Capítulo 95: O Vale dos Vagalumes

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Onze anos atrás


— Uau!

Leandro apoiou o violão no chão, embasbacado com o cenário. Sara deleitava-se com sua reação, sentindo orgulho do que mostrava.

— Gostou?

— Está brincando?

Era um pequeno vale entre dois morros. A trilha que os levara até ali era quase que completamente obstruída. Mas a paisagem compensava. Não tanto pelo vale em si, mas pelos milhares de pontinhos piscando no ar, quase em sincronia.

— Eu chamo de Vale dos Vagalumes. É meu lugar favorito no mundo.

— Nossa! Nunca vi tantos em um único lugar!

— Aqui é bem escuro à noite, por isso eles se reúnem aqui — Sara sentou-se em um tronco de árvore caído. — Eu li que eles precisam da escuridão para poder piscar, e através dessa luz que eles se acasalam. Não sei explicar bem ao certo, mas é essa a ideia — ela riu, achando-se péssima em explicar. — É difícil ver eles nas cidades porque tem muita luz artificial.

— Há muita poesia nisso — Leandro sentou-se ao lado dela. — Então quer dizer que sem escuridão eles não existem.

— Exatamente.

Leandro abriu o case do violão e tirou-o de dentro.

— Será que eles se incomodam com uma canção?

— Duvido muito.

Leandro tocou e cantou uma música suave, cuja letra falava sobre paz. Era o que aquilo lhe transmitia. Ao fim da canção, Sara o aplaudiu.

— Sua voz é linda!

— Aposto que a sua também é. Quer que eu toque pra você cantar?

— Não, não! — Sara enrubesceu. — Eu devo soar como um ganso perto de você.

— Não vou te julgar, prometo!

— Ok... — Sara ainda estava relutante. — Você toca... sei lá... Kid Abelha?

— Depende. Qual?

— "Como eu quero".

Ao invés de responder, Leandro começou a tocar. Sara foi tomada pelo nervosismo, a ansiedade consumindo-a cada vez que a melodia chegava mais perto de sua entrada.

— Diz pra eu ficar muda... — começou a cantar, e ao decorrer da música foi se soltando mais, ficando mais à vontade e desafinando cada vez menos. Leandro e ela se entreolharam, sorrindo.

Ao fim da música foi a vez dele bater palmas.

— Você é um diamante bruto, garota! Sua voz é muito linda, só precisa trabalhar mais a afinação em algumas notas, mas com o direcionamento certo...

— Você fala sério? — pela segunda vez, Sara fez algo que raramente fazia: enrubesceu. Quase ninguém era capaz de deixá-la sem jeito. Os elogios de seus colegas e de todos que a conheciam não lhe soavam verdadeiros. O de Leandro, que não tinha ideia de que família ela era, soava sincero. E isso era desconcertante para ela.

— Sua voz é diferente. Grave e ao mesmo tempo... Eu nunca ouvi algo assim, juro! Pode cantar outra, por favor?

— Claro... — disse encabulada, com um sorriso envergonhado no rosto. — Pode ser do Kid Abelha também? É minha banda favorita.

— Eu sei algumas.

As horas passaram rápido demais. Os dois revezavam no vocal e os vagalumes pareciam dançar ao som de suas vozes, passeando entre os galhos das árvores. Uma filmagem de videoclipe era o que parecia.

— Ainda não sei seu nome.

— Sara.

— Lindo nome.

— Obrigado. O seu também não é feio.

— Minha mãe também não achava — riu.

— O que significa o "E"?

— É de Estevez. Leandro Estevez, mas preferi o nome artístico Leandro E.

— É diferente. Mas preferia com "Estevez".

— Tenho trauma. Meus coleguinhas de escola viviam fazendo trocadilhos. "Leandro Estevez aqui."

Sara riu.

— Pensando bem...

Leandro observou-a por um segundo, admirando-a.

— Você é louca, sabia?

— Por quê?

— Sou um forasteiro, um estranho, e mesmo assim você me traz aqui pro meio do mato, longe de todo mundo...

— Eu disse, eu sei me defender.

Mas Sara sabia que na verdade, o que estava fazendo era sua própria escolha. Uma escolha potencialmente irresponsável e perigosa, mas sua. Um dos poucos momentos em sua vida em que não fora monitorada pelos pais.

— Ai meu Deus! Que horas são?

— Não sei. Por quê?

— Meus pais vão me matar! — levantou-se às pressas. — precisamos ir!

— Você disse que esse é seu lugar favorito, então costuma vir aqui à noite.

— Mas passo pouquíssimo tempo. Estourei qualquer limite!

— Espera, eu vou com você! — ele abriu o case para colocar o violão dentro.

— Está louco? Ninguém pode ver a gente saindo juntos daqui. Principalmente porque estão me procurando. Tchau! Adorei a noite com você! — falou já caminhando e acenando.

— Tchau... — Leandro acenou esmorecido, vendo-a partir entre as árvores. Viu a lanterna de seu celular acender e iluminar o caminho escuro, sem a chance de se despedir da forma que queria.

Viajaria na manhã seguinte.


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Que cena fofa! Deu vontade de ouvir Kid Abelha.

Mas será que isso terá um final feliz?

O que terá transformado Sara em Devassa?

Breve a resposta, e próxima quinta novos capítulos!

Inté!

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