— Você veio!
— Oi, mãe — disse Japa com um tom seco.
Nayuri deixou-se abraçar pela mãe, mas não retribuiu o afeto. Ficou imóvel, esperando que ela se afastasse. A mulher pareceu chocada com a falta de reciprocidade. Não parecia em nada com Nayuri, já que tinha cabelos loiros e olhos claros. Estava abatida, com olheiras, olhos vermelhos, magra, com manchas arroxeadas pelo corpo.
— Entre, filha, entre — a mulher abriu passagem.
Nayuri entrou, com o semblante duro.
— O que são essas manchas?
— É do câncer...
— Ah...
A casa estava praticamente igual a quando a deixou, anos atrás. Apenas a posição dos móveis havia mudado, além de um ou outro item de decoração. Os olhos da mulher estavam úmidos. Sua emoção era quase impossível de conter.
— Ha-eun, sente-se...
— É Nayuri.
— Nayuri?
— Mudei o nome.
— Como assim, filha?
— Nunca gostei de "Ha-eun". Tinha sempre que soletrar quando falava para alguém. Sem falar nas piadinhas na escola. Gostava mais quando me chamavam de Japa, por isso escolhi um nome japonês menos estranho aos brasileiros.
— Meu nome continua Aurora — a mulher sorriu, deixando as lágrimas escaparem.
— É. Continua um lindo nome. Dona Aurora.
Aurora sentou-se, apontando a mão aberta para o espaço vazio no sofá.
— Serei breve — Japa disse ao se sentar, a certa distância da mãe.
— Filha, eu senti tanto sua falta...
— Eu não vou ficar, mãe.
— Eu sei que não tenho o direito de pedir nada, mas...
— E não tem.
— Ha-eun...
— É Nayuri.
— Foi seu pai, foi ele quem me obrigou a tratar você diferente...
— Como lixo.
— Eu sempre fui contra, mas...
— Mas não fez nada.
— Escute...
— Escute você — enquanto falava, o queixo tremia e lágrimas dolorosas começaram a escapar. — Eu sou uma adulta problemática e traumatizada pelos meus próprios pais. Tenho pesadelos todas as noites por causa de vocês. Eu fugi para tentar ter uma vida, mas o estrago que vocês causaram foi grande demais. E agora que todos abandonaram você, decidiu me querer de volta?
— Eu estou morrendo, filha... — Aurora se entregou ao pranto, segurando as mãos de Nayuri. — Não me deixe morrer sozinha...
Nayuri retraiu as mãos e se levantou.
— Há coisas piores que estar sozinho, mas geralmente leva décadas para entender isso. E quase sempre quando você entende, é tarde demais. E não há nada pior que ser tarde demais.
— Filha...
— Ainda bem que descobri antes que fosse tarde demais. Eu fiquei sozinha na companhia de minha própria família. Existe coisa pior? Aprendi a lição. É a sua vez, dona Aurora. Ainda há tempo — deu as costas, caminhando até a porta.
— Eu te amo, Ha-eun!
— Adeus, dona Aurora.
Nayuri saiu, fechando a porta atrás de si, chorando enquanto ouvia o choro da mãe cada vez mais distante. Destravou o carro, mas antes de entrar no veículo, suspirou fundo. Olhou ao redor. Estava livre. Muito mais do que quando fugira daquela casa. Agora sua mente estava livre. Podia ser quem quisesse. Sua única fraqueza estava de desmanchando miseravelmente em lágrimas logo atrás.
Entrou no carro. Bloqueou o número da irmã e da mãe.
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O que acham da atitude de Japa?
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Clube Proibido [completo]
Mystery / ThrillerAté onde vão os limites da luxúria e do desejo? Para o Clube, eles não existem. Sem tabus, sem pudores, sem vergonha... Jovens deliciosos, irresistíveis, mestres na arte da sedução, prontos para realizar as mais impensáveis fantasias de estranhos. ...