Capítulo 85: Princesa

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Onze anos atrás

O décimo sétimo aniversário de Sara havia sido como todos os outros: com fartura, decoração luxuosa e grande estrutura de som e luz. Dezenas de convidados reunidos no salão de festas do bairro, anualmente alugado pelos Cobaltini. Ela mesma havia ajudado na decoração, tão empolgada quanto nos anos anteriores.

Sara desfilava entre os convidados com orgulho. Orgulho de ser a única da cidade a ter uma festa como aquela, de ser a mais bela, a mais invejada. A princesa com sangue italiano. Desde cedo já era alta e cheia de curvas, com madeixas douradas impecáveis e o rosto mais simétrico que a pequena cidade mineira já havia visto. O pai, Fabrizio Cobaltini, era um homem alto, imponente, de semblante severo e cabelos e olhos castanhos. Mudara-se para o Brasil assim que conhecera a esposa, Sandra, de quem Sara herdara a pele branca e os cabelos loiros. Sandra Cobaltini era tão bela como a filha; uma versão mais madura e sofisticada. Até dos pais Sara se orgulhava: os pais chamavam a atenção pela beleza e pelo dinheiro que ostentavam. Todos conheciam os Cobaltini, todos conheciam Sara Cobaltini.

Inclusive todos os homens da cidade.

Os homens estavam divididos entre os que não tinham coragem de se aproximar de Sara por falta de autoestima, os que tinham medo de Fabrizio e os que se aventuravam a cortejá-la. Desde cedo Sara fora instruída a dizer não, a não se misturar pelo seu próprio bem. Como dizia sua mãe Sandra, se houvesse se envolvido com os moradores da cidade, provavelmente teria outra filha, outros filhos, e jamais teria tido a oportunidade de conhecer o maravilhoso italiano que viria a se tornar seu marido. Dono de uma franquia de restaurantes e vários hectares de terras cultiváveis na Itália, Fabrizio ainda conseguia ser um homem atraente, charmoso e sedutor. Sara ouvia a mãe. Concordava que seu pai era uma espécie de lorde, um rei. Por isso era a princesa. E princesas não se envolvem com qualquer um, não emprenham de um pé rapado e se tornam donas de casa. Fabrizio era bastante claro quanto a isso: sua filha jamais iria servir a ninguém. Seu destino era ser servida.

Por isso planejava levá-la para a Itália, apesar de ela e a mãe serem contra. Durante a festa ele tocou no assunto, aproveitando a ocasião:

— Essa cidade é pequena demais pra você, filha. Este país é pouco. Este continente é pouco. Você merece a Europa. É lá que estão os grandes castelos.

— De novo, pai? — Sara revirou os olhos.

— Filha, você ainda é muito nova pra entender, mas...

— Pai, eu tenho quase dezoito. Eu sei o que eu quero.

— Todos achamos que sabemos nessa idade.

— Eu amo meu país. Eu quero bater asas e voar, mas não para outro continente. Quero estudar, me formar, criar minha própria carreira.

— Isso é para os que não têm um futuro certo, Sara. Você vai herdar tudo que é meu quando eu e sua mãe...

— Ei, parou — colocou o dedo indicador delicadamente na boca dele. — Eu sei que é importante pro senhor manter o negócio da família na família, e não quero desapontá-los, jamais, mas eu não me vejo como empresária. E hoje é meu aniversário, lembra? Quando soprei a velinha desejei que o senhor deixasse de ser cabeça dura — beijou a testa de Fabrizio.

Fabrizio suspirou fundo, derrotado.

— Ainda vai amadurecer, menina. Uma hora vai entender a importância de prover para os que ama.

— Que conversa de velho — ela sorriu beijando-o no rosto. — Te amo, pai.


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O monstro Sara já foi princesa? Quem diria...

O que será que aconteceu com ela pelo caminho?

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