Capítulo 142: Vamos fugir?

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Onze anos atrás...

— Sara! — Toc! Toc! Toc! — abra a porta, por favor. Sara! — Toc! Toc! Toc! — Por Deus! Você precisa comer, filha!

Sara não respondeu. Assim como não havia respondido das outras vezes. Sua mãe só sabia que ela estava viva porque a música em alto volume mudava de faixa. Era seu segundo dia inteiro sem comer absolutamente nada.

— Uma greve de fome não vai fazer seu pai mudar de ideia, Sara.

Greve de fome? Que ideia ridícula.

Sara resolveu não falar nada. Não queria discutir, nem forças tinha para isso. Sentia um aperto nas entranhas, um entalo incessante na garganta, mas não era fome, ou sede. Ao menos, não sentia a mínima vontade de beber ou comer. Às vezes cochilava, mas acordava de rompante, arrancada de seus curtos pesadelos. Sentia um buraco negro em seu peito ansiando por consumi-la por completo, por sugá-la até que definhasse.

Mas aquilo não era tristeza.

Era vazio.

E ódio.

Sara estava oca, mas também estava transbordando de veneno. Só desejava que aquilo a matasse. Antes que ela matasse alguém. Seu pai não podia vencer. Sair ileso. Não. O maldito merecia uma derrota humilhante. A ideia a fez sorrir. Ver o pai sofrer. E a mãe também. Sua submissão a enojava. Ela merecia sofrer tanto quanto ele.

Pensou em se matar.

Sim. A mãe com certeza entraria em desespero, quem sabe até em depressão. E o pai talvez se sentisse culpado. Talvez fosse assombrado por ela, pelo remorso.

Deu uma risada.

Fabrizio Cobaltini sentindo remorso? Ele precisaria de coração para isso. De uma alma. Isso ele definitivamente não tinha. Não. O que realmente o faria sofrer seria a falência, a perda do poder, da influência. Sim. Isso o faria enlouquecer. Ah, como queria vê-lo frágil uma única vez na vida. Sara ficou olhando para o teto com este pensamento. Isso a fez sorrir.

Sua mãe já havia desistido. De novo. Já devia ter pedido ajuda para o marido, mas Sara sabia que seu pai jamais a adularia para qualquer coisa. Quando ele quisesse que ela saísse, derrubaria a porta. Mas até lá, com certeza, diria algo do tipo "isso vai deixá-la mais forte".

Sara piscou, de sobressalto, com o barulho no vidro da janela. Algum inseto ou pássaro pequeno devia ter se chocado contra ela.

Tec!

Outra vez. Só que agora Sara viu que não eram insetos ou pássaros. Eram pedrinhas. Esperou que a terceira fosse lançada para se levantar. Sentiu tontura; estava fraca, de boca seca. Andou a passos pesados até a janela. Abriu as cortinas, observando através do vidro a noite fria.

Ao olhar para baixo, teve a priori uma imensa surpresa, que em uma fração de segundos se transformou em uma gargalhada mortiça. Seu ódio perdeu forças. Seu riso era de felicidade. Euforia. Logo vieram as lágrimas.

Abriu as folhas de vidro.

— Leandro!

Ele estava com um sorriso de orelha a orelha, com os olhos brilhando tanto quanto os dela. Levou o indicador aos lábios, pedindo silêncio.

— Você está horrível, meu amor — ele disse o mais baixo que pôde, que ao mesmo tempo ela fosse capaz de ouvir. — Você está doente?

— Sério, senhor Leandro? Pedrinhas na janela? Não sei se isso é mais clichê ou mais brega. Acho que o extremo dos dois.

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