Capítulo 6: Segredo

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Não ter a quem contar um segredo seria algo horrível, mas ter a quem contar e não poder contar era insuportável. Anabela era sua melhor amiga, nunca escondia absolutamente nada; como podia esconder um segredo tão... inconfessável? Por várias vezes teve o ímpeto de ligar ou mandar mensagem à amiga para marcar um encontro, mas lembrou-se do que Aquiles a havia dito. Lembrou-se que Aquiles sabia do apelido que Ludovico lhe dera, o que deixava claro que ele tinha meios de ouvir a conversa.

Regra número cinco: O clube nunca deve ser mencionado, nem os nomes de seus membros.

Paula lembrava-se muito bem da regra. Na verdade, havia decorado todas, inclusive a ordem, tal qual um religioso decora os dez mandamentos. Resolveu tentar se conter até descobrir como funcionavam as coisas de fato. Havia ainda muito que processar.

— Em casa em pleno domingo, Paulinha? — estranhou Jacó vendo a neta deitada no sofá da sala usando uma regata e um short de algodão. — Está se sentindo bem?

— Falando assim até parece que sou uma neta ausente.

— Você é uma neta ausente.

— O senhor também seria se fosse seu próprio neto.

Os dois riram. Paula afastou os pés para Jacó se sentar.

— Não está mal por causa do namoradinho afeminado, está?

— Nem me lembrava dele.

— Nem sente falta?

— Não. Um pouco. Sei lá.

— Confessa: ele que fazia suas unhas.

Paula riu.

— Se eu pedisse ele faria.

Jacó riu, levantou-se e pegou o controle remoto sobre a mesa de centro, voltando ao assento. Apertou o botão com força várias vezes até a TV de trinta e duas polegadas ligar.

— Preciso comprar uma nova.

— Verdade, vô. Essa deve ser a última TV em tubo da face da Terra.

— Eu sou old school — sorriu. — Mas confesso que se pudesse comprava uma nova imediatamente. Sinal digital e tudo mais.

Paula sentiu-se mal. Tinha uma Smart TV de quarenta polegadas em seu quarto, Full HD. Imaginava que o avô não ligava muito para modernidades. Percebeu que estava sendo egoísta. Lembrou-se do dinheiro na conta.

— O senhor não foi hoje à igreja com a vovó por quê?

— Não existe protetor solar que salve minha pele do fogo quando entro naquilo.

Paula riu.

— Eu sei que o senhor é ateu. Mas a vovó gosta de sua companhia.

— Eu sei, Paulinha. Na verdade até ia hoje, mas ontem fiz uma piadinha herege e a Miranda ficou com raiva. Disse que vai rezar pela minha alma.

— Boa sorte pra ela.

Novas risadas. Paula trocou de posição para colocar a cabeça no colo do avô enquanto assistiam a um programa na TV aberta. Paula distraiu-se pela primeira vez do turbilhão de coisas em sua cabeça. Durante um comercial, uma mulher faziam compras em um shopping, carregando dezenas de sacolas.

Paula sorriu, satisfeita.

— Ei, onde você vai, menina?

— Desopilar.

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