— Veja, seu pai está tão bonito montado nesse cavalo! Ele é como um heroi de histórias mirabolantes, mas não se engane, porque ele é muito real. O seu pai é excelente, meu amor. Oh! Você está sorrindo... Você ama o seu papai, não é, meu filho!? — Falei para Arge, que estava no meu colo. Depositei um beijo em sua testa e sorri para ele, orgulhosa de sua existência. Tudo o que ele fazia era grandioso e importante para mim.
Ele me olhou com seus grandes olhos castanho-esverdeados, cópias dos olhos da avó materna, e sorriu como se entendesse o que se passava no meu coração. Um sentimento de satisfação me inundou.
Valenius estava no curral, que ficava um pouco distante do castelo, cercado por pastos. Tinha oferecido ajuda para domar uma remessa de potros novos. Ele tinha jeito com aquela atividade, pois conseguia facilmente amansar sem agredir os animais. Uma habilidade que eu só tinha descoberto depois que nos casamos. A forma elegante como ele dominava os animais, cheio de paciência, me deixava boba de amor. Era algo tolo e muito particular.
— Você não deveria estar por aqui, filha. Dentro desse curral. Sua tez está tão pálida que te vejo cinza. Acho que não foi bom para si essa gravidez, pois você nem descansou. Que os cristãos não me ouçam. — Lunais disse sem ser seletiva com as palavras, enquanto estendia o braço para pegar Arge. Eu entendia o que ela queria dizer, por isso não me amofinei.
Entreguei o meu filho para a avó. Em um gesto involuntário, passei a mão na minha barriga. Era verdade que eu estava muito cansada e sentindo fraqueza, mas eu gostava da ideia de filhos crescendo juntos. Já não me via mais sem aquele bebê, cujo rosto eu nem conhecia. Estava ansiosa para a sua chegada.
— Não fale assim, minha sogra. O bebê pode ouvir. — Reclamei com suavidade. Eu não sabia se podia, mas para mim era verdade. — Além disso, Arge não precisa de uma rivalidade.
— O bebê não ouve, mas eu sim. — Ela riu.
O sol apareceu muito forte de repente e estávamos sem proteção ali.
— Acho que vou levar Arge. — Comentei, já me preparando para voltar, mesmo que a contragosto porque eu queria ficar perto do meu amor. Eu me sentia melhor olhando para ele. Volta e meia ele se aproximava para verificar o meu bem-estar.
— Deixe que eu levo, assim você pode admirar seu marido por mais tempo. — Ela falou em um tom sugestivo e olhou para a minha barriga.
Senti-me constrangida porque a minha sogra sabia que eu fabricava bebês do jeito tradicional. Ela seguiu para o castelo, acompanhada por Aleana e Polaris. Polaris amava o pequeno Arge, nunca a tinha visto tão risonha antes da minha maternidade. Toda pequena novidade sobre ele a deixava muito agitada. Seriam grandes amigos um dia, eu tinha certeza.
Eu fiquei ali, olhando. Sorvendo.
Quando Valenius apeou da montaria, meu coração acelerou de expectativa. O ambiente estava muito tranquilo, calmo. Até no contexto geral a nossa vida não tinha novidades desagradáveis. Pelo menos aparentemente. A estrada estava funcionando como devia, mas em pouco tempo teríamos uma reunião de vizinhos para resolver os problemas de assaltos e furtos. Eu já tinha uma boa ideia para aquilo. Queria resolver rápido, pois não tinha paciência para ficar mais do que duas horas ouvindo sem bocejar. A gravidez era cansativa.
— Não fique aqui, meu amor. — Valenius pediu quando nos aproximamos. Ele estava vestido apenas com calças e botas, um escândalo. Seu tom transmitia amor, carinho e cuidado. Ele me puxou contra seu corpo, com um braço, de modo gentil para eu não me chocar, e eu segurei o meu chapéu para não cair. Ri baixo, amando aquela atenção, sentindo o meu coração saltar no peito. — É sujo e escorregadio.
— Você não suporta mais a minha presença? — Questionei, sentindo uma mágoa repentina. Era irracional, eu sabia, porém não estava sob o meu controle.
— Não é isso... — Ele sussurrou e acariciou meu rosto, para roçar a lateral de sua própria face na minha, me fazendo arrepiar. Era óbvio que Valenius me amava muito. — Não é um lugar para uma senhora de alto posto, principalmente carregando um bebê. Deixe para os brutos, como eu.
Ele beijou a minha testa e eu o abracei forte, mas me afastei um pouco porque de repente o cheiro de cavalo me deixou enjoada.
— É melhor sair. — Ele pediu outra vez, com um sussurro, e beijou as costas da minha mão.
— Por que está rejeitando a minha companhia? — Fiquei com os olhos marejados. Falei sem medir, em um impulso. Arrependi-me logo que as palavras saíram porque eu não pensava aquilo, era apenas um rompante inexplicável.
Ele soltou a rédea do animal para usar as duas mãos no processo de me confortar. Mais rápido do que um raio, o potro bravo empinou e deu um coice certeiro na minha barriga. Foi a pior, mais assustadora e lancinante dor que senti em toda a minha vida. Caí no chão, estatelada, sem força alguma, olhando para o céu azul que ficava desfocado aos poucos. Meus nervos se retorceram, meus dentes estavam trincados e as minhas costas doíam muito. Comecei a perder todo o ar. Levei a mão até a barriga, sentindo algo errado, mas era tanta dor que me perdi da consciência.

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Ana Merak - Dever e Honra
FantasyAna Merak descende de uma família que se encontrou com a magia em condições adversas. A mãe de Ana era humana, mas foi recrutada para lutar pelo equilíbrio do mundo. Em meio ao caos da vida, a prestigiada Lira Merak deu à luz suas filhas, e teve uma...