mim por três condições: ele era meu guarda pessoal, parte da guarda do castelo e meu pretendente quase noivo. Podia-se já considerar como um marido, ainda que não tivéssemos passado o contrato.

— Sinto muito, senhor. Eu jurei obedecer a Ana acima de toda e qualquer circunstância. Infelizmente essa foi uma ordem direta. — Ele explicou enquanto se aproximava de meu pai, que o fitava com um olhar incrédulo e questionador, como se perguntasse se aquele jovem realmente teria a ousadia. Teve, porque meu guarda mais antigo e próximo era leal. Valenius levantou o meu pai nos braços como se ele fosse de papel e não um homem robusto para a sua idade.

— Deus, que humilhação. — Meu pai reclamou, fechando os olhos para isolar pelo menos um sentido. Como era turrão o senhor Borjan Alioth.

— Não reclame, papai. Todos precisamos da ajuda de alguém, cedo ou tarde. — Admoestei em tom de alerta. — Leve-o para o aposento dele, pois vou preparar o banho, curativos e algo para ele comer.

Valenius fez um gesto afirmativo com a cabeça.

— Você ficou impossível durante a minha ausência, Ana Merak. — Papai retrucou com mais orgulho do que braveza.

Ana Merak - Dever e HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora