Capítulo 150: Inundação

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Oito anos atrás


Sara recostava a cabeça sobre as pernas de Leandro. Ambos sobre a mesa da sala, da quitinete de dois cômodos e um banheiro. Seria exagero dizer que eram as lágrimas que Leandro derramava que inundavam a sala, mas soaria poético em meio àquela tragédia. O temporal furioso transformava as ruas do morro em rios e cachoeiras, e a humilde residência alugada pelo casal se tornava um aquário. Quase tudo havia sido perdido — o que era quase nada. — E apenas uma caixa de roupas, uma mochila com pertences e o violão compartilhavam o espaço sobre a mesa.

Encolhida e segurando os joelhos, Sara dava privacidade para que Leandro chorasse. Sabia que se ela própria se entregasse à mesma dor, ele se sentiria ainda pior. Pensava em retrospectiva sobre o que havia passado desde que pisaram em São Paulo. Fora apenas na periferia de Osasco, cidade vizinha à capital, que conseguiram um lugar que pudessem pagar: aquela quitinete inundada. E cantar nas ruas infelizmente não era o suficiente para pagar o mínimo de conforto além do aluguel.

Leandro havia conseguido alguns barzinhos menores e churrascarias para tocarem, mas durou pouco. Em menos de um mês em São Paulo, ele foi obrigado a conseguir um emprego como ajudante de pedreiro. Sara também queria ajudar e trabalhar, mas ele fazia questão de que não. Ela trabalharia como merecia, como uma artista.

Mas a necessidade falou mais alto. Certo dia Sara sentira pela primeira vez o que era ter fome, passar quase o dia inteiro sem uma refeição. Leandro ao fim do dia havia saído de porta em porta nas casas dos vizinhos, implorando por um prato de comida. Sara comera avidamente, às oito da noite, pela primeira vez desde que o dia havia raiado. Leandro mentira dizendo que já havia comido, deixando-a se alimentar. Nada doía mais nele do que fazê-la passar por necessidades. Ainda mais ela que havia tido uma vida de princesa, rica, de família importante. Sentia-se um lixo por fazê-la passar por aquilo. E quase dois anos haviam se passado desde a chegada a São Paulo.

E agora estavam sofrendo com uma inundação.

A chuva passou e Sara dormiu no colo de Leandro. Este, por outro lado, pensava furiosamente em uma forma de sair daquela situação. Jurou a si mesmo que daria um jeito. Não importa qual fosse o custo.

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