Capítulo 67: Julgamento (parte 12)

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Nayuri virou-se.

Era uma mulher de meia idade com a blusa da paróquia.

— Eu...

— O que fazia aí dentro, se o padre não se encontra? — a mulher alterou ainda mais a voz.

— Eu estava só...

Pensa, Nayuri! Pensa!

Como não respondia, a mulher segurou seu braço com força.

— Você está aqui há horas e deixou todo mundo entrar em sua frente, que eu vi! Estava observando você de longe. Vi também que foi falar com Josiel e os dois foram para não sei onde, porque não encontrei vocês. Agora ele chega dizendo que quebraram o vidro do carro do padre Jonas e você entra no confessionário. Não tem nada pra roubar aí!

Nayuri se enfureceu. A mulher além de segurar seu braço com força, tinha a petulância de chamá-la de ladra.

— Solta meu braço! — puxou-o de supetão, livrando-se. — E eu não sou uma ladra!

— Então o que foi fazer aí dentro? Eu vi que você ficava toda desconfiada, olhando pra todo lado. Do jeitinho que os ladrões fazem!

— Eu não roubei nada!

— Então deve ter colocado alguma coisa aí dentro — a mulher avançou em direção à porta da cabine.

Japa entrou em pânico.

— Eu não coloquei nada! — ficou estática, sem saber se puxava a mulher ou se corria.

— Eu tenho certeza de que você está aprontando alguma! — a mulher olhava dentro da cabine para todos os lados. — O que é isso?

O coração de Nayuri estava prestes a explodir. Suas pernas fraquejaram; suava frio e tremia, sentindo dificuldades de esboçar qualquer reação. A mulher saiu da cabine com a câmera na mão, olhando para a lente.

— Uma câmera? Colocou isso aqui pra quê? Pra ouvir as confissões dos outros? — virou a lente para Nayuri, possessa: — O que significa isso?

— Francisca?

A voz do padre atrás de Nayuri a fez congelar. Estava tudo perdido.

— Ela colocou isso na sua cabine, padre Jonas.

O padre passou por Nayuri, olhando-a nos olhos confuso. Pegou o objeto das mãos da mulher que chamara de Francisca.

— Uma câmera?

— Eu... Era uma pegadinha, padre. Eu tenho... eu tenho um canal no YouTube e ia... Ia fazer um vídeo gravando minha confissão....

— Você acha que isso aqui é brincadeira? — a voz serena do padre desapareceu. Agora era só um homem de quarenta e cinco anos alto, grande e furioso. — Então toda a sua confissão era apenas uma piadinha pra rirem na internet? Você está louca?

Nayuri tremia.

— A câmera, por favor...

— Foi ela quem mandou quebrar seu vidro, padre — disse o jovem que chupara os seios de Nayuri, Josiel. — Ela me seduziu e perdi a noção das coisas.

— Chamem a polícia! — disse o padre em voz alta.

A palavra polícia fez Nayuri entrar em desespero. O conteúdo da câmera era transmitido ao vivo para o Clube, ela não precisaria levá-la. E mesmo que a conseguisse e a quebrasse inventando alguma história, eles já teriam tudo arquivado, em tempo real. Vira uma vez em um documentário que quando um animal está encurralado pelo inimigo, seu instinto pode levá-lo a fazer três coisas: atacar, se esconder e correr. As duas primeiras opções eram inexequíveis.

Correu.

Ouviu gritos às suas costas, passos correndo atrás dela, mas nem olhou para trás. Só parou uns dois quilômetros depois, escorando-se em uma parede, sem fôlego, e chorando como uma criança.


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Assim finalizamos o primeiro julgamento em que Paula participa.

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