Capítulo 155: Agiota

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Oito anos atrás

— Eu conheço um cara — o barman disse enchendo colocando a dose de tequila no copo. — Ouvi dizer que ele conseguiu um empréstimo com agiota pra abrir o negócio dele. É um tatuador, meu parça. Ele ainda deve ter o contato do cara.

— Agradeço demais! — Leandro abriu um sorriso, erguendo o copo com tequila e bebendo um gole. Apoiado no balcão, desbloqueou o celular. Havia sondado garçons, balconistas e outros funcionários de alguns locais onde já havia tocado. Apenas aquele barman conhecia alguém que pudesse ajudá-lo. Sara não sabia de sua empreitada, e só saberia quando fosse a hora.

— Anota aí.

Leandro anotou o número do tatuador conhecido do barman.

— Kadu, o nome dele. Diz que foi o Walter quem deu o número.

Salvou o contato e agradeceu mais uma vez. Terminou sua dose e ligou dali mesmo. Tocou várias vezes até cair. Deveria estar ocupado. Minutos depois, tentou novamente.

— Alô!

— Oi, Kadu, o tatuador?

— Sou eu mesmo.

— O Walter, o barman do Zero Grau, aqui da Augusta, me deu contato. Disse que eram amigos.

— Sim, sim. Gente fina ele. Querendo um orçamento pra tatuagem?

— É. Mas prefiro ir até o estúdio, conhecer.

— Pode vir — em seguida deu o endereço.

Leandro fez sinal para Walter, escrevendo no ar, e pegando a deixa, entregou-lhe uma caneta. Anotou em um guardanapo.

— Valeu. Te encontro aí.

Para não perder tempo, pegou um taxi. Pouco mais de meia hora depois, estava diante do estabelecimento com porta de vidro. O letreiro estiloso anunciava "Kadu Tatoo".

Entrou, falando com uma jovem atendente com blusa de banda de rock. O som ambiente era um death metal incompreensível. Pensou durante o trajeto em como abordar o tatuador sobre o agiota, mas não tinha a cara de pau necessária.

Pensa, Leandro. Lollapalooza!

Tomou coragem.

Esperou sua vez, pois alguns clientes tinham hora marcada. Leandro disse à atendente que falaria com o tatuador assim que terminasse o expediente, o que aconteceria em cerca de uma hora e meia. Ela insistiu para ele adiantar a escolha da tatuagem, mas ele frisou que era só com Kadu mesmo.

O expediente acabou. A atendente pediu licença pra ver se Kadu já estava livre e logo voltou para chamá-lo.

Kadu era negro, cabelo rastafari, com roupas estilosas, tatuagens nos braços e argolas nas orelhas. Guardava o material que usava para tatuar, as tintas e equipamentos.

— Boa tarde.

— Boa tarde. Você que me ligou, né?

— Sim, fui eu.

— E aí, gostou do estúdio? A Tati falou como funciona?

— Falou sim. Adorei aqui — resolveu ir direto ao ponto. — Olha, Kadu, pra ser sincero, vim aqui por outro motivo.

Kadu fitou-o, curioso.

— Pode falar.

— Walter falou que você conhece um agiota...

Pela cara que o tatuador fez, Leandro percebeu que deveria ter elaborado melhor sua abordagem. Apressou-se em continuar:

— Sou músico, consegui uma vaga no Lollapalooza, mas preciso de uma grana pra...

— Desculpa, cara, não vai rolar. O Walter fala pra caralho, devia calar o bico.

— É muito urgente. Juro que não vou causar nenhum problema. Só preciso do contato do cara.

— Meu, faz um empréstimo no banco, na boa. Agiota é bandido, e da pesada. Esse, em especial, é melhor manter distância. Na moral, pro teu bem.

— Eu estou desesperado. E não se acha contatos de agiotas no Google. A grana que preciso é urgente. Preciso de vinte mil.

— Vinte mil? Porra, velho, é muita grana. Sabe que tem que pagar vinte por cento de juros todo mês enquanto não pagar o valor total, né? Vinte por cento de vinte mil é... — fez os cálculos mentalmente. — Quatro mil.

— Eu consigo a grana dos juros. E vou receber um cachê pra pagar o valor total. Mas tem que ser o quanto antes. Tenho até segunda pra conseguir o dinheiro.

— Eu conheci o cara porque meu primo trabalha pra ele. O cara é mafioso, saca? Perigoso pra caralho, casca grossa. E cruel, mano. Eu paguei tudo certinho, mas já ouvi histórias que não vai querer nem ouvir. Levei dois anos pra conseguir pagar, só de juros. O valor que pedi, multiplicado. E tipo, você nem vai falar direto com ele. Tem uns caras que intermediam a parada. Entendeu como ele é chefão? Pior que traficante. Cai fora, sério.

— Eu te imploro, cara. Fala com seu primo. Não tenho outra escolha. É isso ou uma oportunidade única perdida! Eu tenho uma namorada incrível, quero dar a ela a vida que merece. Não quero decepcionar ela!

— Devia pensar nessa namorada. A família é o primeiro que eles vão atrás quando você atrasa. Mas já que insiste, é contigo. Vou falar com meu primo, ver se faço a ponte.

— Cara, muito obrigado. Não tenho palavras pra te agradecer!

— Só lembra que eu te avisei. Eu avisei...


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Será que ele vai ouvir o conselho?

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