ALEXANDRU CIPRIAN

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Uma pequena viagem feita sob os meus mais sinceros protestos. Essa é a minha maneira objetiva e honesta de definir as horas sacolejando na carruagem. Eu preferia ir no dorso do cavalo, contudo o meu pai não permitiu, pois, segundo as suas próprias palavras, eu não devo chegar para conhecer a tal Ana Merak com o corpo impregnado pelo cheiro de suor do animal.

Mulheres sempre são uma perda de tempo, principalmente as que devemos cortejar.

Honestamente, sei que não tenho a mais bela das feições, por isso cultivo minha grande barba loira para esconder metade do rosto. É como é, e ponto. Meus olhos são pequenos demais e o osso da minha sobrancelha é protuberante como minha barriga. Sou o suficiente para mim e não aquele que as jovens escolhem nos bailes. De toda forma sou filho de um senhor de terras e um arranjo bem feito pode me render o casamento com uma jovem mais do que aceitável.

É perda de tempo conhecer pessoalmente alguém, entretanto meu pai insiste, porque, aparentemente, Borjan Alioth é muito protetor com a filha e Barakj Merak não aceitaria casar a herdeira como se fosse a última de uma linhagem. Filha única, herdeira de tudo, Ana Merak pode encher os bolsos de um marido.

Será que ela já caçou? Certamente não. As pessoas nada sabem sobre Ana Merak, que ficou reclusa por muitos anos. Há boatos, evidente que eles existem. Dizem os empregados que, após conhecê-la, Darius Nectarius só fala dela, que tudo é sobre ela. Que encanto bobo. Dizem que é bonita, que pinta bem e que tem alguma inteligência. Certamente nunca ouvi rumores de que caça. É perda de tempo.

A carruagem para de se mover e um criado abre a porta para mim. Encaro o castelo. Uma construção sólida que faz jus à fama de Barakj.

— Seja bem-vindo, senhor Ciprian. — Uma jovem bonita, loira, de face redonda, nos recebe.

Lanço um olhar rápido sobre os locais e percebo que todos parecem saudáveis. Um sinal de que as crias Merak são no mínimo gordas. Meu pai se alinha comigo pela lateral enquanto a criada explica que seremos recepcionados em uma tenda no jardim, para aproveitar o dia com clima bom.

Caminhamos em silêncio, sem entrar no castelo. Avistamos uma enorme tenda de tecido montada sobre a grama, no jardim, com mesas sendo postas. Barakj, um homem grande de olhar tenebroso nos recebe com seu sorriso de velha raposa. Ao lado dele está aquele que presumo ser Borjan Alioth. Ele me analisa sem expressão.

— Barakj! — Meu pai aperta a mão do homem.

— Sejam bem-vindos ao castelo, meus senhores. Hoje vamos comer ao ar livre, pois assim a minha neta decidiu.

Ele aponta para as cadeiras confortáveis onde podemos nos sentar.

— Este é Borjan Alioth. — Ele apresenta enquanto nos sentamos.

— É um prazer. — O homem fala sem prazer algum. Um sogro problemático.

— Barakj, suas terras estão viçosas. E como está bem cuidado este pomar. — Meu pai elogia. Claro que muito da beleza vem da primavera que faz o trabalho sozinha.

Vejo a floresta próxima. É onde eu prefiro estar, caçando.

— Então, Alexandru Ciprian, faz muito tempo que não te vejo. O que tem feito por esses dias? — Barakj pergunta para mim enquanto me serve de licor.

— Tenho caçado, senhor Merak. — Pego o licor e bebo em um gole.

— Fascinante. Não me dedico mais a esse tipo de esporte desde que Ana veio para o castelo. — Ele sorri. Sinto todos os meus pelos se arrepiando porque Barakj tem caninos um tanto protuberantes, como uma fera.

Ana Merak - Dever e HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora