Capítulo 8: Ativada

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Paula desceu do ônibus e entrou por uma rua escura; sua casa não ficava tão longe, mas era perigoso àquela hora da noite. Seus passos ecoavam mais alto que pretendia. Andou um pouco mais rápido. Percebeu que ao fim da rua subiam dois homens. Teve o ímpeto de dar meia-volta, mas achou melhor continuar; só precisaria dobrar a esquina que eles haviam dobrado e andar mais um quarteirão. Eram quase onze da noite.

Paula ergueu o rosto para dar uma olhada nos homens que vinham em sua direção. Eram adultos, visivelmente embriagados, e ambos cochichavam algo enquanto olhavam pra ela. Subiu na calçada para não passar perto deles.

Percebeu com horror que eles também mudaram a trajetória.

Não dava mais tempo dar meia-volta. Torceu para serem apenas dois bêbados idiotas que fariam apenas piadinhas por ela ser gostosa. Usava uma calça jeans apertada, que ressaltava suas curvas. Desejou ter saído com as roupas da avó naquele dia.

— Boa noite — disse de forma arrastada um deles, com um sorriso patético no rosto.

Paula ignorou. Apertou o passo. Havia passado por eles. Ouviu risadas. Um resmungo de um deles.

— Olha esse rabo! Meu Deus! — ouviu a voz de um deles já distante. Mais risadas.

Dobrou a esquina.

Porcaria. Precisava de um carro.

Seu celular tocou.

Não ia atender ali na rua. Apressou o passo. Seriam os avós?

Estava diante do sobrado. Retirou a chave do bolso, abriu a porta. Logo em seguida enfiou a mão no bolso para pegar o celular que ainda tocava.

Número desconhecido.

— Alô?

— Você está sendo ativada.

Era a voz de Aquiles.

Jacó surgiu na sala, vindo da cozinha.

— Ativada? — foi o que Paula conseguiu balbuciar, com um misto de emoções tomando conta dela.

— Deixe as coisas na sala, dê meia-volta e alcance os dois bêbados.

— O quê? Ficou maluco?

— Quem é, Paulinha? — Jacó perguntou, preocupado com a expressão no rosto da neta.

— Meia-volta, agora. Encontre os dois bêbados — insistiu Aquiles.

— E... E fazer com quê?

— Há um carro estacionado no fim de sua rua com a chave na ignição. Vá até ele. Você tem meio minuto.

A ligação caiu.

— Paulinha! Você está suando frio! O que aconteceu?

O coração de Paula estava descontrolado. Estava tonta, com a respiração pesada. Tinha que tomar uma decisão. Sabia que seria sua última chance. Sabia que podia morrer, ou ser estuprada.

— Preciso ir, vô! — deu um beijo na testa dele, deixando a mochila sobre o sofá e saindo em seguida.

— Paulinha!

Da calçada do sobrado Paula viu um Sedan vermelho estacionado na esquina. Já estava ali antes? Não havia nenhum outro carro por perto.

Final da rua. Só pode ser aquele.

O que diabos está fazendo, sua retardada? Querendo ser violentada? Dá meia-volta!

— Paulinha! — Jacó estava na calçada, preocupado. Paula teve o impulso de voltar, entrar em casa com o avô.

Mas seu instinto falou mais alto.

Continuou a andar.

Alcançou o carro. Tentou o trinco.

Aberto.

Chave na ignição.

Entrou, fechando a porta. Jacó corria em direção ao carro. Baixou o vidro.

— Vô, calma. Uma amiga minha passou mal. Deixou o carro aqui e pegou uma carona. Acabou de me ligar dizendo pra eu levar o carro pro hospital.

— Então vou com você!

— Não precisa. Te amo! Beijo!

Deu partida. Acelerou. Sabia que tinha sido uma desculpa idiota e que o avô era esperto demais pra acreditar naquilo. Mas não tinha tempo. Lá ia ela fazer algo ridiculamente irresponsável e perigoso. Qualquer coisa que acontecesse com ela seria unicamente culpa sua.

O celular tocou mais uma vez.

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