Assim que chegou da faculdade, Japa fez o que sempre fazia: colocou o som bem alto, deu atenção a Yoko e em seguida foi tomar um banho demorado. Tinha conseguido realizar dois desafios no mesmo dia e o próximo estava encaminhado para o dia seguinte. Estava indo bem, muito bem, sabia. Ao ouvir a campainha, apressou-se em se enrolar na toalha para ir atender. Ao abrir a porta, sua surpresa não poderia ser maior.
— Muito ocupada? — perguntou Devassa com uma sacola na mão e a bolsa no ombro.
— Não... — balbuciou.
— Trouxe um mimo pra Yoko — ergueu a sacola de papel. — Posso entrar?
Nayuri ficou meio segundo completamente sem reação, tentando encontrar as câmeras da pegadinha. Mas apressou-se em abrir caminho:
— Pode entrar, claro.
Ao ver Sara, Yoko imediatamente correu para se esfregar nela, tal qual fazia quando Japa chegava em casa.
— Também senti sua falta, pretinha — disse a loira se abaixando para passar a mão na gata. — Olha o que eu trouxe pra você — abriu a sacola, tirando de dentro alguns biscoitos crocantes. Yoko prontamente avançou sobre o primeiro que ela ofereceu.
— Ela adora essa marca — Japa comentou, ainda atônita com a inesperada visita.
— Não se preocupe, não está envenenado — Sara disse pegando um dos biscoitos e jogando na boca, mastigando em seguida.
Japa abriu um sorriso.
— Eu sempre faço isso. Se eu gostar dou pra ela. Se não, provavelmente ela vai detestar.
Sara se levantou, estendendo a sacola para Nayuri, recebeu prontamente.
— Obrigada.
— De nada.
Após uma pausa constrangedora em que Japa aguardava Sara dizer o real motivo da visita, esta finalmente falou:
— Pode ir se vestir, se quiser. Não vou fugir com a gata. Prometo — beijou os dedos cruzados.
— Quem é você e o que fez com a Devassa que eu conheço?
Sara riu.
— Nem sempre sou um monstro. Às vezes eu durmo.
Japa riu.
— Tá, eu vou me vestir. Volto em um instante.
— Sem pressa.
— Quer algo pra comer ou beber?
— Quando você voltar.
— Beleza.
Japa saiu, meio desengonçada, em direção ao próprio quarto. Vestiu-se rapidamente, pensando freneticamente no que poderia significar aquela visita. Penteou o cabelo enquanto voltava para a sala.
— Uísque?
— Pode ser.
Japa foi até a cozinha, que muito lembrava um Pub. Serviu dois copos. Sentou-se na poltrona perpendicular ao sofá em que Devassa estava sentada. Não houve brinde. O clima de constrangimento ainda pairava.
— Acho que quase todos os membros moram sozinhos — refletiu Sara. — Parece ser um dos requisitos.
— Eu tenho a Yoko.
— Pelo menos isso.
— Você tem uma filha.
— Não conta. Não vive comigo.
— Deve ser horrível.
— A gente acostuma — deu um sorriso triste. Estava claro que não havia se acostumado.
— Ao menos ela é bem tratada?
— Eu me certifico disso.
— Eu te admiro, sabia?
Sara olhou-a nos olhos.
— Por quê?
— Você é durona, uma máquina. Não baixa a cabeça pra ninguém. É tipo aquelas anti-heroínas, ou aquelas vilãs bem massa, entende?
Sara riu como se ouvisse um comentário engraçado de uma criança.
— E tenta esconder que tem um bom coração, mas tem — Japa continuou.
— Eu não entendo você, menina — Sara estreitou os olhos encarando-a como se a analisasse. — Você devia me odiar. Pâmela acha que vai se vingar em algum momento, mas eu não tenho pressentimento ruim algum com relação a você.
— Eu te odiei quando achei que você fez aquilo com a Yoko. Mas não consigo guardar rancor. Eu tento aprender. E graças a você estou indo bem. Depois de tudo que você me disse, sabe?
— Sua bondade me incomoda. É como um cãozinho que você bate mas que logo vem com o rabinho balançando pra você.
— Vou tomar isso como elogio... eu acho.
Sara riu.
— Você tem que admitir.
— Adoro cãezinhos — Japa disse fazendo uma careta infantil de fofura.
Japa foi buscar a garrafa de uísque. Devassa bebeu o resto que tinha e deixou que a outra preenchesse o copo até a metade.
— Sobre ser "durona" — Sara começou. —, é essencial em nossa "profissão" — fez as aspas com os dedos. — Nos envolvemos com estranhos o tempo todo. E querendo ou não somos vistas como mais vulneráveis. Apesar de o Clube garantir que nossos alvos são limpos, eu sempre tomo minhas precauções. E para não acontecer o que aconteceu com o Negão, eu sempre carrego isso — Sara abriu a bolsa, tirando de dentro uma pequena pistola preta.
Japa gelou ao ver a arma.
— É uma Taurus. Pequena, mas letal. Pode pegar — Sara ofereceu sobre a mão espalmada.
— Está carregada? — Japa recebeu-a, maravilhada e temerosa ao mesmo tempo.
— Claro. Não tem utilidade se não estiver.
— Poderia usar só para intimidar?
— Desse tamaninho é capaz de acharem que é de brinquedo. A função é uma só: atirar quando necessário.
Japa manuseou-a por alguns segundos, então apontou-a para Sara, com uma expressão de triunfo.
— Será que funciona mesmo?
— Não brinque com fogo, menina — Sara disse, impassível.
— Aff — Japa segurou a pistola pelo pequeno cano e entregou-a pelo cabo. — Não tem graça tentar intimidar você. Não tem medo de nada.
— Tenho medo de muitas coisas — guardou a pistola na bolsa.
— Nem imagino você com medo.
— É o maior triunfo que alguém pode ter. Parecer invencível.
A conversa continuou, logo entrando no âmbito família. Japa contou sua história, sobre a traição do pai até entrar para o Clube.
— Temos mais em comum do que eu imaginava, então — Sara observou. — Ambas temos pais estrangeiros e mães brasileiras. Nossos pais são babacas e nos traumatizaram de alguma forma.
— Não sei muito sobre você. Tinha muita curiosidade de conhecer sua história, Devassa.
— Outro dia, talvez. Tenho que ir — levantou-se.
— Já?
— Tenho compromisso. Yoko!
A gata caminhou até a loira e esfregou-se em sua perna. Sara se agachou para retribuir o carinho.
— Tchau, gatinha — e se levantando. — Obrigada por me receber.
— Seja bem vinda.
Japa acompanhou-a até a porta e viu-a andar até o elevador. Fechou a porta, sorrindo. Sentiu-se realmente bem com a visita. Especial, até.
Ficou então pensando na pistola.
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Clube Proibido [completo]
Misterio / SuspensoAté onde vão os limites da luxúria e do desejo? Para o Clube, eles não existem. Sem tabus, sem pudores, sem vergonha... Jovens deliciosos, irresistíveis, mestres na arte da sedução, prontos para realizar as mais impensáveis fantasias de estranhos. ...