Capítulo 153: Lollapalooza

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Oito anos atrás

Leopoldo Lages parecia ser um divisor de águas na carreira e na vida de Sara e Leandro. Além de tocar e cantar em casas de show maiores e melhores, o valor do cachê do casal também aumentou. O agente musical realmente sabia negociar.

— Acho que "Leandro e Sara" não é muito comercial — aconselhou certa vez. — Precisamos de um nome que pegue rápido, forte e fácil de lembrar, mas que tenha a ver com vocês.

Sara concordou. Cada vez que eram anunciados, eram chamados de uma forma diferente. Sara e Leandro, Leandro e Sara, Casal Mineiro, etc. Realmente sentia falta de um nome para a dupla.

— Que tal "Vagalumes"? — Leandro sugeriu.

— Bom. Trazem luz, é fofo, poético — Leopoldo analisou por um instante. — Mas falta algo...

— Vale dos Vagalumes — sugeriu Sara.

— Hum... — Leopoldo olhava para um ponto qualquer na parede, visualizando algo. — Adorei. Os dois Vs espelhados formando uma ampulheta, e a areia verde-neon, depositada por dois vaga-lumes, cuja luz é da mesma cor, ou seja, a areia é poeira de luz, que representa os sentimentos que vocês passam nas canções, e a ampulheta é o tempo efêmero das emoções...

— Uau — Sara bateu palmas. Ele gostava de logomarcas com iniciais. — Eu consegui imaginar a arte. Muito bom!

— Com vocês "Vale dos Vaga-lumes"!

Os três riram, contentes. Dinheiro e sucesso os aguardavam. Com o passar dos meses, Leandro e Sara largaram seus empregos, se dedicando totalmente à música. Sem cansaço e estresse. Seguindo recomendação de Leopoldo Lages, os dois passavam o dia compondo novas músicas, para conseguirem lançar o primeiro CD.

— Vamos criar um bom material, depois vamos escolher uma música para viralizar no YouTube.

Leopoldo era um homem de visão. Tinha o que faltava para Leandro e Sara alcançarem reconhecimento do grande público. Pouco a pouco Sara foi confiando cada vez mais nele, e entrando de cabeça no negócio.

Foi quando a grande oportunidade veio.

Leopoldo convocou uma reunião em um restaurante. Estava mais eufórico que de costume.

— É isso, meus lindos. A grande chance de conseguir a fama.

— Fala logo.

— Uma palavra para vocês: Lollapalooza!

Leandro e Sara se entreolharam, boquiabertos.

— Lollapalooza?

— Lollapalooza — Leopoldo repetiu pausadamente. — Mostrei um dos vídeos de vocês a um booker. Ele se interessou pelo estilo alternativo de vocês, que aliás, é a alma do Lollapalooza. Assim como eu fiquei impressionado, ele também ficou. E surgiu uma vaga, então...

Sara e Leandro comemoraram alto. Pularam, se abraçaram, atraindo a atenção de todo o restaurante. Leandro deu a volta na mesa e deu um beijo na bochecha de Leopoldo.

— Assim vão expulsar a gente daqui, garoto! — riu. — Sentem, sentem. Preciso ser mais específico.

— Meu Deus, Vagalume... — os olhos de Sara lacrimejavam. — Vamos cantar no Lollapalooza!

— É um sonho, amor! Um sonho!

Leandro estava ainda mais emocionado. Segurava forte a vontade de chorar. Só a ideia de dar a Sara a vida que ela merecia, de realizar seus sonhos, de finalmente conseguirem sucesso, era extasiante. Nem em seus sonhos mais loucos havia cogitado tocar no Lollapalooza. Era uma janela gigantesca para o sucesso, uma vitrine para o mundo.

— Calma, meus pombinhos. Ainda tenho um porém... — o semblante de Leopoldo fez com que o casal fizesse silêncio imediato. Aquele "porém" era apavorante. — Não basta se inscrever e tocar. Bandas famosas são convidadas e pagas, muito bem pagas. Vocês também serão muito bem pagos, mas todo o processo de inscrição, letreiro com o nome da banda, equipamentos, e tudo mais, custa dinheiro.

— Como assim? — Leandro engoliu em seco.

— Deixa eu explicar como funciona. O booker prepara tudo, leva para o promoter, que leva a outro departamento, etc. E para garantir a presença dos artistas iniciantes, inéditos, dos novos talentos, eles requerem que este custo seja pago com antecedência.

— Pago? Como assim, Léo? Não faz sentido algum. Um evento desse porte não cobraria os custos.

— Cobra, mas isso é algo que apenas quem é dos bastidores, como eu, os promoters, empresários, etc, tem acesso. Aqui entre nós, é injusto, mas pensem bem: o cachê de vocês será bem maior, além de todos os outros benefícios, entendem? O que terão de pagar ao booker para adiantar tudo será vinte por cento do cachê. Algo em torno de vinte mil reais.

— Vinte mil reais? — a empolgação deu lugar ao desespero.

— Pense bem, Sara. Vinte mil de cem mil, mais ou menos. Vale muito a pena. Lembrando que minha porcentagem sairá do valor líquido, fora as despesas iniciais.

Leandro olhou para Sara, desolado.

— Onde vamos conseguir tanto dinheiro?

— Podem fazer um empréstimo — sugeriu Leopoldo.

— Sem emprego fixo? Não conseguiria nem um décimo disso.

— Bem, tenho certeza de que darão um jeito. É uma oportunidade única. Participarão da edição desse ano, então vão ter que correr antes que a vaga seja preenchida por outro. Pensem no show acústico de vocês para milhares de pessoas, com o logo do Vale de Vagalumes em neon!

Leopoldo levantou-se, colocando duas notas de cem sobre a mesa.

— Bem, tenho que ir. Têm até segunda para me dar a resposta. Não vou conseguir a vaga por muito tempo.

Os dois ficaram em silêncio alguns segundos. Sara tocou a mão de Leandro, com um sorriso complacente.

— Vamos ter outras oportunidades, Vagalume...

— Oportunidades são únicas — olhou para ela, decidido, com lágrimas nos olhos. — Vamos conseguir esse dinheiro.

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Eita! Será que ele vai conseguir? Como?

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