Capítulo 16: Responsáveis

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— No que acha que ela está se metendo? — a voz de Miranda era preocupada, sentada em um banco de madeira no quintal arborizado e murado, diante de seu marido.

— Não faço ideia, minha velha — admitiu Jacó dando uma tragada em seu baseado, logo depois expirando a fumaça. — Mas precisamos falar com nossa menina. E sério.

— Será que somos maus exemplos pra ela? Olha só, Jacó, você é um ancião maconheiro. Eu sou uma velha bobona. Mimamos demais a Paula.

— Pra compensar o que os pais dela fizeram ela sofrer — retrucou com mágoa na voz.

— Não quero falar disso — ela respirou fundo. — Tadinha.

— Ela é nossa responsabilidade, Miranda. Por mais que seja adulta, nossa menina ainda está sob nossos cuidados. Se ela está se metendo em encrenca, temos ao menos o direto de saber. Eu sou conhecedor do mundo das encrencas, talvez eu possa ajudar.

— Você é um velho demente. E maconheiro. Olha só essas tatuagens tão enrugadas quanto o seu juízo!

Jacó tragava enquanto ela falava. Ele riu e tossiu.

— Mas você ainda tem tesão no velhote aqui, não tem?

— Quer mesmo falar sobre tesão, seu broxa?

Os dois riram.

— Somos mesmo dois péssimos exemplos pra Paulinha — reconheceu Jacó.

Miranda aproximou-se mais do marido, olhando ao redor, como se fosse possível alguém ouvi-los e sussurrou:

— Ela, que vive reclamando de grana aparece com uma TV gigante e um aspirador de pó novinho. Depois, com um carrão caro. Meu velho... Será que nossa netinha...

— Programa? — proferiu incrédulo. — Nossa neta é menina esperta. Bonita e esperta. Ela não ia se envolver com isso. Ela não precisa disso. Não, não, não. Eu voto que ela tem um namorado secreto. Por isso ela terminou com o coitado chorão.

— Mas por que ela namoraria em segredo?

— Talvez ele seja casado! — falou palavra por palavra de forma dramática, como se estivesse fazendo uma revelação.

— Faz sentido. Um casado rico.

— Isso mesmo.

— Pronto. Você fala com ela.

— Eu? Por que eu?

— Você é o homem da casa.

— Na terceira idade a masculinidade não conta mais.

— Não conta mesmo — fez uma careta apontando com o queixo para o meio das pernas de Jacó.

Os dois riram.

— Me passa esse negócio aqui, que eu quero dormir relaxada — Miranda estendeu a mão para pegar o cigarro de maconha e deu um trago.

— Muito bonito!

A voz repentina de Paula, em pé no solado da porta da cozinha fez Miranda tossir, derrubando o cigarro, enquanto abanava a fumaça com as mãos.

— Ela está fumando sozinha! — Jacó apontou para Miranda.

— Seu velho cretino! — Miranda deu um tapinha no braço dele.

— Esse troço vai matar vocês! — disse Paula com as mãos na cintura, séria, como se falasse com duas crianças traquinas.

— E pra onde minha princesa vai tão linda?

Paula estava realmente deslumbrante. Usava maquiagem, o cabelo amarrado em rabo de cavalo; um vestido preto decotado, colado ao corpo, e salto alto, além de uma gargantilha de ouro — presente de Jacó — e pulseiras de prata, da cor das argolas em suas orelhas.

— Uma festa. Não sei se volto hoje ainda. Podem dormir sossegados. Estou de carro agora.

— Sua avó precisa conversar com você depois — disse Jacó seriamente.

— Seu avô e sua avó — corrigiu Miranda com um olhar de desaprovação para ele. Então virou para a neta, com um sorriso terno: — Divirta-se, meu amor.

Paula andou até eles, beijou a bochecha dos dois.

— Juízo — disse ela virando-se.

— Não deveríamos ser nós a dizer isso?

Paula riu. Sumiu cozinha adentro.

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