Capítulo 112: Ataque

2K 205 21
                                    

onze anos atrás


Leandro havia acabado de tocar e recolher seus trocados. Estava conseguindo públicos cada vez maiores nas praças, especialmente na principal. Pessoas assistiam mais de uma vez, diziam-se seus fãs. Nunca demorava tanto em uma cidade tão pequena quanto aquela, mas tinha seu bom motivo. Naquela noite encontraria esse motivo, como de costume. Esperaria Sara sair da escola e ir direto para o Vale dos Vagalumes. Colocou o violão na case e pendurou-o nas costas pela alça. Desceu a rua em direção à área arborizada que ficava a menos de dois quilômetros de onde estava. Ao adentrar a trilha, percebeu que estava sendo seguido. Olhou para trás para constatar a suspeita. Eram dois homens.

— Ô amigo! — disse um deles acenando.

Um era baixo e entroncado, o outro tinha uma barba mal cuidada e dentes amarelos.

— Posso ajudá-los?

— Pode sim — disse o barbudo sorrindo, exibindo o sorriso ruim de se olhar. — A gente queria trocar uma ideia com você.

Leandro ficou tenso. Os dois tinham aparência suspeita e não havia ninguém mais por perto.

— Podem falar — Leandro ergueu o queixo para disfarçar o desconforto que sentia.

— Está indo pra onde? — perguntou o mais baixo.

— Dar uma caminhada.

— A gente também. Vamos com você.

Leandro engoliu em seco, começando a ficar realmente nervoso.

— Disse que queria trocar uma ideia comigo — lembrou o jovem músico.

— Queremos sim. A gente viu você tocar e cantar. Você é bom pra caralho.

O instinto de Leandro gritava para que ele corresse o mais rápido que pudesse dali, mas suas pernas não obedeceriam se ele tentasse.

— Obrigado.

— A gente pode caminhar e falar — sugeriu o barbudo.

Leandro não se considerava uma pessoa preconceituosa, mas era difícil não achar que os dois tinham cara de bandido. Eles transpiravam periculosidade. Predadores. E ele fedia a medo.

— Pensando bem, vou voltar pra pousada. Está ficando tarde... — fez menção de voltar por onde havia vindo.

Os dois deram um passo para o lado impedindo sua passagem.

— Mudou de ideia por quê?

— É que eu gosto de andar sozinho...

— Não somos bons demais pra você? — O entroncado fechou a cara. — Só porque toca essa merda?

O tom de voz e as palavras do homem deixaram claro a agressividade dele. Deixaram Leandro ainda mais nervoso.

— Com licença — ele pediu seriamente.

— Desculpa meu amigo — disse o barbudo. — Queremos apenas ouvir você tocar umas duas músicas pra gente.

— Fico lisonjeado, mas não...

— Eu não disse? — o baixinho interrompeu, alterando a voz. — Ele não vai se dar ao trabalho de tocar pra gente.

— O que vocês querem? Só tenho umas moedas, pouca coisa.

— Está achando que somos ladrões? — o barbudo fez uma caricata cara de ofendido.

— É um merda mesmo, né? Um merda metido.

A dupla havia intimidado Leandro o suficiente para ele não arriscar continuar com aquela conversa. Tinha de agir! Virou-se subitamente e correu em direção às árvores. O violão batia em suas costas a cada passada que dava. Ouvia os passos dos dois perseguindo-o. Pensou imediatamente em Sara. Ela logo viria naquela direção e daria de cara com os bandidos. Saiu da trilha e seguiu em uma direção oposta à do vale. Ouvia-os gritando, falando algo com ele ou um com o outro, mas não distinguia o quê. Concentrava-se apenas em correr e desviar das árvores.

Os passos atrás dele estavam cada vez mais próximos.

Mais próximos.

Mais.

Pôde sentir as pontas dos pés dele quase tocarem seus calcanhares.

Um empurrão em suas costas foi o suficiente para desequilibrá-lo e chocar seu corpo contra uma árvore. O impacto foi grande e o derrubou. Não teve nem tempo de tentar se levantar. Um par de braços fortes o agarrou por trás, imobilizando seu corpo. Era o mais baixo, pois o barbudo se acocorara em sua frente, retirando da bainha na cintura uma faca de desossar.

Leandro quis gritar, mas o braço forte apertava seu pescoço. O violão ainda preso às suas costas forçava seu algoz a apertar com mais força para mantê-lo imóvel.

— Isso aqui é pra aprender a não mexer com a filha dos outros.

Leandro tentou revidar, se mover de alguma forma, mas era em vão. O ar começou a lhe faltar. Pediu mentalmente a Deus para que não o matassem. O barbudo movia a faca em sua frente, exibindo o sorriso amarelo. A visão primeiro ficou turva, o coração batia mais lentamente, a pulsação diminuía e a sensação era de que os pulmões iam explodir.

Antes de ficar inconsciente, teve a sensação de ter ouvido a voz de Sara.


#################################

Será que Leandro morre agora?

E Iguana? Sara vai reencontrá-lo? E se o fizer, será que haverá consequências?

O que será que Sara deve a esses misteriosos pais adotivos de Samantha? Por que ela a deixou com eles? E... Se Leandro não morreu, será que ele será o pai biológico? Por que diabos tantos capítulos contando o Passado de Sara? Vai ter alguma importância na trama principal?

Não perca os próximos capítulos!


Clube Proibido [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora