Capítulo 107: Condição

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O cheiro de maconha impregnava o ar como incenso. O céu estava nublado, sem estrelas, com a ameaça de iminente chuva. Embora fosse noite de julgamento, o clima era de festa. Era esse clima de comemoração que revoltava Valentina ainda mais. Observava seus colegas de Clube se divertirem, nus ou seminus, cantando em coro enquanto Lenhador tocava violão na área externa da sede. A ruiva observava-os à distância, tragando nervosamente um cigarro após o outro. Eram prisioneiros e não sabiam ou não se importavam? Será que não passava por suas cabeças o que aconteceria com eles quando decidissem se "aposentar"? Como ela queria chutar o balde e pedir a ajuda deles, mas sabia que isso significaria ter o mesmo destino que a Ninfeta anterior. Era angustiante, desesperador, como um entalo que nunca passava.

A pior parte era tentar não transparecer tudo que estava sentindo. Relembrar seu reencontro com o filho da puta do Heitor Pimenta era como alimentar-se com doses amargas de veneno.

— Tem uma semana para entregar a desgraçada do resort — dissera Heitor em sua cadeira em seu gabinete na assembleia, com as pernas esticadas e um sorriso nojento no rosto.

— Eu vou chamar a polícia, seu porco! — ela ameaçara dar mais um passo, mas sabia que apelar para a violência seria burrice.

— Faça isso e ele será torturado até a morte. Juro por Deus! — beijara os dedos cruzados e dera uma risada debochada.

A ideia de seu namorado ser torturado fizera Valentina estremecer.

— Como vou saber se ele não está morto?

— Ele foi convidado a seguir meu funcionário. E a entrar no carro, sem alardes. Está muito bem, isso eu garanto.

— Convidado sob a mira de uma arma!

— Um mero detalhe, garota. Agora, não posso garantir a saúde física ou mental dele caso você não entregue a vagabunda. O tempo está passando.

Se ele a havia encontrado era porque havia rastreado a placa de seu carro. Um bandido como ele tinha acesso a esse tipo de informação. Mas independente de quem a havia seguido, não tinham chegado até o Clube. No máximo a teriam visto entrar na Clube Proibido e a seguida perdido de vista. Agora precisava urgentemente decidir o que fazer. Entregar Paula ou arriscar pedir sua ajuda. Em ambos os casos tinha certeza de que não teria Ray de volta. O Clube logo descobriria que ela havia quebrado as regras e o resto ela já imaginava.

— Ei, guria!

A voz de Rafael a sobressaltou. Ele estava de sunga com uma lata de cerveja na mão. Sentou-se ao lado dela na borda da piscina.

— Oi, Rafa. Não vi você chegar.

— Também, voada como você está... Aconteceu alguma coisa? Todo mundo está se divertindo, menos você.

De fato, com exceção de Latino, até mesmo Devassa se divertia cantando. Valentina tentou segurar a emoção. A vontade era de chorar, de pedir socorro. Sabia que Negão a ajudaria, mas não tinha coragem de se abrir para ele. Muito menos ali, sob vigília constante das câmeras e escutas.

— Nada demais. TPM — deu um sorriso sem graça.

— Tem certeza?

— Tenho sim.

— Então prova e vem cantar com a gente — ele estendeu a mão.

A contragosto, ela segurou a mão dele. Tinha de ter sangue frio, deixar as emoções de lado e usar ao máximo sua inteligência para sair daquela situação. Seguiu Rafael em direção à roda.


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