VESTIDA PARA BAILAR

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A noite chegou, e com ela trouxe toneladas de nervosismo para depositar sobre os meus ombros. Meu estômago se agitava como se houvesse potros selvagens em seu interior. Durante a tarde, Pricila foi até o meu quarto e me entregou uma belíssima concha azul. A cor remetia perfeitamente ao céu límpido de um ensolarado dia de verão.

— Coloque no bolso interno do vestido, para te trazer sorte. — Ofereceu com um grande sorriso nos lábios. Seus olhos escuros brilhavam como estrelas.

— Obrigada por isso, senhorita Pricila, você é uma pessoa de muito valor para mim. — Eu a abracei apertado e ela me acolheu com carinho. Meus olhos estavam marejados de emoção. Havia todo o contexto somado ao fato de que eu estava especialmente sensível por ser um dia especial.

Era preciso admitir que existia uma conexão extraordinária entre nós. Algo de mestra e aprendiz que realmente nutriam admiração e apreço uma pela figura da outra. Não era apenas com Pricila, pois eu também compartilhava aquela ligação afetuosa com todas as mulheres ao meu redor. Eu sentia e via que cada uma me dava um pouco de si durante a minha caminhada, para que eu sofresse menos e me tornasse o mais completa possível, apesar das dificuldades.

Pricila estava belíssima, com um longo vestido roxo de tom escuro e tecido aveludado. Flores roxas no cabelo, pendentes de seus cachos modelados, e um colar de pequenas pedras pretas no pescoço, colado, como sempre. O decote ia de ombro a ombro, exibindo sua bonita clavícula. E na borda do decote havia renda branca em duas camadas. Seus lábios foram pintados na cor de carmim com um extrato de flores e ela cheirava a algo fresco e desconhecido para mim. Era como se a brisa e o orvalho da manhã estivessem capturados na mesma fragrância. Seu andar, como sempre, era elegante e misterioso, quase levitando no ar.

— Não precisa agradecer. Apenas se divirta e aproveite cada segundo do seu tempo, passe ele rápido ou devagar. — Disse enquanto apertava as minhas bochechas, fazendo com que lágrimas brotassem dos meus olhos.

Fiz um gesto afirmativo com a cabeça e ela saiu do quarto.

Minhas ajudantes chegaram com todo o aparato para me arrumar e vi que Solis já estava pronta. E linda. Usava um coque alto, mas usou um pouco da ponta do cabelo para simular uma franja, onde prendeu um véu cor de rosa claro, como seu vestido. Um vestido bordado em flores miúdas, com saia larga, mangas compridas e bufantes. O decote quadrado valorizava seus seios já muito fartos pelo desenvolvimento. As bochechas dela estavam artificialmente coradas, assim como as suas pálpebras móveis. Usava um par de brincos de ouro com formato de flores de cinco pétalas. Seu sorriso trazia paz ao coração.

— Você está esplêndida, Solis. — Admirei-a, passando a mão pelo seu belo traje. — Talvez arranje um casamento hoje mesmo! Os jovens farão fila.

Ela riu com o tom de quem ouve algo tão absurdo que chega a se tornar engraçado.

— Jamais estarei brilhante na noite de hoje, porque a estrela casadoura é você. — Bateu o indicador na ponta do meu nariz e riu mais uma vez, divertindo-se da minha desgraça. Apesar dos pesares, eu usufruía de certo deleite pela ocasião.

— Nem brinque comigo sobre esses absurdos. — Ri junto e senti um pouco da tensão se dissipar do meu peito. Eu estava apreensiva sim.

— Você será a mais bonita de hoje. — Afirmou com confiança. — Isso eu sei. Todos nós sabemos, nos preparamos e esperamos por esse fato. É a nossa missão fazer de você uma grande lua naquele salão.

— Duvido muito, pois sou apenas comum, de beleza mediana como muitas outras moças. Não há nada que desagrade no reflexo, porém não existe traço que se destaque ao olhar. Vocês carregam um certo brilho eterno, como as estrelas cativantes que nos fazem ter admiração mesmo estando sempre paradas. — Assegurei, pegando nas mãos dela, que eram macias e quentes.

Ana Merak - Dever e HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora