Capítulo 115: Decepção

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Sara saiu da escola e se encontrou com as amigas, como de costume, para não chamar muito a atenção com suas ausências. Não queria que dissessem algo como "nunca mais saiu com a gente". Mas contava os minutos para o encontro com Leandro. Estava decidida que naquela noite teria sua primeira vez com ele no Vale dos Vagalumes. Perder a virgindade com o homem que amava e em um lugar mágico como aquele seria muito mais do que poderia pedir. Logo ela que nunca fora romântica, sempre podada pelos pais, agora se via completamente deslumbrada pelo músico e desenhista que amava. Sim, ela tinha certeza de que o que sentia era amor. E estava totalmente entregue.

Despediu-se de Jeniffer e das outras dizendo que tinha que estudar. Deu a volta no quarteirão e seguiu em direção à rua que dava acesso às árvores. Já escurecia. Chegaria antes de Leandro, queria dar a ele uma noite inesquecível. Jeniffer, Luana e Helena já haviam tido sua primeira vez. Todas comentavam sobre tamanhos, orgasmos, sensações... Ela sempre via aquilo como algo distante para ela. Não imaginava algo especial, mas ao menos o homem certo, que a agradaria e agradaria aos seus pais. Ao menos Leandro a havia agradado, e muito. Apesar de tê-la transformado em uma boba apaixonada, havia despertado nela sentimentos que ela jamais havia tido.

Chegou ao Vale.

Os vagalumes ainda não haviam aparecido em grandes quantidades, mas ela podia contemplas algumas dezenas piscando. Sentou-se encostada a uma árvore robusta. A lua estava em seu quarto minguante, mas era o suficiente para deixar o lugar na penumbra e dar escuridão para os insetos de luz. Ficou ali vários minutos contemplando a beleza do lugar.

Ouviu passos. Abriu um largo sorriso, com o coração acelerado, borboletas na barriga. Virou-se para ver...

— Boa noite!

Era um homem magro, de olhos azuis marcantes, que não ofuscavam sua feiura, creditada principalmente à pele manchada e escurecida demais pelo sol.

— Quem é você? — ela se levantou em um salto.

— Sou amigo do Leandro.

— Amigo? Leandro não tem amigos aqui.

— Tem sim. Ele que me chamou. Disse que ia me apresentar a você.

— Apresentar? — o instinto de Sara estava alerta. A forma com que o homem a olhava era nojenta.

— Sim. Ele disse que eu ia gostar de você.

— Eu vou embora. Ele não me disse nada sobre um amigo, muito menos aqui — colocou a alça da mochila nas costas. Estava realmente com medo.

O homem deu um passo.

— Calma. Espere ele chegar. Além dele temos uma convidada.

— Convidada?

Barulho nas folhagens. A figura de uma mulher surgiu. Usava uma microssaia vermelha e um decote enorme, com a maior parte da barriga para fora, onde se mostrava um piercing em seu umbigo. Sara conhecia-a de vista. Era Shirley, prostituta de um dos dois bordéis da cidade.

— Olá! — esbanjava um sorriso maroto. Era bonita, embora exagerasse na maquiagem. — Meu musiquinho chegou?

Seu? — o medo de Sara transformara-se em raiva. — O que está acontecendo aqui?

— Ele vai explicar quando chegar — disse o homem de olhos azuis. — Eu e ele dividimos a Shirley desde que ele me chamou pra cá. Ele disse que hoje nós íamos ter uma festinha e que você poderia participar. Aliás, ser a protagonista. Você se importa, Shirley?

— Só se eu soubesse o que significa protagonista.

Os dois riram. Sara não. Sara estava em choque, horrorizada com aquela cena bizarra. Só podia ser mentira, uma grande mentira. Leandro não faria aquilo. Segurou as lágrimas o quanto pôde, mas elas lhe escaparam.

— O que foi, minha menina? — Shirley fez cara de compaixão.

— Saiam de perto de mim! — Sara rosnou com ódio.

— Que porra é essa? O Leandro garantiu que você era uma putinha safada e que não ia ter frescura. Ele comeu a Shirley por minha conta. Vou comer você de graça. Esse era o trato!

Sara apertava os dentes enquanto chorava sua raiva. Deu as costas aos dois e correu entre as árvores escuras. Não acreditava que aquilo fosse real. Era uma armação. Só podia ser.

— Leandro! — gritou enquanto corria. Era ao mesmo tempo um chamado real e uma forma de externar sua ira. Queria que ele se materializasse ali e desmentisse tudo.

Ao sair das árvores gritou mais algumas vezes. Sentou-se no chão e chorou apoiada nos joelhos. A vontade era de desaparecer. Levou alguns minutos para se recompor. A raiva fundia-se com a esperança de que tudo fosse mentira. Se havia sido enganada por Leandro, não derramaria uma só lágrima por ele.

Caminhou todo o percurso até sua casa engolindo o choro. Subiu até o quarto e lá se trancou. Naquela noite não quis jantar; disse à mãe que estava com dor de cabeça e queria dormir. Passou horas tentando se convencer de que aquilo era obra de seu pai, que ele estava tentando separar os dois. Era o tipo de coisa que ele faria. No dia seguinte iria se encontrar com Leandro e ele esclareceria tudo. Caiu no sono sobre o rosto úmido e salgado.

Acordou cedo. Resolveu ir até a pousada onde Leandro havia se hospedado.

— Ele ainda não apareceu — disse o dono. Não sei pra onde ele foi não.

Andou pela cidade procurando-o, embora soubesse que ele não tocaria tão cedo. Algo podia ter acontecido com ele. Queria acreditar que ele era inocente, daria a ele o benefício da dúvida.

— Ei, loira!

Sara virou-se instantaneamente reconhecendo a voz. Shirley atravessou a rua indo a sua direção.

— Você não quis participar. Perdeu a festinha.

— Vai se foder, sua puta! O Leandro não faria isso comigo!

— Epa, não grita comigo não, pirralha. Eu voo em seus cabelos se me insultar de novo! Quer uma prova?

Sara ficou sem reação. Uma prova? Ela tinha uma prova?

— Meu celular tira foto — retirou o aparelho do bolso do short curto. Apertou alguns botões antes de mostrar a tela para Sara.

Sara sentiu o gosto de sangue na boca. Sentiu ânsia de vômito e as pernas fraquejarem. A qualidade da foto era ruim, mas dava para ver claramente: Shirley sentada nua sobre a boca aberta de quem aparentava ser Leandro. Quem tirava a foto provavelmente era o de olhos azuis.

— Não dá pra ver o rosto nessa aí, mas nessa sim — a prostituta apertou o botão para passar a foto.

Agora era certeza. Leandro deitado nu, com as mãos de Shirley segurando sua cabeça. Embora os polegares cobrissem os olhos, Sara tinha certeza de que era ele. A puta estava deitada de bruços sobre ele, provavelmente encaixada em seu pênis, pela posição em que as virilhas se encontravam, e o de olhos azuis penetrava-a por trás, segurando o celular com o braço bem esticado para pegar os três na foto. Shirley clicou mais uma vez e na próxima foto estava segurando o violão de Leandro como se fizesse sexo com o objeto.

Bastava. Sara deu alguns passos em ré com as pernas bambas. Não chorou, embora os olhos tivessem ficado vermelhos. Seu rosto era vazio de emoções. Apenas virou-se e caminhou pela rua.

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