Capítulo 121: Resgate

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Negão ouvia a gritaria em pânico, totalmente impotente. O que poderia fazer? Sair de baixo da cama e enfrentar os traficantes armados? A janela tinha grades, e mesmo que não tivesse, ainda não tinha aprendido a voar. Uma queda dali o mataria, com certeza.

— Vagabunda!

— Calma, amor, abaixa a arma!

— Abaixa o caralho, sua puta! Tu tá com os samango? Fala, porra!

— Passa ela, Canibal!

— Cala a boca!

Rafael logo entendeu o porquê de ela não dedurá-lo imediatamente. O que iria explicar ao traficante? Que transara com o entregador de pizza e o escondera embaixo da cama?

— Eu, eu não sei! Não sei de onde...

Negão ouviu um baque e o barulho de algo caindo.

— Porra! Porra! — era a voz possessa de Canibal.

— Ela desmaiou — alguém constatou.

Rafael deduziu que ela havia sido golpeada e caíra no chão.

— Ela me traiu! Vou matar essa puta!

— Ainda não! Ela tem que dizer o que eles sabem.

— Ele tá certo, mano. Se tu sentar o dedo nela a gente fica sem saber o que foi que ela vazou.

Negão fechou os olhos com força, nervoso demais para rezar. Só torcia com todas as forças para os gritos atraírem a atenção dos vizinhos e alguém chamar a polícia. Aliás, nada de polícia. Como iria explicar como fora parar ali? Acabaria se complicando com o Clube. Mais do que já estava.

— Como é que faz pra ver o que tá gravado aqui?

— Não sei. Esse modelo aí nunca vi. Deve ser de polícia mesmo. Tem nem entrada nem cabo de nada...

— Espera ela acordar. Hoje todo mundo vai comer essa vadia antes de ela morrer. Eu quero que gravem eu arrancando a língua dela e comendo.

Os outros vibraram.

— Vocês comem cu e boceta e eu como a língua.

Risadas. Urros de comemoração. Só não davam uma salva de tiros porque chamaria muita atenção.

O tempo se arrastou por uma eternidade. Os comentários demoníacos com forte sotaque carioca e carregados de gírias torturavam o psicológico de Rafael. Minutos pareciam horas. Ele segurava a respiração ao máximo temendo que fosse ouvido. Tinha medo, como nunca antes. Mas mais que isso, não queria morrer daquela forma humilhante, provavelmente torturado de formas inenarráveis. Pensou nas coisas que nunca havia feito. Torre Eiffel, Coliseu, Machu Pichu, Muralha da China... Quantos lugares nunca visitaria? Tinha dinheiro de sobra para visitar qualquer lugar do globo e jamais o usaria. Nunca teria um filho, nunca se apaixonaria de novo, nunca...

Estava chorando?

Teve vontade de rir. De gargalhar. Se sair de baixo daquela cama e mandar os bandidos se foderem enquanto as balas o transformavam em peneira. Quanto tempo já havia se passado? Dez minutos? Vinte? Uma hora? Os traficantes continuavam tagarelando, vez ou outra entravam e saíam do quarto, deixando Negão ainda mais desesperado. Vasculhavam os cômodos. Procuravam mais câmeras. Era muita sorte não procurarem embaixo da cama? Tentavam acordar Preciosa. Falavam de sangue. A pancada fora tão forte assim? Seus músculos estavam doloridos de tão tensos. Ao tentar mover uma perna de lugar, sentiu uma dolorosa câimbra.

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