Capítulo 170: Abate

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Ludo estacionou o carro na esquina. A rua estava tão vazia quanto o resto do bairro. No banco de passageiro, Valentina estava tensa.

— Se não quiser, posso dar meia volta agora mesmo — Ludovico falou, vendo o nervosismo dela.

— Não. Se você diz que posso confiar em Paula, eu confio em você.

— Mas você está muito nervosa...

— Já passei por muita coisa — olhou o próprio rosto no retrovisor. Ainda havia resquícios do espancamento. Seu cabelo não mais era ruivo ou longo; agora era bem curto e castanho claro.

— Posso ir com você...

— Não. Ela disse que tenho de ir sozinha.

— Boa sorte. Vou esperar por você.

— Obrigada, Ludo — ela se inclinou para o lado, beijando sua face.

Valentina destravou o cinto de segurança, saindo em seguida do carro. A noite estava fria. Seus instintos a diziam a todo momento para voltar para o veículo e sumir dali, mas sua curiosidade como sempre era maior. Desceu a calçada, olhando ao redor paranoica; São Paulo era uma cidade perigosa, ainda mais à noite, ainda mais para uma jovem desacompanhada. Dobrou a esquina, andando rente ao muro de uma escola, onde do outro lado da rua havia estabelecimentos fechados. Aquela região não tinha residências. Por que Paula havia marcado justamente onde ninguém poderia ouvi-la? Andou meio quilômetro antes de avistar Paula encostada em seu carro vermelho. Valentina sentiu as mãos suarem. E se Paula tivesse mudado de ideia e resolvido entregá-la ao Clube? Cem mil reais e graduação. Quem resistiria? Marvin havia resistido. Marvin jamais a entregaria e ela sabia disso. Fora mais que um mentor: o irmão mais velho que ela nunca havia tido. Paula teria coragem de fazer uma armadilha mesmo depois de ser salva graças à ligação que ela havia feito? Parou de andar quando chegou perto o suficiente do carro. Olhou em todas as direções discretamente procurando alguém escondido.

— Adorei o visual. Quase não te reconheci.

— Essa era a intenção.

— Está muito nervosa.

— E não deveria?

— Confiou vir até aqui. Ou confia muito em mim, ou é muito burra.

— Confio no Ludo.

— A confiança em uma pessoa não se estende a terceiros. Ludo não me conhece.

Valentina sentiu o coração acelerar.

— Por que me chamou até aqui?

Paula estava diferente. Havia nela um ar de superioridade que não estava ali na última vez em que tinham se encontrado.

— Você tem ciência da escuta que Marvin colocou em seu telefone?

— Sim. Na verdade, ele não colocou. Me falou sobre, mostrou, e provou que não havia colocado.

— E não me disse nada a respeito.

— Como assim?

— Sabia das escutas e não me avisou. Eu e você falando de Heitor Pimenta, seus planos de investigar o Clube, e você em nenhum momento se preocupou em haver uma escuta em meu telefone?

— Não havia. Perguntei a Aquiles.

— E acreditou nele.

— Ele me provou.

— Por que faria isso?

— Ele é uma pessoa melhor do que aparenta ser. O que significa isso? Por que me trouxe aqui?

Clube Proibido [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora