Capítulo 173: Travesseiro

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ATENÇÃO! Antes de ler o capítulo, por favor, ouça a música acima, veja a letra, pois ela resume a história de Sara e Leandro de forma melancólica e triste. Relembrem de quando fugiram, com a música alegre e motivante "brand new day", de Ryan Star. Aqui se encerra a história de amor com Radiohead. Entre no clima. E leia ouvindo. Vai valer a pena.

Oito anos trás

Sara soltou a fumaça dos pulmões, observando-as se esvaírem no ar. O vento frio e o céu nublado refletiam sua alma. Ignorava os olhares passageiros que a julgavam. Fumando diante de um hospital, grávida. Sentiu a barriga mexer.

— Se não gostou, morra — sussurrou para o ventre protuberante.

Havia cansado de chorar, de lutar contra o inevitável. Jogou o cigarro no esgoto. Era hora de encarar seu destino. Voltou ao hospital, sentindo que cada passo a puxava para trás. Entrou no elevador, subindo até o sexto andar com os olhos fechados. Caminhou pelo corredor com o gosto de bile negra na garganta. Parou diante da porta um segundo; encostou a cabeça na porta, espremeu os olhos. Abriu a porta.

Leandro abriu os olhos assim que ela entrou; era o máximo que conseguia mover do corpo inteiro. Estava entubado após os órgãos terem falhado, de novo. Havia eletrodos espalhados pelo seu corpo, e acesso na veia. Era um quase um boneco inanimado.

Sara passou a mão por seu cabelo. Tentava segurar a dor que se manifestava em lágrimas.

— Sabe, quando me fez aquele desenho? Acho que naquele exato momento eu me apaixonei por você — sorriu. Um sorriso triste. — E me apaixonei ainda mais quando te conheci melhor. Nunca tinha visto alguém tão... livre! Você respirava arte, você era arte. E eu entendo sua frustração. Fez a princesinha da cidade fugir de seus luxos e regalias para passar necessidades...

Leandro chorava.

— Mas foram os melhores anos da minha vida. Fugir com você me fez sentir viva. O amor que sinto é verdadeiro, como nas músicas que cantamos... Eu entendo sua frustração... Mas você entende a minha? — limpou os olhos molhados. — Ver o amor de minha vida querer se matar e não poder fazer nada? Eu larguei tudo por você, independente da vida que levaria. E no final, nem chegamos a transar. Engravidei do homem que tirou sua vontade de continuar respirando. E você me impediu de abortar. Entende minha frustração?

Leandro a olhava fixamente enquanto chorava. Queria dizer algo, com certeza, mas não conseguia.

— Você não pode mais tentar se matar. Mas esse é seu desejo. Você não quer viver sem os movimentos das mãos, criando o filho de outro... É cruel me pedir isso, Leandro. Vejo em seu olhar que é o que quer.

Leandro não podia mover a cabeça, mas conseguia expressar nos olhos que concordava com o que ela dizia.

— Eu te amo — Sara fazia um esforço sobre-humano para falar quando a vontade era de chorar incontrolavelmente. — E sempre vou te amar. E vou ter essa criança. Vou dar ela a quem possa dar o amor que nunca conseguirei. E, caso algum dia me arrependa, vou me certificar de que não volte atrás.

Sara pegou o celular dentro da bolsa e posicionou sobre o balcão próximo à parede. Iniciou uma gravação.

— Não vou te deixar sofrer mais nenhum segundo, meu amor. Vou acabar com isso — foi até ele e beijou sua testa, chorando, com o queixo trêmulo. — Se eu pudesse voltar no tempo, eu faria quase tudo de novo. Só que jamais viria pra São Paulo. No Nordeste talvez nossa história fosse diferente. Mas qualquer que seja a história, teria que ter você.

Sara pegou o travesseiro de baixo da cabeça dele, gentilmente. Leandro a olhava com paz no olhar. Fechou os olhos.

— Te amo.

Sara pressionou o travesseiro sobre o rosto dele, revendo em sua mente a vida que tiveram juntos.

Cantando no Vale dos Vagalumes.

Recebendo o desenho dele.

O primeiro beijo.

Ele jogando pedras em sua janela.

As longas viagens juntos.

O banho na cachoeira.

Seu sorriso.

O jeito que olhava para ela, apaixonado.

Então tudo se foi.

Retirou o travesseiro, entrando em pânico. A máquina começou a apitar.

Leandro estava morto.

Colocou o travesseiro embaixo da cabeça dele, novamente. Pegou o celular e encerrou a gravação. Sentou no chão, chorando inconsolavelmente. Os médicos e enfermeiras entravam em câmera lenta. Sara sabia que seria uma assassina para sempre.

Mas aquela não seria a primeira vez que mataria alguém.

Com certeza não.

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Vocês esperavam por isso?

Por que Sara gravou o vídeo? Com que propósito? 

Basta pensar um pouco, pois já foi respondido.

Estamos chegando ao fim.

Acreditem, ainda tem surpresas!

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