Capítulo 126: Sítio

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— Chegamos — anunciou Iguana com headphones e óculos escuros no comando da aeronave. Estavam sobre uma vasta área verde.

Paula nunca antes havia andado de helicóptero. Logo, além do nervosismo de voar pela primeira vez, havia o deslumbramento com as paisagens abaixo deles. A missão de não parecer impressionado havia sido praticamente impossível. À medida que haviam sobrevoado a cidade de São Paulo, rumo a cidades vizinhas, Iguana ia didaticamente explicando onde estavam e como ele se guiava acima do nível das nuvens. Não havia sido uma viagem rápida, mas bastante instrutiva. Ali nem parecia que aquele homem era um ser de altíssima periculosidade, nem mesmo um amante excepcional; ele era apenas um homem culto e eloquente.

— Você disse que era um sítio. Isso... É uma fazenda?

— Não — ele riu. — Apenas uma propriedade com muitos hectares. Digamos que seja um complexo com duas chácaras onde fico recluso ou promovo festas particulares. Também é onde eu guardo meus cavalos, cavalgo e descanso de minha entediante rotina.

Ser o chefão do crime é entediante? Duvido muito.

— É aqui que desova suas amantes?

— Não. Tenho um lugar especial para isso — ele riu com uma incógnita nos lábios. Algo dizia a Paula que aquilo não fora uma piadinha.

À medida que desciam, Paula ia tendo uma noção da beleza daquele lugar. Árvores, morros, riachos, cachoeira. Viu um enorme estábulo, um celeiro e cercas delimitando áreas enormes por onde alguns cavalos passeavam livremente. O helicóptero aterrissou em um espaço plano próximo a uma exuberante chácara. Adicionar descrição.

O motor parou aos poucos de fazer barulho, ao passo em que as hélices foram perdendo força. Paula sentira menos medo e ansiedade do que havia imaginado com o voo. Gostara, até.

— Este é meu refúgio — Iguana comentou tirando os headphones com um sorriso no rosto.

Refúgio da polícia?

Desceram os dois da aeronave. Paula respirou fundo. Era bom sentir o ar puro do campo.

— Venha — Iguana pegou-a pela mão. Paula surpreendeu-se com o gesto. Era simples e sutil demais para uma figura como ele. Andaram em direção a uma das entradas laterais. — Espero que não tenha tomado café ainda.

Parecia uma daquelas propagandas de margarina, com uma mesa enorme sortida de opções suculentas. Na verdade parecia também um café da manhã em um hotel cinco estrelas, mas com um toque rural: croissants, pães diversos, queijo, salame, mortadela, cuscuz, bolos, ovos, pudins, geleia, frutas, jarras de suco, garrafas de café, leite e chocolate, cappuccino e várias outras opções recheando os olhos e a mesa.

— Tem mais gente aqui?

Era uma pergunta retórica, mas ele respondeu:

— Os criados deixaram tudo pronto para nossa chegada, mas já se retiraram. Estamos completamente sozinhos — ele apimentou o tom na última frase.

— Pensou em tudo, eu admito.

Iguana riu. Os dois acomodavam-se à mesa enquanto se serviam.

— Ainda não sei seu nome — ele constatou.

— Nem seu sei o seu — disse com ar de desinteresse. Sabia seu codinome, embora ele não soubesse que ela sabia. Ao menos em nenhuma conversa deles tal nome fora citado. Estava sim curiosa, mas não queria ser óbvia e fazer a pergunta que provavelmente todos faziam.

— Pode me chamar de Iguana — finalmente se apresentou.

— Iguana? — fingiu surpresa. — Como o lagarto?

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