Capítulo 45: Lixo

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As duas entraram no quarto; Paula trancou a porta.

— Desculpa, Bella...

— Por ignorar minhas ligações ou pelo fato de ignorar sua melhor amiga? — Anabela usava uma blusa roxa de mangas compridas com estampa de caveira e flores.

— Eu estava muito ocupada, de verdade, a cabeça cheia...

— Tanto que não dava pra atender sua amiga? — disse irritada. — Ao menos mandar uma mensagem mandando eu parar de encher o saco?

— Eu precisava de um tempo — disse sentando-se pesadamente em sua cama.

— Um tempo?

— Eu andei pensando, Anabela. Sobre sua decisão.

— E...?

— Eu consegui o remédio, mas não sei se entrego a você.

Anabela fez uma careta de incredulidade.

— Como é?

— Você está agindo por impulso. Talvez...

— Ei, ei, ei... Paula, você me conhece. Eu por acaso tomo decisões precipitadas?

— Não, eu sei que não. Mas você precisa me escutar. Sou sua melhor amiga, a única a quem você dá ouvidos. Se fizer merda e eu não impedir, estarei ajudando a te ferrar...

— Eu fiz merda quando deixei gozarem dentro sem tomar pílula. Paula, você anda muito estranha, cara. Nem te reconheço mais! Nunca foi de me ignorar, muito menos quando mais preciso. Ainda mais cheia de segredos que não compartilha comigo e agora isso!

— Bella...

— Desde quando você arranja um esquema sério e não me diz?

— Não estou com nenhum esquema sério.

— E o cara que te deixou em casa bêbada, o mesmo que veio te buscar num carrão amarelo? Não sou burra, Paula. Você surge com um carrão zero vermelho do nada, com dez mil no bolso e diz que foi empréstimo. Não acredito que não confia mais em mim!

Paula passou a mão nos cabelos, organizando os pensamentos. Não podia introduzir Aquiles na vida de Anabela. Poderia colocá-la em perigo.

— É só um amigo rico, nada demais. Conheci na faculdade. Playboyzinho. A gente não tem nada, sério. Só um cara que me levou pra uma festa e me trouxe de volta. Não menti sobre a grana. Foi empréstimo.

Anabela respirou fundo. Deitou-se de costas na cama.

— Ai, minha vida está virando um inferno! Entrega logo esse remédio pra eu pôr um fim nisso de uma vez.

— Precisamos falar sobre isso...

Anabela levantou-se, irritada.

— Não há o que conversar Paula. Deus, eu já me decidi! Eu quero tirar e pronto, está decidido!

— Shhhhhhhhhh! — Paula pediu silêncio. — Meus avós vão te ouvir.

— Se vai me ajudar, entrega logo. Se não puder encontro outro jeito. Eu só não procurei porque confiei em você. Você sempre consegue tudo que quer.

— Eu consegui. Está comigo. É só que...

— Vai tomar no cu, Paula — Anabela andou em direção à porta.

Paula segurou-a pelo braço.

— Não me força a bater em uma grávida. Senta aí na cama sua branquela azeda!

Anabela recuou alguns passos, emburrada e cruzou os braços.

Paula abriu uma gaveta e retirou uma caixa de comprimidos.

— Está aqui — jogou para a amiga, que descruzou os braços para pegar a caixa no ar. — enfia dois, toma dois. Só tenha uma coisa em mente: se o aborto não for bem sucedido, você vai ter um bebê deformado.

— Desencana, Paula. Eu li sobre. As chances de sucesso são...

— Leu na internet, não foi? Muito bem. Vai, se arrisca. Sem falar que vai sentir uma dor de morte. Você vai se arrepender amargamente se não der certo; pode ter sequelas e nunca mais poder engravidar. Os restos do aborto podem apodrecer dentro de você e infeccionarem, te matando! Quer acreditar na internet? O Tenório me alertou sobre vários casos. Ele só me vendeu porque quer me comer. Ele vai me foder e eu vou foder com sua vida. É isso que você quer?

Anabela ficou desconcertada, pensativa.

— Retiro o "vai tomar no cu" — sussurrou dando as costas e saindo do quarto. Era seu "obrigado". Paula a acompanhou.

Anabela se despediu dos velhinhos e ao sair, estacou. Paula sussurrou um putaquepariu.

Aquiles estava em uma moto preta robusta, ao lado de seu carro amarelo, usando óculos escuros. Ao seu lado, um rapaz de cabelos negros bonito e estiloso. Paula fuzilou Playboy com os olhos.

— As chaves, morena — ele estendeu a mão.

Paula enfiou a mão no bolso da calça jeans que usava e retirou as chaves, sentindo o ódio borbulhar. Aquiles percebeu seu desconforto, mas não deu atenção. Destravou o carro e abriu a porta.

— Se houver algum arranhão, coloco em sua conta.

O rapaz de cabelo escuro subiu na moto e Aquiles entrou em seu carro. Os dois partiram, deixando Paula extremamente sem jeito.

— Ele me emprestou, e...

— Não perca seu tempo. Se não quer contar, não deve mais ser da minha conta. Se faz tanta questão de guardar segredos de mim agora, deve ter seus motivos. Valeu pelo medicamento — e caminhou calçada abaixo.

Paula não teve coragem de segui-la e tentar arranjar uma desculpa. Quem em sã consciência iria emprestar um carro daqueles a alguém com quem não tivesse algum envolvimento? Sua história cheia de buracos havia lhe causado um tombo feio.

Com o peso de suas mentiras, Paula voltou ao sobrado cabisbaixa. Subiu ao quarto, caiu na cama sentindo-se um lixo. O cansaço foi maior. Caiu no sono.


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Bons sonhos, Paula. 

Clube Proibido [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora