Capítulo 163: Confiança (parte 5)

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Paula experimentou o vento esvoaçar seus cabelos, acariciar sua pele, zumbir em seus ouvidos. Havia poucas pessoas perto dela, o que deixava o lago à sua frente ainda mais majestoso, colossal. Recolocou os óculos escuros quando ouviu os passos se aproximando por trás.

— Scarlet.

Paula não se virou. Continuou na mesma posição. Iguana parou ao lado dela, com as mãos nos bolsos.

— É um belo lugar — ele disse contemplando o lago.

— É sim. Meus avós costumavam me trazer aqui.

— Sabia que antes de ser Parque da Aclimação esse lugar já foi a primeira sede do zoológico?

— Meu avô me disse.

— Não é o mais discreto dos lugares, mas acredito que fique longe de onde você mora.

— Longe o suficiente.

Iguana sorriu, respirando o ar puro profundamente.

— É um lugar adorável. Mas acredito que não marcou este encontro para admirar a paisagem.

— Não — Paula virou-se para ele, retirando os óculos. — Vim me fazer uma pergunta, pessoalmente.

Iguana estreitou os olhos, tentando decifrá-la.

— Deve ser uma pergunta muito importante.

— Para chegar onde chegou você se tornou um monstro pelo caminho, ou já era um monstro antes?

Iguana sorriu.

— É uma pergunta interessante.

— Responda.

— Eu fiz o que foi preciso. Sempre. Não construí meu império da noite pro dia.

— Então teve que pisar em algumas cabeças pra chegar ao topo?

— Não. Fiz com que se empilhassem voluntariamente para que subisse.

— Voluntariamente — Paula desdenhou.

— Sim. Seja por medo ou por ambição. Nunca obriguei ninguém a me seguir. Eles me respeitam. E temem. O que acaba sendo a mesma coisa. Tudo que tenho, eu conquistei.

— À custa de muito sangue, claro.

— Sim, adubei com sangue meu solo infértil. E consegui fazer crescer uma floresta com os frutos que tenho hoje. Sinto que ficou impressionada com o que aconteceu na chácara.

— Na verdade, não. Esperava isso de você.

— E o que não esperaria de mim?

— Agora, absolutamente nada. Acredito que já cometeu todo tipo de crime.

— Não todo tipo. Alguns eu repudio. Até os criminosos têm de ter ética.

— Estupro?

— Pelo amor de Deus! Estupro é imperdoável.

— Então nunca fez nada parecido.

— Nem eu nem nenhum dos meus homens. Eu torturaria e mataria quem o fizesse.

Paula queria ir direto ao ponto, mas não podia. Tinha de fazer com que ele confessasse por iniciativa própria.

— E se para você não me matar eu oferecesse sexo?

— Já fiz sexo com você.

— Hipoteticamente. Quero saber que tipo de criminoso você realmente é.

— Sexo não é moeda de troca pra mim.

Sara não mentiria. Vamos, confesse!

— Mas... — Iguana pôs a mão no queixo, fixando o olhar no lago. — Há alguns anos, um caloteiro tentou fugir, e meus homens capturaram ele e à namorada. Eu mal lembro do rosto dela, mas me recordo de ser uma garota muito bonita. Eu ia matá-lo, dar o exemplo, mostrar aos meus homens o que acontece com quem tenta me enganar. Foi como consegui respeito, sem exceções. Só que ela ofereceu a virgindade em troca. Fiquei com pena dela. Mas se deixasse os dois irem, logo a notícia se espalharia. Aceitei transar com ela em troca da vida dele.

— Isso é estupro.

— Como é estupro? Ela se ofereceu. Ela voluntariamente trocou a vida do namorado irresponsável pela virgindade dela. Eu não a forcei.

— Foi contra a vontade. Ela estava tentando salvar o namorado que amava.

— Por essa lógica, se eu transo com uma prostituta, eu a estou estuprando? Quantas prostitutas vendem seus corpos por prazer? Elas precisam, e transam com caras nojentos em troca de dinheiro. A jovem com quem transou trocou pela vida do amado. É um pouco mais romântico e trágico que a prostituição, mas ainda é a mesma coisa.

Paula estava entalada. Tinha vontade de socá-lo, mas seria um erro.

— Tenho minha opinião — disse por fim.

— Tenho algo para mostrar a você. Quero levá-la a um lugar.

— Eu tenho que ir, não tenho tempo.

— Eu sou mais ocupado que você, sem sombra de dúvidas, e estou aqui. Prometo que vai valer a pena. Não se preocupe, não envolve sexo.

— Não era uma preocupação. Mas realmente não estou no clima, e estou naqueles dias.

— Não que fosse um problema pra mim — falou com um sorriso. — Mas considere nossa despedida. Se depois disso nunca mais quiser me ver, eu vou desaparecer.

Não vai, Paula! Não vai!

— Tudo bem — disse contra seus instintos.

— Ótimo. Venha comigo.

Paula teve um terrível pressentimento, mas resolveu seguir Iguana, mesmo sabendo que poderia ser seu fim.

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O que acham que vai acontecer?

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