Capítulo 58: Julgamento (parte 3)

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Nayuri tirou a roupa e jogou-se nua na piscina. Mergulhou até o fundo e nadou até a outra extremidade antes de subir à superfície. Puxou fôlego, tirando os cabelos de cima do rosto. Havia tentado durante o dia inteiro expulsar da mente os maus pensamentos, a ansiedade, mas a proximidade de seu julgamento a deixava louca. Sara era perversa, sabia como extrair os piores medos de alguém e puni-lo com eles.

Seu primeiro erro fatal havia sido logo no início, pouco depois de fazer parte do Clube. Japa havia falado ao alvo do desafio que se tratava de um desafio. Devassa a condenou a limpar toda a boate sozinha e os banheiros, inclusive os vasos, com a boca. Mãos nas costas e esponja presa aos dentes. O cheiro e o gosto de água sanitária e detergente misturaram-se ao de urina e vômito. As palavras de Sara foram:

— Se não consegue segurar a boca, vai usá-la para algo útil...

Mas apesar de trabalhoso e humilhante, a punição não havia sido a pior. Em outro vacilo que dera durante um desafio, foi penitenciada a não falar uma única palavra com absolutamente ninguém por uma semana inteira. Talvez parecesse aos olhos dos outros algo não tão terrível assim; mas para Nayuri falar era uma forma de não se sentir só, de manter-se viva, de lembrar a si mesma que ainda respirava. Tinha pavor de solidão, e não falar havia sido traumatizante. Ainda assistiu a um dia de aula, fingindo estar com uma inflamação na garganta, mas teve crise de ansiedade e voltou para casa às pressa. Sabia que era monitorada o tempo todo, e embora não soubesse como, obedecia, temendo punições piores. O silêncio, mesmo com sua companheira Yoko fora insuportável. Acostumada a conversar por horas antes de dormir com a gata, dar-lhe comandos e cantar para ela, era obrigada a se calar. Quando finalmente voltou a falar, chorou copiosamente. E, talvez por isso, falou mais do que já costumava.

Mas o pior com certeza havia sido o castigo em que fora jogada em um porão escuro, em um lugar que desconhecia, por quarenta e oito horas, que pareceram anos. Tinha para comer apenas pães jogados no chão de cimento empoeirado e para beber uma garrafa pet de dois litros de água. Nayuri entrara em pânico, esgoelara-se pedindo socorro e chorara até perder as forças. O medo da solidão era tamanho que desejara morrer várias vezes e só não se matou por não ter nenhuma ferramenta. A vida quase toda Nayuri fora rejeitada pela família, tivera relacionamentos tóxicos devido ao seu ciúme doentio — fruto de seu medo de ficar só. — e vivera em função de ter sempre pessoas ao seu redor. Ficar trancafiada no mais completo breu era sufocante, aterrorizante. Sem falar em sua preocupação com Yoko, sozinha no apartamento, com fome e sede, achando que havia sido abandonada.

Mergulhou de novo na piscina, torcendo para que aquelas lembranças ficassem dentro da água. Queria transar. Era uma forma de desopilar. Era seu vício. Transava com quem estivesse disponível apenas para se sentir melhor e naquele momento daria tudo para ser penetrada ou chupada por alguém. Ficou por dez minutos indo e vindo para cada extremidade da piscina, nadando de todas as formas que sabia. As palavras de Devassa ainda reverberavam em sua cabeça:

— Da próxima vez será algo bem pior. Melhor não fazer mais nenhuma besteira que exponha o Clube.

Japa havia feito, talvez, a maior de todas. E ninguém poderia salvá-la.

— Japa!

Nayuri virou-se. Era Valentina.

— A etapa dos julgamentos vai começar. Você precisa estar lá.

— Já?

— Você está aqui há meia hora.

— Eu sei — disse cabisbaixa, saindo da piscina e caminhando em direção à toalha. Enxugou-se, enrolando-se em seguida. — Vou assim mesmo — deu um sorriso triste.

— Você está bem?

— Na verdade, não.

Valentina não soube o que dizer. Apenas pegou-a pela mão e caminharam em direção à porta de vidro.


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