Capítulo 116: Algo mais?

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Paula havia realizado um desafio naquela tarde. Sua meta era conseguir três naquela semana. Sabia exatamente como realizar os outros dois, que eram fáceis para ela. O que não sabia era o que estava fazendo na arquibancada do Jockey Club mais uma vez. Na verdade, sabia sim. Estava ali para encontrar-se "casualmente" com Iguana. Sentia-se ridícula por estar se prestando àquele papel. Afinal, eram sempre os homens que iam até ela. O que dizia a si mesmo era que iria gozar mais uma vez, apenas uma, e nunca mais o veria novamente.

Naquela noite Iguana não apareceu. Nem na noite seguinte.

É um sinal, Paula. Cai fora enquanto é tempo. Você está indo tão bem...

À noite foi à academia nova em que malhava — maior e mais completa que a de Tenório. — Agora que podia pagar, não precisava perder tempo enrolando o coitado. Malhou por duas horas e ao chegar em casa, exausta, se masturbou e gozou pensando em Iguana. O que ela queria era gozar com ele. Olhando para a genitália úmida, de pernas abertas, sussurrou:

— Pare de piscar, querida.

Mas não resistiu. Na noite seguinte lá estava ela de novo, fazendo apostas avulsas, esperando que Iguana surgisse e falasse com ela. Não havia feito reservas, mas conseguiu uma mesa no mesmo restaurante em que conversara com ele pela primeira vez.

Após jantar, levantou-se com a sensação de que fizera papel ridículo mais uma vez. Odiava aquilo. Era um território novo para ela: Ir atrás de um homem — que não fosse em um desafio. — Só que a cada derrota sentia-se ainda mais frustrada. Era como perder partidas sucessivas de um jogo, e Paula detestava perder.

Pediu a conta e o garçom aproximou-se com um papel dobrado na mão.

— O senhor com quem jantou outra noite deixou isso para você — entregou-lhe o papel.

Paula animou-se antes mesmo de pegar o papel. Uma partida prestes a ser ganha? Desdobrou a mensagem.

O UNICÓRNIO MALDITO É SEU. POSSO ENTREGÁ-LO A VOCÊ PESSOALMENTE?

E abaixo, um número de telefone.

Abriu um sorriso vitorioso. Ele a daria o cavalo caríssimo assim? Óbvio que queria vê-la de novo, e claro, impressioná-la. Embora não tivesse a mínima intenção de receber o animal nem ter onde colocá-lo, era sua chance de ter bis do seu magnífico orgasmo.

Feiticeira esperou chegar em casa para fazer a ligação. Antes, tomou as devidas precauções: comprou um chip novo e pediu o celular da avó emprestado para o caso de estar constantemente sendo monitorada pelo Clube como suspeitava Valentina.

— Não vá mexer demais nas pastas — advertiu Jacó. — Tem vários nudes que mando pra sua avó.

Miranda riu alto.

— Se tiver pode abrir, Paula. Se não se incomodar de ver animais minúsculos mortos.

— Mas o pintinho morto aqui sempre ressuscita quando você tira a dentadura e...

— Eca, vô! — Paula fez uma careta e subiu as escadas, ouvindo as risadas dos avós.

Mais uma vez recriminou-se por agir como uma adolescente. Levou ainda vários minutos pensando no que dizer para não transmitir a ansiedade.

Um toque.

Dois toques.

Três toques.

— Alô? — era a voz inconfundível dele.

— Obrigada pelo presente.

Iguana aparentemente também reconheceu sua voz.

— Finalmente, minha dama de vermelho. Achei que o garçom tivesse esquecido. Infeliz dele se tivesse.

— Pagou ele bem?

— O suficiente pra rezar pra que você aparecesse.

— Bom, eu aceito meu presente de coração.

— Ótimo. Presumo que tem um sítio ou uma chácara, uma fazenda talvez?

— Claro que sim — mentiu ela. — Mas prefiro eu mesma ir buscar.

— Não quer que eu saiba seu endereço? — ele riu.

— Precauções. Você é um estranho.

— Pensei que já fôssemos íntimos — nova risada.

— Sou íntima do seu pênis, apenas.

— Ele sempre causa uma boa primeira impressão.

Sua língua também.

— Ele é bem eficiente sim.

— Bom, já que prefere permanecer no mistério, terei de levar você ao meu sítio particular.

— Diga o endereço. Assim que eu tiver um tempo...

— Não precisa. Diga onde posso ir buscá-la. Ao chegarmos lá, haverá um carro próprio para o transporte do seu presente.

Paula pensou por um instante. Não poderia aceitar o cavalo, mas se recusasse perderia sua chance.

— Certo. Quando você pode...

— Amanhã às seis — ele a interrompeu. — Encontre-me no Tivoli Mofarrej, na capital. E cancele seus planos pro dia todo.

Paula riu.

— Toma-me por uma desocupada?

— Acredite, independente do que precisar cancelar, eu terei de fazer dez vezes mais por este encontro. Vai valer a pena.

Paula tinha mais de quarenta e oito horas para um desafio que havia aceitado. Teria tempo. Há tempos a faculdade perdera o sentido e provavelmente reprovaria várias disciplinas, além de ter a certeza de que trancaria em breve.

— Estarei lá.

— Estarei aguardando você.

Paula desligou.

Deitou-se na cama de braços abertos, suspirando. Riu consigo mesma, tanto de alegria como de nervosismo. Arriscaria a vida em nome de uma transa.

Ou seria algo mais?

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O que vocês acham?

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