ELA

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Não sei explicar como, mas ela preenchia o local com sua presença magnética e eu não podia tirar meus olhos da contemplação infinita na qual eles entraram. Eu estava boquiaberta.

— A viagem encontrou algum percalço que a atrasou, senhorita Elspeth? — Meu avô apertou a mão dela.

— Um pouco, senhor Merak. — Ela piscou de uma maneira diferente, em outro ritmo.

— Podemos nos tratar pelos primeiros nomes? Acho melhor já criarmos familiaridade. — Vovô pediu enquanto a mulher apertava a mão do meu pai, em um cumprimento cortez.

— Como preferir, Barakj. — Ela permitiu. Parecia que Pricila não era de complicar a vida.

— Este é Borjan Alioth, e, esta é a minha neta, Ana Merak. — Ele nos apresentou.

Então, vovô olhou nos meus olhos para transmitir confiança.

— Essa é a sua nova professora. — Ele sorriu como se guardasse algum segredo sobre aquela figura.

Eu ia ficar com um pé atrás, mas quando apertei a mão dela, senti meu coração levitar como o clima daquela manhã. Uma inigualável sensação de paz.

— Seja bem-vinda, senhorita Pricila. — Cumprimentei sem pensar que eu mesma não tinha a permissão de ser íntima.

— Apenas Pricila ou, o meu favorito: professora Pricila. — Ela colocou uma mão na cintura e me lançou um sorriso desafiador.

— Em qual internato a senhorita estudou? — Papai perguntou àquela mulher.

Pricila riu no limite entre a graça e o deboche.

— No melhor de todos! Só não posso revelar o nome porque é um lugar muito encantado. — Ela piscou com um olho só, na camaradagem pura.

— Tive boas indicações, Borjan. Eu já te disse. — Vovô estufou o peito, cheio de si.

Meu pai olhou desconfiado, como se dissesse: e eu posso confiar em você?

Eu estava arredia também, apesar de curiosa. Minha experiência com Gueorgiana foi péssima e agora tínhamos outra professora em nosso lar.

— Pricila! — O chamado empolgado veio até nossos ouvidos.

Todos olhamos para Jis, que vinha animado nos cumprimentar, como sempre. O capelão se aproximou de Pricila e eles se abraçaram com empolgação.

— Jis, meu amigo! Faz muito tempo que não nos vemos. — Eles separaram o abraço, mas os sorrisos largos e genuínos continuavam ali.

— Um bom tempo mesmo, Pricila. Fico feliz que você tenha aceitado vir lecionar para Ana, mesmo já tendo se aposentado dessa função há muitos anos. — Ele agradeceu.

Ela olhou para mim ao responder.

— Há chamados que não podemos negar, você sabe. — Então ela olhou para meu avô. — E eu vou gostar de morar nesse castelo recebendo tudo de graça. Estou cansada de lavar minhas próprias meias.

Eles riram.

— Já teve alguma refeição hoje? — Jis perguntou.

— Não. Estou com o estômago colado nas costas. — Pricila fez uma careta de pesar.

— Que expressão é essa? — O capelão parecia desconhecer assim como nós.

— Significa que o meu estômago está vazio. Aprendi por aí, nas andanças pelo mundo. — Explicou.

Ana Merak - Dever e HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora