PRÓLOGO

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A Ninfeta Ruiva


O volume da TV estava alto devido ao barulho da tempestade que caía lá fora. Ele olhava para a tela sem interesse, entediado, sua maldita insônia atacando novamente. Mudou de canal pela centésima vez, não parando mais que cinco minutos no mesmo programa.

Levantou e caminhou em passos preguiçosos até a cozinha, abriu a geladeira, pegou uma cerveja e fechou-a, abrindo a garrafa no dente. Tomou um gole e aproveitou para ir ao banheiro. Após urinar, postou-se diante do espelho, notando quão feio estava: havia ficado largo, quase gordo, mas nada perto do que já fora dez, quinze anos atrás. Agora era um quarentão acabado, pouco preocupado com a estética, acomodado pelo casamento e pelo trabalho que tomava todas suas energias. Só de pensar no casamento já tinha náuseas. A esposa, que roncava no quarto do segundo andar não mais o atraía em nada; todo o romance do início do casamento se fora; agora a única relação de tinham era de reclamações e discussões. Voltou à sala de TV, desgostoso, ouvindo os trovões furiosos lá fora.

Parou no meio do caminho.

Era alguém batendo na porta?

O barulho se repetiu. Sim, definitivamente tinha alguém batendo na porta. Olhou para o relógio de parede: eram duas da manhã! Quem diabos? Ficou tenso, indeciso se ignorava ou se ia ver quem era.

A curiosidade venceu o medo. Andou até a porta e espiou pelo olho mágico. Arregalou os olhos, surpreso. Mais que depressa pegou a chave no suporte da parede e abriu a porta.

— Minha nossa! Quem é você?

Ali diante dele, encharcada e tremendo muito estava uma bela jovem recém-saída da adolescência, provavelmente. Ruivinha natural, observou pelas sardas.

— Senhor, estou perdida no bairro, e estava sozinha esperando a chuva passar, embaixo de uma parada, quando um homem estranho se aproximou; corri pelas ruas e vim bater na sua porta, não sabia o que fazer.

Ele ficou um momento sem reação, olhando por cima dos ombros dela para se certificar de que não estava acompanhada. Fixou os olhos nela novamente. Não ia deixar uma menina tão linda lá fora naquela tempestade.

— Entre, garota — saiu do caminho para que ela passasse.

A ruiva entrou timidamente, tremendo de frio. Ele trancou a porta. Pensou por um instante se chamava a esposa. Seu instinto disse que não.

— Sente-se no sofá, vou buscar uma toalha.

— Fico em pé mesmo, não quero molhar sua casa.

Ele nada disse, apenas correu para o banheiro e pegou uma toalha que estava pendurada. Levou até ela, solícito. Ela se enxugou como dava, mas ainda tremia.

— Suas roupas estão molhadas — observou o óbvio. — Melhor tomar um banho, o chuveiro tem água quente.

— Não será um incômodo, senhor?

— De maneira alguma. Venha, o banheiro é por aqui.

Ela sorriu acanhada e o seguiu. A casa era grande e bonita, bem espaçosa e belamente mobiliada, observou. Entrou no banheiro, agradecendo mais uma vez e se trancou lá dentro.

Ele estava irrequieto, temendo que a mulher surgisse do nada, apesar de saber que ela nunca acordava no meio da noite, e os trovões e a chuva abafariam qualquer barulho de vozes. Pensava rápido, estava eufórico; ela ia precisar de roupas secas, não podia vestir os trapos molhados. Pegar roupas da esposa estava fora de cogitação; primeiro porque pra isso precisaria acordá-la, segundo porque suas roupas largas jamais caberiam naquele corpinho de ninfeta. Teve uma ideia: correu para buscar uma camisa sua. Retornou à porta do banheiro e bateu levemente:

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