Capítulo 28: Positivo

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Anabela estava pálida, mais branca do que já era. Paula tentava acalmá-la, mesmo sem saber do que se tratava, já que ela insistira em falar pessoalmente. Sabia que a amiga não faria tanto drama se não fosse algo realmente sério.

— Respira — disse Paula sentada ao lado dela na cama, segurando seu ombro. — Me diz o que aconteceu, pelo amor de Deus!

— Não vou dizer. Vou mostrar — disse respirando com dificuldade. O rosto era de quem havia chorado bastante. Esticou a mão para a cômoda, pegando um objeto de plástico.

Um teste de gravidez.

Paula observou de olhos arregalados os dois palitinhos vermelhos.

— Diz que é pegadinha sua...

— Pior que não...

— Grávida? Belinha, você está prenha? — deu uma risada nervosa.

— Você ri?

— Eu simplesmente não acredito!

— E eu? Caramba, eu fui muito burra, cara!

— E você sabe quem é o pai?

— Está me achando com cara de prostituta?

— Sabe ou não?

— Não.

As duas riram, nervosas. Anabela suspirou fundo e Paula a abraçou.

— Como assim, sua débil mental? Como foi deixar isso acontecer?

— Não me dá bronca, por favor!

— O tanto que a gente falou sobre gravidez, cara...

— Para!

— Está atrasada há quanto tempo?

— Mais de uma semana.

— E você não me disse nada...

— Já tinha atrasado antes, você sabe. Tantas vezes que eu nem me assustava mais.

— Com quantos caras transou nos últimos dois meses?

Anabela olhou para cima enquanto pensava.

— Quatro... Não, três, porque o André, aquele novinho, ficou só no oral.

— Os três sem camisinha?

— Você sabe que eu odeio essa merda.

— Burra. Mil vezes burra!

— Chamei minha melhor amiga pra me crucificar — deixou os ombros caírem.

— Vamos ao hospital. Vamos fazer um beta. Esses testes de farmácia são falhos. E vamos investigar quem é o pai.

— Pra quê?

— Como assim?

— Não quero saber quem é o pai. Nenhuma das possíveis opções é remotamente o homem que eu gostaria de ser o pai dos meus filhos. Sem falar que sou nova, muito nova! Tenho vinte anos, Paula. Eu não quero ser mãe...

— Ei, ei, ei, calma. No que está pensando?

Anabela encarou-a, por mais que as duas tivessem bastante intimidade, para o mundo Anabela era mais reservada, fria, até. Era sua forma de mostrar aos outros que era mais adulta do que aparentava, o que de fato era verdade. Paula sempre admirara o fato de a melhor amiga ser extremamente bem resolvida, segura de si, autoconfiante. Embora fosse uma das únicas pessoas que conhecesse seu lado frágil, e a única com a qual ficava totalmente à vontade, sendo mais extrovertida. Paula conhecia aquele olhar. Era quando ela ia falar algo sério.

— Vou tirar.

— Tem certeza? — Paula tocou seu ombro, olhando-a tristemente. Sabia que para a amiga não era fácil tomar aquela decisão, mas se estava tomando, deveria ser a melhor.

— Sim. Tenho planos, você me conhece. Olha pra mim, parecendo uma menina mimada, desesperada. Não sou eu. Eu sempre tomei as rédeas da minha vida, não vai ser diferente agora.

Ficaram em silêncio por alguns segundos.

— Não sei o que dizer. Nem me imagino em sua situação. Mas você sabe que independente do que decidir, estou aqui por você, não sabe?

Anabela sabia. Era, talvez, o que mais aproximara as duas. Eram parecidas, decididas, determinadas, sem frescuras, e principalmente, podiam contar uma com a outra, fosse qual fosse a situação.

— Nada de procurar quem é o pai, então?

— É.

— Quer fazer o beta?

— Nem precisa, tenho certeza.

— Então quais são nossas opções?

— Cytotec. Pesquisei muito hoje. Tomo dois, enfio dois — fez um sinal com os dedos, simulando o ato entre as pernas.

Paula já havia ouvido falar.

— É ilegal?

— É. Vai ser meio difícil encontrar.

— Deixa comigo então. Anota em um papel o nome. É cem por cento seguro?

— É sim.

— Olha a sua cara. Você não quer fazer isso...

— Não queria, claro. Mas não há a mínima possibilidade de levar isso adiante.

Paula segurou-a pelos ombros, olhando-a de perto nos olhos:

— Se mudar de ideia, foda-se a sociedade. Eu ajudo você a criar o bastardinho. Vou ser o pai e você a mãe.

Anabela riu, emocionada ao mesmo tempo. Sabia que era verdade. Abraçaram-se apertado.

— Dorme aqui hoje?

Paula teve o impulso de aceitar, mas lembrou-se do Clube.

— Quando eu voltar da academia.

— Por falar nisso, como vai com o Tenório?

— Bem lembrado!

— O quê?

— Ele tem uma farmácia também.

— E...? Ah! Será que ele...

— Nem que eu tenha que dar pra ele.

— Te amo! — beijou-a no rosto. — Eu te empresto meu carro.

— Não precisa. Esqueci de te falar. Estou de carro.

— De quem?

Paula inventou mais uma história que envolvia financiamento por parte do avô. Não era um carro nada barato, ela sabia, mas nada tão oneroso que não coubesse em sua mentira. Odiava ter de mentir para Anabela, mas era o jeito. Por enquanto tinha que se concentrar em um plano para conseguir o medicamento. Já tinha um em mente.


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Tenho medo desses planos da Paula...

Clube Proibido [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora