Capítulo 105: Petulante

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Onze anos atrás

Leandro ficou por mais um dia, e por outro, e por outro. Tudo foi muito rápido e intenso. Os encontros eram diários, em cada intervalo que Sara tivesse, nos horários em que aproveitava para ficar com as amigas. Agora tudo era para ele.

O primeiro beijo foi natural. Nada cinematográfico como fora o primeiro encontro no Vale dos Vagalumes. Aconteceu em uma das despedidas, próximo à casa de Sara. Fora um beijo suave, breve, doce. Ambos queriam mais, mas nenhum dos dois tomou iniciativa. O que aconteceu no encontro seguinte, atrás da escola. Um beijo bem mais intenso, demorado, voraz. E em todos os encontros que se sucederam, especialmente no Vale dos vagalumes, onde tinham mais privacidade. Leandro sabia explorar o corpo dela com as mãos sem tocar suas partes íntimas. Mas além dos beijos apaixonados havia as conversas divertidas, as músicas que ambos cantavam, os momentos deitados na grama olhando um para o outro. Sara não soube dizer exatamente em que momento teve certeza de que era amor, mas eventualmente chegou a esta conclusão. E seus pais também notaram a nítida mudança de comportamento.

— É a oitava ou nona vez que ela canta esta música — observou Fabrizio com expressão soturna olhando para a direção do quarto de Sara.

— É a música favorita dela — Lembrou-o Sandra.

— Não sou idiota, tampouco você, Sandra. Sara está apaixonada por alguém.

— Ela é uma adolescente.

— Já conversamos sobre isso. Você concorda com minha linha de pensamento, não? Quer que ela seja uma adolescente grávida de um qualquer?

— Nem que não seja um qualquer. Não quero minha filha adolescente grávida.

— Então é melhor cortar o mal pela raiz. Descubra quem é. O resto eu faço.

Não foi difícil descobrirem que se tratava de um jovem forasteiro que tocava nas praças. Em uma cidade pequena as pessoas falam umas das outras naturalmente. Mas tratava-se de uma Cobaltini. Sara Cobaltini. Todos sabiam, todos comentavam, por mais discreto que fosse o casal. Fabrizio ficou furioso. Mas não confrontaria a filha. Tinha outros meios.

Leandro estava hospedado em uma pousada bem barata, uma das poucas da cidade. Fabrizio encontrou-a com facilidade.

— Ele passa o dia tocando por aí — informou o dono, que também era recepcionista. — Volta mais tarde.

— Minha filha vem aqui? — perguntou em um tom seco.

— Não, mas... Bem, dizem que eles se vêm com frequência. Se o senhor quiser, expulso ele hoje mesmo.

— Não precisa. Vou esperar ele chegar.

— Fique à vontade.

Fabrizio sentou-se em um sofá da recepção com os olhos fixos no nada, envoltos de sombras. Quase uma hora depois Leandro apareceu com o violão pendurado no braço. Fabrizio não precisou que confirmasse a identidade.

— Deixou minha filha em casa?

— Perdão?

Fabrizio se levantou.

— Vamos falar em particular.

Leandro assentiu, percebendo quem se tratava. Apesar de um súbito nervosismo, sabia que não seria apropriado estender a mão. Apenas caminharam silenciosamente para o quarto. Fabrizio fechou a porta atrás de si assim que os dois entraram.

— Senhor Cobaltini...

— Silêncio, rapaz! Eu falo e você ouve.

— Desculpe, mas mesmo sendo alugada, esta é a minha "casa". Não pode mandar eu me calar em minha casa.

Fabrizio mantinha o olhar firme, sombrio.

— Ainda por cima é insolente. Você tem ideia de com quem está falando?

— O senhor me perdoe mais uma vez, mas o artista aqui sou eu. Tenho certeza de que a cidade toda ouviu falar de mim, mesmo tocando só em praças. O senhor eu só sei que é o pai da Sara.

— Isso. Minha filha — Fabrizio aumentou um pouco o tom de voz, mas o que potencializou foi o tom de ameaça em cada palavra. — Que além de tudo é menor de idade.

— Ela tem quase dezoito, senhor. E garanto que não aconteceu nada entre...

— Escute aqui, moleque — Cobaltini deu um passo para frente, parecendo mais alto do que era. — Se pensar em encostar um dedo em minha filha...

— Eu jamais bateria nela, senhor — Leandro mantinha o tom pacífico, beirando a insolência.

— Sabe muito bem a que me refiro.

— Sou maior de idade, mas não muito mais que sua filha. Eu conheço a lei.

— Não conhece a minha lei.

— Acho que começamos da forma errada. Senhor Cobaltini, eu gosto muito de sua filha, muito mesmo. Eu não tenho más intenções em relação a ela. É por causa dela que ainda estou aqui.

— Pois vai tratar de ir embora. E nunca mais voltar. Quanto você quer?

Leandro encarou-o com incredulidade e deu uma risada.

— Isso parece coisa de novela, senhor. E se fosse uma novela eu seria o mocinho, e como bom galã eu me ofendo e recuso em nome do amor.

— Vinte mil reais. Em dinheiro.

— Estou ainda mais ofendido. Nas novelas o suborno costuma ser bem maior.

— Diga seu preço!

— Eu não quero seu dinheiro, senhor Cobaltini. Quero sua filha. Aproveito que está aqui e peço sua bênção para namorar com ela.

Fabrizio ficou vermelho. A fúria transbordava por suas cavidades oculares. Conteve-se para não avançar no garoto. Respirou fundo. Sua feição foi aos poucos voltando a se tornar sombria — mais do que nunca.

— Eu dei uma chance a você, garoto. Lembre-se disso — deu as costas, abrindo a porta.

— O prazer foi todo meu, senhor — Leandro acenou.

Fabrizio parou onde estava, no meio da porta, mas logo continuou a caminhar, desaparecendo no corredor.

Leandro suspirou fundo. Agora podia relaxar todo o nervosismo que havia escondido. Sabia que agora algo muito ruim o aguardava. Era só questão de tempo.


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Cai fora, brother. E logo!

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