Capítulo 118: Preciosa e Canibal

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Rafael era o atendente favorito de qualquer cliente daquela agência do Banco do Brasil. Além de sempre estar de bom humor, ele fazia o máximo para resolver o problema de quem sentasse na cadeira diante da dele. Mais de uma vez recebeu presentes da clientela satisfeita. Alguns eram simbólicos, outros bem caros. Arrancava sorrisos dos homens e das mulheres, suspiros. Quantas delas não haviam se imaginado na cama com ele... Neste grupo alguns homens também se encaixavam.

Mas Negão era ético no trabalho. Diversão só com quem conhecesse fora do banco, ou como era de praxe, em seus desafios. Eram poucos os que ele não gostava de realizar, em geral os que envolviam homens. Era quando tinha que engolir o orgulho e o preconceito, seu machismo e qualquer coisa que o fizesse retorcer o nariz ao ter que fazer sexo com alguém do mesmo sexo.

Mas para sua sorte, o desafio particular que recebera fora uma mulher — e bem bela. — O único problema era o nível de periculosidade do desafio. Anita Leal, mais conhecida como Preciosa, era namorada de um traficante do Rio de Janeiro, vulgo Canibal. Era ela quem administrava o dinheiro do bandido e todas as suas bocas de fumo. Canibal havia sido preso e ela fugira para São Paulo até a poeira baixar. A polícia há anos tentava coletar provas contra ele, mas sempre falhava; Preciosa era a única que, caso pressionada ou torturada, poderia derrubar o império do namorado. Por isso ela estava um apartamento barato alugado, para não chamar atenção. Nem mesmo em hotel confiava ficar. A função de Rafael era transar com ela em seu esconderijo vestido de entregador de pizza. Fora escolhido porque ela tinha um gosto especial por negros. O tempo que Rafael tinha era de apenas vinte e quatro horas, mas pelos pontos que ganharia, achou que valia a pena arriscar.

Desafios com tema entregador de pizza eram infinitamente mais fáceis quando as garotas do Clube realizavam com entregadores de pizza de verdade, fazendo a encomenda e recebendo-os de calcinha e sutiã ou de toalha. Para os homens, vestir-se de entregador e convencer a cliente a transar era bem mais complexo, afinal as mulheres em geral relutam de primeira. Por isso Latino já havia falhado uma vez e Playboy outra. Mas Negão gostava de um bom desafio.

Clicou em "aceitar" no aplicativo.

Arrependeu-se assim que, por curiosidade tardia, resolveu pesquisar quem era o tal traficante. O Google foi bem detalhista. O traficante ganharia este nome pela fama de arrancar uma parte do corpo dos inimigos e mandar cozinhar para depois comer. Negão riu alto, de nervoso. Claro que devia haver bastante sensacionalismo nas reportagens que lera, mas no mínimo haveria um fundo de verdade, o suficiente para deixá-lo nervoso.

A princípio achou que o mais difícil seria encontrar um uniforme de entregador de pizza, mas ao fazer uma pesquisa no Google Imagens, chegou à conclusão que uma camisa polo vermelha e um boné da mesma cor, sem estampas, serviriam. Segundo o aplicativo do Clube, Preciosa raramente saía do apartamento e evitava ser vista. Mesmo estando em outro estado, eram essas as ordens de Canibal.

Eram sete da noite. Negão havia comprado a camisa e o boné na Vinte e Cinco de Março. Passou em uma pizzaria no caminho e dirigiu-se ao endereço dado no aplicativo. O apartamento ficava no sexto andar. O lugar cheirava a mofo e desinfetante — alguém devia ter passado pano no chão. — e a pintura era descascada, com visíveis infiltrações. Apertou a campainha. Rafael sabia que seria visto pelo olho mágico antes que ela decidisse abrir a porta.

Houve um barulho de chave. A porta foi aberta alguns centímetros.

— Eu não pedi pizza — Anita disse com feição desconfiada. Era mais linda do que na foto do aplicativo: cabelo loiro em um rabo-de-cavalo, com um corpo malhado como os da panicats coberto por um short curto e um sutiã cor vinho. Os seios eram tão redondos que era impossível serem naturais. Ela nem havia se dado ao trabalho de procurar por uma blusa.

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